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Tintim
Aventuras de Tintim Em março de 1983 com o falecimento de Hergé, ficou por concluir o último e inacabado álbum, Tintin et l'Alph Art que, por sua vontade, nunca foi terminado nem a série continuada, decisão respeitada pela viúva do autor. A morte de Hergé foi notícia de destaque nos principais jornais, revistas e noticiários do continente europeu, sendo um nome incontornável da História da banda desenhada mundial.
Revista Tintin
No caso da versão portuguesa, esta teve a particularidade de contar com material não só da revista Tintin belga, mas também das rivais Spirou e Pilote.
Produtos derivados Da impressionante bibliografia editada sobre Hergé e Tintim, entre biografias, entrevistas, dicionários, catálogos de exposições, guias de viagem, livros didáticos, sobre os métodos de trabalho, as personagens ou assuntos específicos, merecem destaque os números especiais que as prestigiadas revistas Geo (2001) e Science & Vie (2002) dedicaram a Tintim.
Tintim em Portugal
Personagem da banda desenhada conhecido como o repórter mais famoso do mundo, Tintin (Tintim) foi criado por Hergé, sendo a sua primeira aventura Tintin au Pays des Sovietes (Tintim no País dos Sovietes), que surgiu a 10 de janeiro de 1929 no "Petit Vingtième", suplemento do jornal belga Le Vingtième Siècle. Dessa história saiu o seu primeiro álbum, com o mesmo título, que foi editado no ano seguinte pelo jornal, sendo o único que, mais tarde, não foi redesenhado nem colorido, encontrando-se na sua versão original a preto e branco. Desde o início, Tintim tem em Milu, um fox-terrier de pelo branco, o seu inseparável e alegre companheiro, que o ajuda em diversas situações.
Dado o imediato sucesso despertado junto dos leitores do jornal, Tintim foi depois "enviado" ao Congo (1930) e à América (1931), ficando patente desde logo o seu espírito altruísta e voluntarioso, que marcará a série. Tal como nos Sovietes, os álbuns seguintes também foram editados pelo jornal, facto pouco habitual à época.
Em 1934 a prestigiada Casterman passou a editar os álbuns de Tintim, tendo nesse mesmo ano Hergé conhecido um jovem chinês estudante de Belas Artes, Tchang Tchong-Jen, que o ajudou a preparar a próxima aventura, Le Lotus Bleu (O Lótus Azul), de 1934, passada precisamente na China. Foi a partir daqui que Hergé passou a documentar-se com muito maior rigor para a preparação das suas histórias, tendo Tchang sido imortalizado como amigo de Tintim, não só no Lótus como em Tintin au Tibet (Tintim no Tibete), editado anos mais tarde (1958).
Com a ocupação da Bélgica em 1940 pelas tropas nazis, o jornal Le Vingtième Siècle, tal como outros, foi encerrado, interrompendo deste modo a publicação de Tintin au Pays de l'Or Noir (Tintim no País do Ouro Negro), história que só seria retomada oito anos mais tarde (1948).
Durante o período da ocupação, que durou até 1944, Tintim foi sendo publicado no jornal Le Soir, como sucedeu com Le Crabe aux Pinces d'Or (O Caranguejo das Tenazes de Ouro), de 1940, episódio que marcou o aparecimento do Capitão Haddock, personagem que veio enriquecer profundamente o universo tintinesco, pelo seu feitio impulsivo e vocabulário truculento, num claro contraponto ao herói.
Em 1942 a Casterman sensibilizou Hergé a fazer as suas histórias num formato fixo de 62 pranchas (páginas de BD) e a cores. Uma vez que várias histórias já tinham sido realizadas desde 1929, foram progressivamente redesenhadas e coloridas, daí a existência de diferentes versões em muitos dos títulos que compõe a coleção e razão pela qual Hergé recrutou vários colaboradores, como Edgar P. Jacobs.
Em 1946 surgiu a revista Tintin que reforçou a popularidade do herói e possibilitou que outros autores se afirmassem decisivamente no mercado editorial europeu, aumentando a visibilidade da BD.
Três duplas aventuras constituirão episódios marcantes na série: Le Secret de La Licorne (O Segredo do Licorne) e Le Trésor de Rackaham le Rouge (O Tesouro de Rackham o Terrível), entre 1942 e 1943, que levará Tintim na caça ao tesouro do antepassado do Capitão Haddock e onde aparece o carismático Professor Girassol; Les 7 Boules de Cristal (As 7 Bolas de Cristal) e Le Temple du Soleil (O Templo do Sol), entre 1943 e 1948, numa viagem à fascinante civilização Inca que secretamente ainda existe escondida nos Andes; e Objectif Lune (Rumo à Lua) e On A Marché sur la Lune (Explorando a Lua), entre 1950 e 1954, a viagem à Lua que antecipou a Missão Apollo 11 em 16 anos (1969).
