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A minha gratidão para com as árvores
Sempre gostei de árvores, de plantas, de jardins, da seara. Até de ervas desprezadas e chamadas, às vezes injustamente, daninhas ou infestantes. Desde jovem estudante universitário, procurei juntar a ciência económica, que escolhera estudar, com o mundo vegetal, que decidira namorar. Este fascínio botânico, a que Lineu chamou Scientia amabilis, tem-me acompanhado permanentemente, há mais de meio século.
Percorri jardins e florestas com um entusiasmo sempre crescente. Quando, então, partia de volta ao frenesim do tempo acorrentado, ficava-me sempre a memória do que em mim tinha acontecido com o bálsamo da harmonia e beleza naturais.
A minha relação com as árvores e as plantas sempre foi afectuosa e musical. Há sempre um parto vegetal por seguir, ou uma espécie antes ignorada que depois se nos insinua. Leio a botânica pelas palavras, pelas formas, pelas cores, pelas fragrâncias. Não para mais tarde recordar, mas sobretudo para mais cedo regressar. No meio da sinestesia de ambientes, de tempos e do tempo, imergir na leitura sobre árvores e plantas é também um acto de profunda libertação. E uma permanente tentação. E, assim, com a delícia do gosto sem condições e a magia da biodiversidade sempre infinita, fui lendo, observando, estudando. Enchendo a minha biblioteca de livros e apontamentos, fui caminhando numa rota muito pessoal da descoberta do mundo prodigioso e vasto da botânica.
Tenho um enorme sentimento de gratidão para com a vida vegetal que vai das imponentes árvores às frágeis plantas. Todas realizam o milagre natural da fotossíntese, verdadeiro motor de vida, recebendo a luz solar e transformando-a em energia alimentar, libertando oxigénio e capturando dióxido de carbono. Haverá uma dádiva assim tão generosa para a nossa possibilidade de respirar e de viver?
O meu livro Quarenta árvores em discurso directo, agora editado, foi um gostoso itinerário feito de estudo, observação, curiosidade, encantamento e reconhecimento e é a expressão de uma paixão que todos os dias me seduz e enriquece como pessoa. Espero que gostem.
António Bagão Félix
NOTA: por vontade expressa do autor, o presente texto não segue as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.