O Papa e o Império
Com o declínio da autoridade imperial, que culminou com a queda de Roma no século V, a Igreja cristã tornou-se uma autoridade temporal e religiosa, em certa medida independente, embora na Europa ocidental houvesse uma longa tradição de relações entre a Igreja e o Estado, ou entre as estruturas eclesiásticas e as estruturas políticas.
No princípio deste novo período, o Papa Gelásio I enunciou uma doutrina das "duas espadas", pela qual o Estado e a Igreja teriam um estatuto idêntico. Mais tarde, a Controvérsia (ou Querela) das Investiduras seria um dos maiores conflitos travados entre as duas autoridades nos séculos XI e XII. Esta disputa surgiu com a discussão do papel desempenhado pelos príncipes laicos nas cerimónias em que os bispos e abades eram empossados, sobretudo no momento em que o príncipe entregava ao prelado o anel e o báculo, os símbolos do poder espiritual. Esta prática da investidura laica fora desenvolvida na Idade Média, à medida que os imperadores e reis procuravam aproximar-se da riqueza e da autoridade da Igreja, em troca da oferta de proteção.Esta era, por isso, uma prática do emergente mundo feudal, onde muitas vezes os senhores religiosos eram também investidos de poderes laicos, estando portanto sujeitos a manterem a sua lealdade perante o rei.
Em meados do século XI, surgiu um movimento para reformar a Igreja, que ganhara muitos adeptos na França e na Alemanha. Este movimento reformista considerava a investidura laica imprópria e discordante dos velhos princípios da Igreja e atribuía a esta prática a responsabilização pela decadência dos valores morais dos religiosos, em especial a sua indulgência para com a simonia - a compra e venda de bens espirituais administrados pela Igreja -, uma palavra que deriva de Simão, o Mago, uma figura da Bíblia que tentou comprar poderes espirituais do apóstolo Pedro.
A simonia era um problema da Igreja desde o tempo do édito de Milão, em 313, quando a Igreja começou a acumular riqueza e poder. Este problema pode ser estudado através da legislação produzida contra ele. No concílio de Calcedónia de 451, foi proscrito o peditório de dinheiro, uma proibição reafirmada pelo concílio de Latrão de 1179 e pelo concílio de Trento (1545-1563).
Este movimento chegou a Roma, e a partir do Papa Leão IX a Igreja tomou a liderança desta reforma. A investidura laica foi então condenada pelo Papa Nicolau II em 1059, ao mesmo tempo que excluía a efetiva participação do imperador nas eleições papais.
Em 1075, o Papa Gregório VII proibiu expressamente a investidura laica, o que provocou a ira do Sacro Imperador Germânico Henrique IV e gerou uma onda de excomunhões e deposições. Em Worms, em 1076, o imperador recusou a proibição papal, sendo excomungado, o que gerou ataques dos príncipes seus inimigos. Propôs-se a arbitragem papal, em terras imperiais. Mas Henrique IV não queria tal humilhação e foi ao encontro de Gregório VII, que se deu no castelo de Canossa. O Papa acabou por levantar a excomunhão (1077). Porém, a humilhação do imperador pelo Papa, apesar do perdão, acicatou certos ânimos no Império. Este conflito só seria resolvido com a morte de Gregório VII, no exílio, em 1085, e com a derrota da sua campanha contra a investidura laica.
Os sucessores do Papa Gregório, embora partilhassem algumas das suas ideias, eram, no entanto, mais flexíveis na procura de uma solução entre as duas partes em conflito. O interesse dos reis assentava no reconhecimento da sua autoridade pelos bispos, uma vez que estes também eram senhores seculares.
Santo Anselmo, quando foi nomeado arcebispo de Cantuária, entrou em discussão acesa com Henrique I da Inglaterra acerca deste assunto, mas só em 1170 chegaram a um consenso, terminando assim esta disputa.
Em 1122, o Papa Calisto II e o Sacro Imperador Germânico Henrique V assinaram a concordata de Worms, um documento que refletia a solução inglesa e lançava as bases do relacionamento entre a Igreja e os governantes temporais. Segundo esta concordata, o direito de escolher os bispos era reservado à Igreja e a investidura por anel e báculo seria feita pelo clero. As eleições teriam de decorrer na presença do imperador, que deveria conferir as propriedades e os dividendos do bispado e o investia com um cetro, um símbolo secular sem conotação religiosa.
Apesar do acordo a Igreja medieval nunca teve um controlo completo na nomeação dos bispos e o problema ressurgiu sob variadíssimas formas. Esta controvérsia volta a ser levantada no século XVII em França, com o galicanismo, e na Espanha, onde se debatia este problema até há bem pouco tempo.
No século XIII, o Papa Inocêncio III reclamou a subordinação do Sacro Império Romano-Germânico ao poder do Papa, isto é, pretendia subjugar o poder temporal ao poder religioso ou espiritual, por causa da significativa diferença das jurisdições das duas instituições. Enquanto o poder temporal dizia respeito às coisas físicas, a Igreja, especialmente o Papa, superintendia as coisas espirituais.
Contudo, depois deste ponto alto nas pretensões temporais da Igreja, imperadores e reis passaram a controlar o papado.
A decadência da autoridade imperial centralizada na civilização europeia ocidental surgiu com o aparecimento das nações, que assentavam num processo de independência interna, fenómeno esse que depois se estendeu ao Sacro Império Romano-Germânico. Durante todo este processo deram-se muitas contendas devido ao choque de interesses entre os Estados e as pretensões centralizadoras da Igreja, chefiadas pelo seu dirigente supremo.
A reforma protestante emergente no século XVI reflete a tensão política entre o poder imperial centralizado e os emergentes Estados, e foca igualmente as tensões entre as forças económicas e sociais dominantes na Idade Média.
De um modo geral, os grupos protestantes, em especial o Luterano e o Calvinista, estavam em concordância com o alinhamento político dos líderes das nações do Norte da Europa, favorecendo a constituição de modernas comunidades nacionais. Isto queria dizer que os problemas levantados entre o Papa e o imperador foram transferidos para o nível dessas mesmas comunidades nacionais.
Uma solução temporária seria encontrada com a paz de Habsburgo, em 1555, que estipulou que cada entidade política deveria posicionar-se junto da Igreja luterana ou junto da Igreja católica. Esta resolução foi mal aceite por alguns grupos cristãos, em particular os grupos Anabatistas, como os Menonitas, seguidores de Meno Simão, que em nome da sua "verdadeira fé" resistiram a esta relação entre política e religião.
A Revolução Francesa marca um ponto de viragem relativamente à questão do estabelecimento das religiões nacionais, adormecida até ao século XVIII, com a introdução alargada de um princípio de tolerância religiosa.
Os Estados Unidos da América, uma nação em processo de formação neste período, experimentaram a separação do Estado e da Igreja, embora os seus resultados nem sempre fossem os esperados. As treze colónias da América do Norte tinham, ao tempo da guerra da independência, princípios religiosos herdados das potências coloniais. Com o nascimento da nova nação, o governo federal introduz o conceito de liberdade religiosa.
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