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Carta aos leitores de Haiti
Haiti é, em primeiro lugar, um romance sobre o amor paternal, mais concretamente sobre os sentimentos de ternura, enlevo e protecção do senhor Honoré de Beauregard pela sua filha Joséphine, a única descendente que lhe resta depois da trágica morte dos seus outros filhos. Essa história de amor é, de certa forma, o fio de prumo de um romance que oferece ao leitor muitas histórias paralelas ou acessórias e muita matéria para compreender melhor o que foi o nascimento do Haiti.
Efectivamente, através de uma narrativa muito apoiada na documentação da época, eu tento levar o leitor a visitar a colónia francesa de Saint-Domingue nos turbulentos e violentos anos da Revolução Francesa, e que foram ali ainda mais convulsivos do que em França devido a uma enorme revolta de escravos. É nesse universo em convulsão que Honoré de Beauregard tenta manter a vida, as suas propriedades e, acima de tudo, não perder a filha e, adiante, o seu neto. Isso fá-lo interagir com personagens que efectivamente existiram, como Toussaint Louverture, por exemplo, e com outros que, sendo ficcionais, como a mulata Adelaide, o cruel plantador Tanguy Jolicoeur ou o capataz português, poderiam perfeitamente ter existido.
Procuro, neste romance, que o leitor presencie as acções e sinta as pulsões dos escravos revoltosos, que viva as estratégias de sobrevivência das pessoas acossadas, que se emocione com os actos de bravura e sinta repugnância com as perfídias e crueldades de brancos e negros, que se envolva nas ligações amorosas que, mesmo em período tão conturbado, surgiam entre as pessoas, que percorra uma plantação de cana-de-acúcar ou de café, e a cidade de Cap Français (actual Cap Haitien), e que, no cômputo final, nunca deixando de sentir simpatia ou repúdio pela forma como as pessoas viveram aquele período dramático, fique a conhecer melhor uma das grandes e mais marcantes revoluções da história da Humanidade.
João Pedro Marques
NOTA: por vontade expressa do autor, o presente texto não segue as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.