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Conceito muito polissémico, apesar da definição corrente e mais divulgada que se refere a texto como "todo o discurso fixado pela escrita" (Ricœur, 1986). Desde a origem, com Quintiliano, texto era definido pela sua unidade e pela sua abertura a outros textos, ideia que viria a ser retomada por G. Genette (1979, 1982, 1987) sob a forma de transtextualidade que teria dado origem a outros lexemas derivados: paratexto (texto que contextualiza o texto de partida), metatexto (comentários acerca do texto de partida), intertexto (citação ou alusão explícita a outro texto), hipertexto (texto que é retomado, paródia ou pastiche), arquitexto (géneros de discurso, como a descrição, a narração ou géneros literários, como a epopeia, o romance cavaleiresco, etc.).
Em pragmática e análise do discurso, texto é um termo que concorre com discurso. A tradição anglo-saxónica não distingue texto de discurso, perspetiva aliás adotada por alguns dos principais investigadores em pragmática do português: Joaquim Fonseca, que se refere à "Linguística do Texto/Discurso" e Maria Aldina Marques, que prefere o termo discurso para se referir indiferentemente a texto e a discurso.
Não é porém esta a tendência geral. Muitos autores distinguem texto de discurso baseados respetivamente no suporte escrito ou oral em que cada um dos termos se fixa, pelo que no texto seriam privilegiados os aspetos do cotexto (vizinhança linguística) traduzidos em coesão (plano sintático de ordenação linear dos elementos linguísticos; processos de sequencialização que asseguram uma ligação entre os elementos linguísticos que ocorrem na superfície textual) e coerência (um texto é coerente se os esquemas cognitivos ativados pelas expressões linguísticas forem conformes àquilo que sabemos ser: a estrutura dos estados, processos e eventos; as relações lógicas entre estado de coisas; as propriedades características dos objetos de um mundo "normal"), ao passo que no discurso, pela sua dimensão interativa, seriam privilegiados os aspetos do contexto (participantes, espaço, tempo, objetivo comunicativo, etc.).
Uma das primeiras reflexões sobre o texto foi feita por M. A. K. Halliday (1976): "Um texto não é algo maior que uma frase; é algo que difere da frase pela sua natureza. Um texto é encarado como uma unidade semântica: uma unidade não de forma mas de significado. Um texto não é um conjunto de frases, é realizado e codificado por frases". Esta conceção de texto como unidade semântica diferente da frase constitui uma novidade em relação às conceções tradicionais que entendiam o texto como "sequência bem formada de frases ligadas progressivamente para um fim" (D. Slakta, 1985). Halliday entende ainda o texto como uma unidade inserido dentro de uma situação ou contexto, o que representa já uma abordagem pragmática da dimensão textual. Halliday (1976) define ainda texto em função da sua textualidade: "um texto tem textualidade e isso é o que o distingue de outra coisa que não é um texto". A textualidade de um texto reúne as seguintes propriedades:
I) INTENCIONALIDADE: propriedade que se refere à intenção do locutor em realizar um texto coeso e coerente de acordo com um determinado objetivo.
II) ACEITABILIDADE: atitude do alocutário que consiste em entender e interpretar um texto como coeso e coerente.
III) SITUACIONALIDADE: designa os fatores que fazem com que um texto seja relevante para uma dada situação. Caracteriza os elementos que constituem o contexto.
IV) INTERTEXTUALIDADE: designa a relação entre um determinado texto e outros textos relevantes. Relaciona um texto concreto com a memória textual coletiva, a memória de um grupo ou de um indivíduo específico.
V) INFORMATIVIDADE: o grau de informatividade é tanto maior quanto mais inesperada for uma ocorrência textual. Um texto com baixo grau de informatividade tem efeitos negativos sobre a atenção do leitor/ouvinte.
VI) CONECTIVIDADE: interdependência semântica de duas ocorrências textuais. Resulta de dois processos: Coesão ou Conectividade Sequencial e Coerência ou Conectividade Conceptual.
Mais do que uma unidade linguística composta por propriedades de sequencialidade e textualidade, o texto é uma dimensão pragmática, ou configuracional, heterogénea (composta por sequências de outros textos), que é constituída por três componentes: uma componente semântico-referencial, uma componente enunciativa e uma orientação argumentativa (cada texto exprime um macro-ato de linguagem) (J. M. Adam, 1990).
Ouvimos falar de textos narrativos, descritivos, argumentativos, etc., mas a verdade é que é muito difícil encontrar um texto que seja apenas de um tipo. Esta consciencialização de que cada texto é uma realidade muito heterogénea e não uma unidade bem formada e uniforme tem aberto caminho para os recentes desenvolvimentos de tipologias textuais, sendo a proposta de J. M. Adam (1992, 1999) a mais consensual (teoria baseada nos pressupostos cognitivistas da teoria dos protótipos; os falantes possuem protótipos de sequências textuais que reconhecem sempre que surjam num texto; isso explica que sejamos capazes de reconhecer uma receita de cozinha, um conto, um manual de instruções, etc.). Adam descreve o funcionamento de cinco sequências prototípicas que são à partida suficientes para a organização geral dos textos: a sequência narrativa, a sequência descritiva, a sequência argumentativa, a sequência explicativa e a sequência dialogal - J. M. Adam (1992, 1999).
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Como referenciar
Porto Editora – texto na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-07 11:41:10]. Disponível em
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