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Xadrezista russo, de nome completo Alexander Alexanderovich Aljechin, nasceu a 31 de outubro de 1892, em Moscovo. Oriundo de uma família aristocrática, mas propensa ao consumo excessivo de álcool, era filho de um membro da Duma, marechal da nobreza, e da herdeira de uma fortuna industrial.
Aprendeu a jogar xadrez com a sua mãe quando era ainda uma criança. Por volta de 1901, com apenas nove anos de idade, era capaz de jogar de olhos vendados, indicando as coordenadas ao adversário. Em 1904 começou a jogar partidas por correspondência. Em 1908 ingressou no Instituto Superior de Direito de Moscovo, onde pôde continuar a sua grande paixão. Disputou nesse mesmo ano um torneio com o mestre russo Benjamin Blumenfeld, obtendo sete vitórias em dez partidas. No ano seguinte, em São Petersburgo, alcançou ele próprio o título de mestre.
O ano de 1914 foi importante para Alekhine. Após ter vencido ex-aequo um pequeno torneio através de um empate com o famoso teórico Aron Nimzovitch, alcançou a terceira posição no Torneio Internacional de São Petersburgo, logo a seguir a José Raul Capablanca e Emanuel Lasker, respetivamente campeão e vice-campeão do mundo. O czar Nicolau II conferiu o título de Grande-Mestre de Xadrez aos cinco primeiros qualificados.
Mudando a grafia do seu apelido para 'Alekhine', foi amadurecendo a ideia de defrontar Capablanca num torneio, o que significava que, em caso de vitória, tomaria ele próprio o título.
Viu, não obstante, a sua carreira interrompida em 1914 quando, durante a participação num torneio internacional em Mannheim, deflagrou a Primeira Guerra Mundial. Alistou-se então no Exército Branco, com quem servia em Odessa na altura em que irrompeu a Revolução Russa. Tomando a cidade, os bolcheviques capturaram-no, mas pronunciou-se leal e dedicado revolucionário, na tentativa de escapar à morte. Forçado a colaborar como espião para os revolucionários, de novo se considerou fiel e devoto monárquico quando o Exército Branco reconquistou Odessa. Passou então a fornecer serviços de contraespionagem às tropas do czar.
Com a implantação do regime bolchevista, Alekhine procurou uma maneira de abandonar o país. Depois de se ter sagrado campeão nacional no primeiro torneio da União Soviética, casou com uma estrangeira, o que lhe garantiu uma permissão para viajar, abandonando a esposa e o filho logo que atravessou a fronteira.
Em 1927, após vários torneios em que Capablanca saiu vencedor por uma pequena margem de vitórias, Alekhine achou-se finalmente preparado para defrontar o campeão do mundo num frente a frente. Depositando dez mil dólares em ouro como caução, Alekhine conseguiu fazer com que Capablanca aceitasse o desafio.
Jogado em Buenos Aires, o torneio decorreu de 16 a 29 de setembro de 1927. Durante a competição, levada a cabo à porta fechada e sem a presença de espectadores ou fotógrafos, Alekhine teve que extrair seis dentes, o que não o impediu de vencer o repto, com um total de seis vitórias, vinte e cinco empates e três derrotas.
Alekhine tornou-se assim o quarto campeão mundial oficial de xadrez. Durante alguns anos, Capablanca, querendo reaver o título, desafiou o novo campeão, mas este conseguiu esquivar-se à desforra ao exigir que o cubano procedesse a um depósito de dez mil dólares, ou seja, nas mesmas condições que Capablanca havia exigido. Não obstante, a queda da bolsa de Wall Street e a grande depressão económica que se seguiu, tornaram difícil a angariação de patrocinadores, pelo que passariam anos até que se defrontassem.
Em 1930 passou a jogar pela França, obtendo resultados brilhantes em vários torneios e digressões internacionais. Em 1925 havia batido o recorde mundial, ao disputar vinte e oito partidas simultaneamente e de olhos vendados, perdendo apenas três e empatando outras tantas. Em 1933 superou-se na Feira Mundial de Chicago, ao jogar trinta e duas partidas simultâneas durante cerca de dez horas.
Perdeu o título em 1935, em favor do holandês Max Euwe, em Zandvort e, no ano seguinte, ficou em sexto lugar no Torneio de Nottingham, perdendo contra Capablanca na primeira vez que se defrontaram desde o torneio de 1927. Pedindo desforra, Alekhine recuperou o título de campeão do mundo em 1937, conseguindo mantê-lo até à data da sua morte.
Em janeiro de 1940 chegou a Portugal, país neutro durante a Segunda Guerra Mundial, onde impulsionou grandemente o desenvolvimento do xadrez no país. Em maio do mesmo ano foi fundado o Grupo de Xadrez do Porto, o mais antigo da Península Ibérica no ativo.
Fez várias exibições de olhos vendados, em partidas simultâneas, e conta-se que, apesar de a astúcia portuguesa tentar embriagar o xadrezista para lhe arrebatar vitórias, Alekhine deu mostras do seu valor, aconselhando os jogadores à leitura de tratados e aconselhando os mais jovens. Por força dos seus ensinamentos, a Secretaria de Estado da Educação Nacional promoveu o Xadrez à categoria de desporto intelectual, a 16 de setembro de 1944.
Acusado da autoria de panfletos antissemitas, Alekhine deixou de ser convidado para a maioria dos torneios internacionais.
Alekhine faleceu a 24 de março de 1946, no Estoril, em circunstâncias misteriosas. Algumas fontes apontam como causa provável da sua morte uma paragem cardíaca, mas conta-se que Alekhine se encontrava sentando numa poltrona do seu quarto de hotel, preparando-se para um torneio, ao mesmo tempo que ingeria uma pequena refeição. Engasgando-se com um pedaço de carne, terá encontrado assim a morte.
Não obstante, o Dr. António Ferreira, xadrezista e médico, responsável pela emissão da certidão de óbito do campeão, teria mais tarde confidenciado a amigos que o corpo de Alekhine foi encontrado na rua, baleado talvez por razões políticas. Esta opção tem sido validada pelo facto de que o tabuleiro de xadrez de que Alekhine se servia ter sido encontrado intacto.
O seu cadáver permaneceu três semanas insepulto, por ninguém o ter reclamado. Ao fim desse tempo, um xadrezista português, Manuel Esteves, ofereceu o seu jazigo familiar no cemitério do Alto de São João em Lisboa, onde o corpo de Alekhine foi depositado a expensas de Federação Portuguesa de Xadrez.
Em 1956, a Federação Internacional do Xadrez (FIDE), organismo sedeado em França, lembrou-se de reclamar o cadáver, que passou a repousar no cemitério de Montparnasse, em Paris.
Considerado como o último romântico do xadrez e criador da célebre defesa que leva o seu nome, Alexandre Alekhine foi o pai do xadrez de competição em Portugal. Em 1947 foi fundado em Lisboa o Grupo de Xadrez Alekhine.
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Como referenciar
Porto Editora – Alexandre Alekhine na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-24 20:34:02]. Disponível em
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