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Tomada de Ceuta
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Fruto de uma intenção expansionista que se vinha manifestando já desde D. João I, conheceram-se planos para atingir esse objetivo. Um deles era a conquista de Granada, ideia discutida desde 1411, com um claro propósito de ganhar terreno aos infiéis com a perpetuação e continuação da "Reconquista". O outro plano era o ataque às praças fortes de Marrocos.
A proposta da conquista de Ceuta acabou por prevalecer, dada a sua importância económica.
Assim, após uma minuciosa preparação da viagem que começara em 1412, e para se dar cumprimento à vontade, partiu de Lisboa, a 25 de julho de 1415, uma frota composta de 212 navios (59 galés, 33 naus e 120 embarcações pequenas) rumo a Ceuta.
Iluminura da Crónica da Tomada de Ceuta, primeira crónica conhecida de Gomes Eanes de Zurara
Ceuta (gravura do século XVI)
O desembarque ocorreu a 21 de agosto, tendo a cidade sido controlada pelo contingente militar de cerca de 20 mil homens, e o castelo tomado no dia seguinte, 22 de agosto de 1415.
Depois da conquista regressaram a Portugal com inúmeros despojos, deixando a D. Pedro de Meneses o pesado encargo do governo e manutenção da cidade, juntamente com 2700 homens. Após a conquista, a mesquita maior de Ceuta foi transformada em igreja cristã, numa política usual de substituição de símbolos de poder efetuada pelos vencedores. Constituía também a confirmação e o sucesso da cruzada contra os infiéis proposta por D. João I e muito bem acolhida pelo Papa.
Entre as motivações que presidiram ao objetivo de conquistar Ceuta toma especial relevância a económica. Relativamente à moeda, durante os séculos XIV e XV, verificou-se um fenómeno de desvalorização acentuada sem paralelo, quer em toda a história económica do País, quer em comparação com o estrangeiro.
Este problema, que começara já no reinado de D. João I, época de grandes desvalorizações da moeda, devia-se à falta de metal e à crise que o comércio português atravessava.
Várias medidas de resolução da crise foram implementadas, embora sem grande resultado, e a expedição a Ceuta afigurava-se uma boa estratégia pela perspetiva de ali poderem adquirir ouro e prata.
Como veremos, esta tentativa resultou num fracasso, pois exauriu ainda mais os cofres do Estado. Os gastos da conquista foram enormes e tornava-se necessário manter a praça, vítima de ataques constantes.
Em 1419 forças marroquinas e granadinas puseram cerco a Ceuta. A Coroa enviou reforços que partiram de Portugal em auxílio dos seus compatriotas e os muçulmanos acabaram por se render.
A manutenção da praça de Ceuta implicava abastecimentos regulares de provisões, nomeadamente de trigo. A fraca produção, associada a uma população em crescimento, sobretudo nas cidades, provocou uma acentuação das necessidades alimentares e, consequentemente, um maior volume de exportações já que se recorria ao estrangeiro, em grande parte à Inglaterra, para colmatar as falhas neste campo.
Para além deste encargo, foi também necessário proceder ao pagamento da dívida quer a nacionais quer a estrangeiros, devido aos empréstimos pedidos para financiamento da expedição. Na sequência de tratados de aliança efetuados no reinado de D. João I e de D. Duarte, Portugal pôde recorrer ao auxílio aragonês para a tomada de Ceuta, retribuindo aos espanhóis garantias de privilégios.
As dificuldades com que a Coroa se deparou para manter a praça refletiram-se nas opiniões divergentes acerca da continuidade da política expansionista de fixação em praças no Norte de África. Estava-se num impasse: ou se interrompia a conquista, o que implicava a perda de Ceuta, pois como praça isolada não se conseguiria defender, ou prosseguia-se com a conquista de mais praças, para que se pudesse constituir um verdadeiro empório comercial capaz de fazer frente aos ataques corsos.
Seguindo esta última via, deparariam novamente com as mesmas dificuldades sentidas com a manutenção da praça de Ceuta. As hesitações marcaram a tomada de decisão e por isso houve necessidade de pedir opinião e pareceres às pessoas de maior influência. Todas elas eram unânimes em concordar que o país era pobre e despovoado, o que dificultaria o prosseguimento da campanha.
Teria de se esperar pelo governo de D. Duarte para se levar por diante o movimento expansionista. Em 1433, a decisão era continuar a guerra em África apesar da divergência de opinião manifestada pelos infantes D. Pedro e D. João contra D. Henrique, D. Fernando e o conde de Arraiolos, que estavam em maioria. D. Duarte concedeu a aprovação para uma nova fase de conquista, cujo primeiro objetivo era a praça de Tânger, que redundou num fracasso. D. Henrique rendeu-se (outubro de 1437), o infante D. Fernando foi aprisionado como refém e comprometeu-se a entregar Ceuta em troca da liberdade do irmão.
Na reunião de Cortes, convocadas para se resolver o problema, os infantes D. Pedro e D. João, juntamente com os procuradores dos concelhos, eram a favor da entrega imediata de Ceuta aos marroquinos, opinião que não era partilhada pelos nobres e pelo conde de Arraiolos. As Cortes acabaram por ser dissolvidas e a questão ficou em aberto.
O benefício para Portugal da conquista de Ceuta advinha da possibilidade de consolidar uma posição de destaque perante os outros países da Europa.
O rei surgia à frente da cruzada que era necessário empreender contra o Islão, e por isso interessava ao Papa e aos outros monarcas protegê-lo. Isso mesmo se refletiu nas concessões papais.
A conquista de Ceuta por outro lado constituía igualmente o trampolim para as viagens e povoamento da Madeira (1419) e dos Açores (1427), com incursões também nas Canárias.
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Porto Editora – Tomada de Ceuta na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-07 14:56:38]. Disponível em
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