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O perigo de estar no meu perfeito juízo não é um romance, embora certamente tenha partes de ficção; nem é um ensaio, nem uma autobiografia, nem uma biografia de outros autores. É um livro híbrido e difícil de definir. Chamo esses tipos de texto (tenho outros dois assim: A Louca da Casa e A ridícula ideia de não voltar a ver-te) de artefactos literários.
E especificamente este artefacto é muito importante para mim, porque tenho a sensação de que O perigo de estar no meu perfeito juízo é o livro da minha vida. Em primeiro lugar, porque responde a perguntas que rondam a minha cabeça desde criança. Na verdade, a primeira frase do livro diz: «Sempre soube que na minha cabeça alguma coisa não funcionava muito bem», uma intuição de estranheza que cresceu quando, aos dezasseis anos, comecei a sofrer ataques de pânico e temi ter ficado louca. De modo que sempre me questionei: o que é a sanidade? O que é a loucura? Porque é que algumas pessoas têm a cabeça cheia de fantasias malucas? Porque é que nós, romancistas, precisamos ficar sentados num canto das nossas casas durante semanas, meses ou anos, para inventar mentiras, o que é uma atividade bizarra? Que relação existe entre criatividade e transtornos mentais, ou entre realidade e imaginação? Neste livro fiz uma investigação quase policial para responder a essas e outras perguntas. E o melhor é que cheguei a algumas conclusões que me bastam. Como, por exemplo, que a normalidade não existe, e que o que é verdadeiramente normal é ser esquisito.
A outra razão pela qual sinto que O perigo de estar no meu perfeito juízo é o livro da minha vida é porque nunca tive uma resposta tão apaixonada e interativa dos leitores. Homens e mulheres contam-me as suas manias, dizem-se refletidos e compreendidos, ou que graças ao meu texto deixaram de sentir vergonha por alguns hábitos que sempre esconderam. Desde que o livro foi publicado em Espanha, ri muito e, muitas vezes, também chorei com os leitores devido às coisas incríveis e comoventes que partilham comigo. Tem sido uma viagem maravilhosa.
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Rosa Montero