Les Bijoux de la Castafiore (As Joias de Castafiore), de 1961 a 1962, corresponde ao episódio mais "caseiro" da série, decorrendo no Castelo de Moulinsart que, com o decorrer do tempo, se tornará no espaço de referência do universo de Tintim. A história é protagonizada por uma série de situações delirantes entre o Capitão Haddock, Castafiore, Irma a sua camareira, Igor o seu pianista e uma série de personagens secundárias, como o mordomo Nestor e o vendedor de seguros Serafim Lampião, sem esquecer a surdez do Professor Girassol ou as trapalhadas dos detetives Dupond e Dupont.
Editado em cerca de 60 línguas e dialetos e com perto de 200 milhões de álbuns vendidos em todo o Mundo, Tintim tornou-se numa das mais emblemáticas personagens da BD de todos os tempos e um dos ícones artísticos do século XX, mantendo as suas histórias uma grande atualidade.
Revista Tintin
Revista belga de banda desenhada que surgiu a 26 de setembro de 1946, tendo sido publicada pelas Éditions du Lombard. Impôs-se pela qualidade e popularidade das diferentes séries que publicou, em histórias de continuação, cuja "duração" estava condicionada à votação dos leitores, "jovens dos 7 aos 77 anos" como referia a sua divisa. Grande parte das histórias publicadas foram reunidas em coleções de álbuns, que tornaram o catálogo da Lombard um dos mais prestigiados da BD franco-belga.
Sob a direção artística de Hergé, que passou a dispor com uma revista onde publicava as histórias de Tintim e das suas outras criações, contou com Edgar P. Jacobs (Blake e Mortimer), Paul Cuvelier (Corentin) e Jacques Laudy (BD histórica) que formaram o seu núcleo fundador. Muitos outros grandes nomes da BD europeia se lhes juntaram nas décadas seguintes, com realce para: Jacques Martin (Alix e Lefranc), Willy Vandersteen (Bob e Bobette), Bob de Moor (Barelli, Cori e Balthazar), François Craenhals (Cavaleiro Ardente), Tibet (Chick Bill e Ric Hochet, este com Andre-Paul Duchâteaux), Jean Graton (Michel Vaillant), René Macherot (Clorofila), Liliane e Fred Funcken (Doc Silver e Harald), Albert Weinberg (Dan Cooper), Andre Franquin (Modeste e Pompon), Dino Attanasio (Spaghetti), René Goscinny e Albert Uderzo (Humpá-Pá), William Vance (Howard Flynn, com Yves Duval, Ringo, Bruno Brazil, com Greg, e Bob Morane, com Henri Vernes), Hermann (Bernard Prince e Comanche, ambas com Greg), Dupa (Cubitus), Cosey (Jonathan), Derib (Buddy Longway), Hugo Pratt (Corto Maltese), Will Eisner (Spirit), Grzegorz Rosinski e Jean Van Hamme (Thorgal), entre muitos outros.
O último número da revista publicou-se a 29 de novembro de 1988, sucedendo-lhe o efémero Tintin Reporter, da editora Yeti Presse, que surgiu entre 9 de dezembro de 1988 e 28 de julho de 1989, ao longo de 34 números.
Em 1989 a Lombard continuou a mesma fórmula de revista semanal de BD com histórias de continuação, usando o nome de Hello Bédé, periódico que se publicou até 1993, durante 197 números.
Em França a revista Tintin publicou-se a partir de 1948 (até 1973) utilizando o mesmo material da revista belga, sendo a Dargaud a sua editora. Registaram-se duas tentativas de continuação desta revista em França: Tintin (L'Hebdoptimiste), publicada pela Dargaud entre 1973 e 1975, e Tintin (Nouveau), entre 1975 e 1978, que transitou por diferentes editoras. Em paralelo, a Dargaud publicou, trimestralmente, Tintin Sélection entre 1968 e 1977, que foi continuada ainda na fórmula trimestral por Tintin Spécial (Super), publicada entre 1978 e 1987, que teve diversos editores.
Para além das versões francófonas, a Tintin teve também uma versão flamenga (Kuifje, que acompanhou a versão belga desde 1946), portuguesa (1968-1982), espanhola (1967-1969 e 1981), alemã, grega, turca, egípcia, entre outras.
Produtos derivados
Dada a rápida popularização da série, o nome Tintim começou a ser associado aos mais diversos produtos em termos de campanhas publicitárias, desde colchões a automóveis, passando por vestuário e gelados. Existe uma rede de lojas Tintin em cidades como Bruxelas, Paris, Londres e Tóquio, que vendem todo o tipo de utensílios, roupa e livros associados a Tintim e ao seu autor.
