substantivo
Tradicionalmente designada por substantivo (do latim "substantivus"), esta classe de palavras recebeu a designação de nome em semântica moderna (J. Lyons, 1977). O substantivo é uma categoria gramatical autónoma que exprime a realidade objetiva e subjetiva, ou seja, designa os seres, entidades e objetos que compõem o mundo que nos rodeia.
É a classe de palavras responsável por nomear, designar, referir a realidade. A propriedade responsável pela "substantivização" do substantivo ou de outra palavra originariamente não pertencente à classe do nome é a sua determinação pelo artigo. Efetivamente, é o artigo/determinante que legitima a categoria nome e que transforma em nomes outras classes de palavras, como verbos ("o acordar"; "o amanhecer"), adjetivos ("o dourado daquele quadro"), advérbios ("o amanhã", "o sim e o não"), preposições ("os prós e os contras"), etc. Além do determinante, o adjetivo é outra classe gramatical que acompanha o nome, atribuindo-lhe qualidades ou propriedades e relações.
Morfologicamente, os substantivos podem apresentar flexão em género e em número, obrigando os determinantes e adjetivos que dependem de si a concordarem consigo também em género (o chapéu castanho/ a saia castanha) e em número (os chapéus castanhos/ as saias castanhas). A realização da oposição masculino/feminino pode ser feita por meios:
• Morfológicos (menino/menina; gato/gata; coelho/coelha);
• Derivacionais (galo/galinha; imperador/imperatriz; barão/baronesa; leão/leoa);
• Lexicais (touro/vaca; homem/mulher; pai/mãe; cão/cadela);
• Sintáticos (o estilista/ a estilista; o presidente/ a presidente; baleia-macho/baleia-fêmea; homempolícia/mulherpolícia).
A distinção singular/plural pode também ser feita através de processos:
• Morfológicos (gato/gatos; homem/homens; mulher/mulheres);
• Derivacionais (oficial/oficiais; pão/pães; civilização/civilizações).
Ainda no que respeita à sua caracterização morfológica, os nomes podem variar em grau: grau normal (casa); grau aumentativo (casarão); e grau diminutivo (casinha, casita), fenómeno que as gramáticas tradicionais costumam integrar no processo de flexão, ao passo que as gramáticas funcionalistas integram no processo da derivação.
Os nomes, enquanto núcleos de grupos nominais, podem exercer funções sintáticas de:
Sujeito - Fernando nunca apareceu.
Predicativo do Sujeito - Ele era um cavalheiro.
Predicativo do Objeto Direto - Toda a gente o achava um modelo.
Predicativo do Objeto Indireto - Costumava chamar-lhe irmão.
Objeto Direto - Vou pôr umas flores na jarra.
Objeto Indireto - O país obedeceu à ordem.
Aposto - O atleta, vencedor do campeonato, nunca mais voltou a jogar.
Vocativo - Primo, venha jantar connosco.
Além de núcleos dos sintagmas nominais os nomes entram na composição dos grupos preposicionais, contribuindo para o exercício de funções adverbiais (ex: Acabo de chegar de Braga).
No que respeita à sua referencialidade, a gramática tradicional costuma classificar os substantivos em:
• concretos (designam os seres propriamente ditos, as entidades materiais; ex: casa, cão, cidade, estante) e abstratos (designam noções, qualidades, estados, entidades não palpáveis, psicológicas; ex: amor, paz, doença, beleza)
• próprios (designam pessoas ou coisas bem individualizadas; ex: Timor, Lisboa, Pedro) e comuns (designam todos os seres de uma espécie; ex: gato, mesa, lápis)
• coletivos (designam no singular um conjunto de seres da mesma espécie; ex: ninhada, elenco, coro, legião)
Esta classificação tem levantado algumas dúvidas, especificamente em linguística cognitiva, que questiona aspetos como os seguintes:
• há nomes próprios que se confundem com nomes comuns "os Velhos do Restelo" [= pessoas conservadoras]
• nem sempre é nítida a separação entre nomes concretos e abstratos, porque é difícil conceber uma forma sem o objeto a que se associa (o nome abstrato frio pode ser entendido como sensação física, real, mensurável, e nessa qualidade é concreto)
A semântica generativista decompôs os substantivos em semas, o que contribuiu para outras classificações:
• humano/ não-humano (ex: escritor/ papel)
• animado/ não-animado (ex: cantor/ som)
• contável (ou numerável, discreto, numerativo)/ não contável (denso, massivo, contínuo) (ex: rio/água)
Em Mário Vilela (1999. Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra: Almedina: 182-183), faz-se uma proposta de classificação semântica dos nomes baseada nos princípios da linguística descritiva de pendor cognitivista.
NOMES
1. próprios
seres vivos: o Luís, o Rui
designações geográficas: Porto, Portugal
2. de espécie
concretos contáveis:
i) vivos: estudante, professor
ii) não-vivos: janela, porta
concretos coletivos:
iii) vivos: rebanho, enxame
iv) não-vivos: frota, feixe
v) únicos: terra, lua, sol
vi) nomes de matérias-primas: cobre, sal, areia, madeira, ouro
abstratos: humanidade, burguesia, amor, lealdade, calor
O autor acrescenta alguns dados de natureza morfológica que apoiam a classificação semântica:
• os nomes próprios apresentam limitações em relação ao uso do artigo (Camões nasceu em Lisboa/ * o Camões nasceu em Lisboa), bem como em relação à flexão de número (Portugal/ *Portugais)
• os nomes concretos admitem regra geral todas as flexões típicas dos substantivos
• os nomes abstratos não são contáveis (uma humanidade/ *duas humanidades) e apresentam restrições de flexão no plural (humanidade/ *humanidades)
Outros autores propõem outras classificações e subdivisões para os nomes em português, com base em critérios semânticos e/ou morfológicos (como Maria Helena Moura Neves. 1999. Gramática de Usos do Português. S. Paulo:UNESP), o que demonstra que as tipologias para os substantivos não são matéria pacífica e que se encontram em permanente atualização.
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