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Vasco Granja
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Responsável editorial, cineclubista, crítico, divulgador e investigador de banda desenhada e de cinema de animação, Vasco de Oliveira Granja, nasceu em Lisboa, a 10 julho de 1925, tendo falecido a 04 de maio de 2009, aos 83 anos, em Cascais.

Frequentou a Escola Industrial Machado de Castro, depois de ter concluído a Instrução Primária, tendo começado por trabalhar, com 15 anos, nos Armazéns do Chiado, inicialmente na secção de amostras, depois na publicidade.

Depois dos Armazéns do Chiado, vendeu lotarias durante cerca de 16 anos, aos balcões da Casa Travassos, situada no Chiado, meio artístico e literário por excelência na Lisboa de meados do século XX, o que lhe permitiu conhecer diversas personalidades nas tertúlias que frequentava, tanto artistas como escritores.

Desses contactos, nasceu o convite para ingressar na Editora Arcádia, no final dos anos 50, onde lidou com autores de grande relevo, como Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão ou Hernâni Cidade, tendo sido o secretário do diretor literário da editora, Fernando Namora.

Posteriormente, trabalhou na Livraria Bertrand durante cerca de 30 anos, onde fez de tudo um pouco, no que hoje se designa por coordenação editorial e revisão, fazendo todo o tipo de contacto com autores, tradutores, ilustradores e maquetistas.

Em termos políticos, a sua militância no PCP (Partido Comunista Português) desde a década de 50 custou-lhe a prisão por dois anos, tendo estado nas Prisões do Aljube, de Caxias e de Peniche, por exibição de filmes não autorizados pela censura.

Ávido amante da leitura e do Cinema, desde novo frequentou as principais bibliotecas lisboetas e todas as sessões de filmes que lhe era possível, a que não faltou o complemento obtido com a leitura da revista Animatógrafo, dirigida por António Lopes Ribeiro.

Foi cineclubista durante largos anos, tendo feito legendagem de filmes e, enquanto membro do Cine-Clube Imagem, iniciou as funções de pesquisa e divulgação do cinema de animação, visitando o Festival de Animação de Annecy, em 1960, que foi o primeiro do género em todo o Mundo.

Durante a edição de 1967 do mesmo Festival, teve oportunidade de visitar uma grande exposição de banda desenhada no Museu de Artes Decorativas ("Bande Dessinée et Figuration Narrative"), que o veio a marcar profundamente, despertando o seu interesse para a Nona Arte (termo atribuído durante a década de 60 à BD, tal como o cinema é conhecido por Sétima Arte).

Os contactos estabelecidos em Annecy levam-no a conhecer os organizadores do Festival, que também estavam ligados ao Salão de Lucca (Itália), dedicado à BD, e que mais tarde viriam a estar ligados ao Salão de BD de Angoulême, em França, o maior certame europeu do género, que se realiza todos os anos desde 1974.

No domínio do cinema de animação, esteve presente nas principais iniciativas realizadas em países como Espanha, França, Itália, (antiga) Jugoslávia e Canadá, tendo sido membro de vários júris, o mesmo sucedendo nos dois primeiros (então) Salões de Angoulême, em 1974 e 1975.

A sua permanência na Livraria Bertrand durante três décadas coincidiu com a aposta no mercado da banda desenhada, quer pela edição de álbuns, então pouco conhecidos (a partir da década de 60), quer pela publicação de revistas, de que se realça a versão portuguesa da Tintin, célebre semanário de BD, criado na Bélgica em 1946, ligado às Éditions du Lombard e ao famoso herói criado por Hergé. Esta versão portuguesa, que saiu entre 1968 e 1982, teve a particularidade de integrar não só o material proveniente da revista original mas também de outras que lhe eram concorrentes, Spirou (da Dupuis) e Pilote (da Dargaud), razão pela qual tinha um considerável leque das melhores e mais populares bandas desenhadas franco-belgas da época.

Na Tintin portuguesa, Vasco Granja foi responsável pela realização e tradução de dezenas de artigos sobre os mais diversos aspetos do cinema de animação e da banda desenhada, para além de ter entrevistado alguns dos grandes nomes dos quadradinhos, não deixando de se deslocar a Paris, a Bruxelas e aos grandes salões (nomeadamente Lucca, em Itália, e Angoulême, em França), mantendo deste modo os fiéis leitores da revista a par das mais importantes novidades.