Em 1960 a Belvision, estúdio de animação fundado por Raymond Leblanc, proprietário da Lombard, produziu sete telefilmes das aventuras de Tintim em desenhos animados, adaptados por Greg.
O aparecimento de Tintim no cinema acontece em 1961, com Le Mystère de la Toison d'Or, que contou com Jean-Pierre Talbot no papel principal e Georges Wilson como capitão Haddock, num filme realizado por Jean-Jacques Vierne. Em 1964 estreou um segundo filme, Tintin et les Oranges Bleus, de novo com Jean-Pierre Talbot no papel principal, agora com Jean Bouise como capitão sob realização de Philippe Condroyer.
Tintin et le Temple du Soleil corresponderá à adaptação da dupla aventura As 7 Bolas de Cristal e O Templo do Sol, num filme animado de longa duração (90 minutos), estreado em 1969 e realizado pela Belvision, sob adaptação de Greg, que em 1972 foi também o responsável pelo argumento original de Tintin et le Lac aux Requins (O Lago dos Tubarões), outra longa metragem (80 minutos) da Belvision, realizada por José Dutillieu. Nos anos 90 do século XX surgiu uma nova série de desenhos animados divulgados internacionalmente na televisão, em VHS e em DVD.
Tintim em Portugal
A primeira aparição de Tintim em Portugal aconteceu por intermédio da revista O Papagaio (n.º 53, de 16 de abril de 1936), e os principais protagonistas chamavam-se então Tim-Tim, Capitão Rosa e o cão Rom-Rom (Tintim, Capitão Haddock e Milu, respetivamente). Estas histórias foram coloridas por iniciativa do editor português que, deste modo, "antecipou" a decisão de Hergé de começar a colorir as suas bandas desenhadas. Outras publicações que contaram com a presença do jovem repórter foram: Cavaleiro Andante (1952), Foguetão (1961), Zorro (1963), Tintin (1968, que manteve a designação original) e Diário de Notícias (1971), este último com a particularidade de publicar tiras diárias a preto e branco.
A revista Tintin portuguesa teve um papel fundamental na divulgação da banda desenhada, não só pela publicação das histórias de Tintim e de dezenas de outras séries mas pelas diversas rubricas, entrevistas e artigos, que possibilitaram aos leitores alargar os seus conhecimentos em BD, destacando-se a contribuição de Vasco Granja.
Tintim e Hergé nunca vieram a Portugal, mas nem por isso deixaram de ter vários amigos e conhecidos. Em Tintim no Congo, o jovem repórter é abordado por um agente do Diário de Lisboa que pretende o exclusivo da reportagem por terras de África. Pedro João dos Santos, célebre físico da Universidade de Coimbra, participa na Expedição Científica ao Ártico em A Estrela Misteriosa. Mas o grande destaque vai para o Senhor Oliveira da Figueira, comerciante radicado no médio oriente, que vende de tudo um pouco, ajudando Tintim por diversas vezes. A sua capacidade comercial sem igual faz com que lhe chamem "o branco-que-vende-tudo". Surge em Os Charutos do Faraó, No País do Ouro Negro e Carvão No Porão. Em As Joias de Castafiore, embora não apareça, foi dos primeiros a felicitar o Capitão Haddock pelo seu suposto casamento com Bianca Castafiore.
Apesar de Portugal ter sido o primeiro país não francófono a publicar Tintim (O Papagaio, em 1935), durante décadas nunca foram editados álbuns da série por nenhuma editora nacional. O material disponível era originário do Brasil, sob chancela da Flamboiant e, mais tarde, da Editora Record, do Rio de Janeiro. Só em 1988 é que a Verbo iniciou a edição integral da série, concluída em 1999.
Para além dos álbuns da Verbo, que também incluem os fac-similados a preto e branco dos primeiros livros, existem outras edições de Tintim em Portugal como os 22 álbuns brochados em francês que surgiram em 1990 (Ediciones del Prado/Casterman), numa edição para o mercado ibérico. Há ainda dois volumes, As Melhores Aventuras de Tintim, que correspondem a fascículos publicados pelo jornal O Independente, em 1994, bem como 11 álbuns duplos cartonados especialmente editados pelo Círculo de Leitores entre 1999 e 2000. O jornal Público editou, entre 2003 e 2004, uma coleção de 24 álbuns brochados, que se tornou um caso de impressionante sucesso, havendo ainda a assinalar o volume saído na Coleção "Os Clássicos da BD", organizado pela Devir e Panini Comics para o Correio da Manhã, em 2003.
Ao nível dos diferentes episódios adaptados para desenhos animados e da longa metragem Tintim e o Lago dos Tubarões, a sua edição em Portugal é assegurada pela Costa do Castelo, tendo dois episódios sido distribuídos numa edição especial para O Independente.
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Como referenciar
Porto Editora – Tintim na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-08 13:48:30]. Disponível em
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