Nos últimos dois anos da Tintin (1981-1982), para além de incansável colaborador, assumiu a direção da revista, tendo sido responsável por diversas inovações, como o aparecimento de Corto Maltese, emblemática personagem criada pelo italiano Hugo Pratt, de Spirit, do estado-unidense Will Eisner e de autores portugueses, com o intuito de alargar a linha editorial.

Uma decisão administrativa da editora pôs um fim abrupto a um periódico que marcou duas gerações de leitores, sem que as derradeiras histórias pudessem ser concluídas (pois tratava-se de histórias de continuação), fim verdadeiramente inglório para tão prestigiada revista.

Ainda na Livraria Bertrand, foi também o diretor da efémera revista de BD Spirou (na sua II série, em 1979), que teve a duração de 32 números semanais e nunca se conseguiu impor face à sua congénere e concorrente Tintin.

Depois do 25 de abril foi presença regular nos ecrãs da televisão durante 16 anos (entre junho de 1974 e meados de 1990), apresentando um total de 1040 programas na RTP (Rádiotelevisão Portuguesa), sobre histórias aos quadradinhos e desenhos animados, o que lhe permitiu dar a conhecer aos portugueses grandes nomes da animação como o estado-unidense Tex Avery ou o canadiano Norman McLaren, que aprecia particularmente pelo seu carácter experimentalista.

O seu filme "fétiche", Yellow Submarine, com a banda sonora do mesmo título dos celebérrimos Beatles e a produção dos países da então Europa de leste foi outro dos exemplos memoráveis do cinema de animação que divulgou.

Deste período televisivo, a regularidade das suas participações valeram-lhe o reconhecimento nacional, sendo apelidado de "O Pai da Pantera-cor-de-rosa" por uma criança, pois divulgou muito os filmes desta personagem sem igual na Animação. E o "apelido" ficou.

Colaborou ainda em diversos periódicos, divulgando as suas paixões de sempre, a banda desenhada e o cinema de animação, em jornais de referência como Diário de Lisboa (1957-1973), República (1965-1975), Diário Popular (1965-1991), A Capital (1968-1980), O Diário (meados dos anos 80), mas também em jornais regionais como o figueirense Mar Alto (entre 1969-1973) e em revistas como Plateia (1957-1974), Vida Mundial (1968-1969), TV Guia (década de 80).

Muitos outros textos podem ser encontrados também em periódicos estrangeiros (Brasil, França ou Argentina), entradas em dicionários temáticos, catálogos das mais diversas exposições, sem esquecer as primeiras edições do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, que é atualmente a maior manifestação em torno dos quadradinhos em Portugal.

No final da década de 90, lecionou durante dois anos na ETIC (Escola Técnica de Imagem e Comunicação), em Lisboa.

Pelo seu incansável trabalho de divulgação da banda desenhada e do cinema de animação, foi galardoado com o Troféu Zé Pacóvio e Grilinho - Honra, no 7.º Festival Internacional de Banda Desenhada - Amadora, em 1996, tendo antes recebido o Grand Prix Saint Michel Para a Promoção da BD, em 1972.

Com o lançamento do livro que lhe foi dedicado pela ASA em 2003, Vasco Granja - Uma vida... 1000 imagens, Vasco Granja transformou-se ele próprio numa personagem de BD, com a homenagem que os mais conceituados autores nacionais lhe fizeram, desenhando cada um uma história em que é o protagonista. Participaram neste volume José Carlos Fernandes, José Garcês, Augusto Trigo, Catherine Labey, José Pires, José Ruy, Pedro Massano, Luís Diferr, João Amaral, Irene Trigo, Carlos Roque, Estrompa, Artur Correia e Rui Lacas, sob argumentos de Jorge Magalhães.

Embora tenha escrito e traduzido inúmeros textos sobre BD e Animação, o único livro editado da sua autoria foi Dziga Vertov (Livros Horizonte, 1982), sobre um célebre documentarista russo.

É recordado por diferentes gerações pela sua maneira de comunicar sobre os temas que o apaixonam, definindo-se o próprio como um dinamizador cultural.

Mesmo no estrangeiro, entre os autores e investigadores mais veteranos, continua a ser uma importante referência do nosso país dentro destes meios, dado que não havia salão ou festival de BD e Animação que não visitasse ou poucos terão sido os grandes autores europeus (e não só) com que não se tenha encontrado.
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Como referenciar
Porto Editora – Vasco Granja na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-03 08:37:06]. Disponível em
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