António Sérgio
Um dos expoentes da reflexão cultural e do ensaísmo da primeira metade do século XX, o pensamento e magistério de António Sérgio marcaram várias gerações de intelectuais, sendo nome de referência quer no âmbito da historiografia, da crítica literária, da história política e das ideias ou da teoria do conhecimento. Abandonou a carreira da marinha de guerra após a implantação da República, em 1910, abraçando com total dedicação uma atividade de reforma das mentalidades, missão que lhe parecia fundamental na consolidação de um regime democrático. Interessou-se vivamente pela pedagogia, tendo produzido um ensaio, Educação Cívica, em que defende a autonomia do aprendente e a instrução ativa, que pouco eco teve na época mas que viria a ser recuperado durante a década de 80.
Integrando o projeto da "Renascença Portuguesa", publicou vários trabalhos de teor pedagógico, em publicações como A Águia, que abandonará depois de acusar o carácter passadista e utópico do saudosismo, em polémica aberta com Teixeira de Pascoaes, para fundar a revista Pela Grei.
Em 1923, aceitou a pasta governativa da Instrução Pública, de que se demitiria, vendo a impossibilidade de realizar alguns dos projetos a que se propusera, como a criação de uma Junta Propulsora dos Estudos. Depois de um afastamento de sete anos, em Madrid e Paris, para onde fora compelido a exilar-se após a instauração da ditadura militar, em 1926, foi amnistiado em 1933.
De regresso a Portugal, lecionou, efetuou traduções e continuou, sempre com o fito numa reforma mental e económica, a publicação ensaística (Ensaios, 8 vols., 1920-1958). Durante a década de trinta, colaborou com Seara Nova, aí assumindo um papel de liderança intelectual, colaborando ainda, no âmbito do grupo da Biblioteca Nacional, na revista Lusitânia. Em 1953, participou no movimento político democrático que tentaria propor, em 1958, a candidatura à Presidência da República do General Humberto Delgado, conhecendo, durante esse processo logrado, a prisão.
Ao longo da sua vasta e profunda obra ensaística, debruçando-se sobre temas diversos, que vão desde a reflexão histórica e filosófica à discussão literária, António Sérgio manteve como invariáveis os princípios do racionalismo idealista; a reflexão cultural de cunho universalista; uma interpretação histórica de fundamento socioeconómico; a doutrinação pedagógica com vista à criação de uma consciência cívica e democrática e a defesa, no domínio da ideação política económica e social, da prática do corporativismo. Submetido, sob todos os seus prismas, a um ideal humanista de libertação e autonomia do homem, o reformismo sergiano, rejeitando a postura marxista, postula que a transformação das estruturas sociais "não é possível com pregações, nem com políticas de autoritarismo, nem com reformas só pedagógicas - mas com reformas sociais e pedagógicas concatenadas, entrelaçadas como fios de um tecido único, as quais preparam o nosso povo para um uso razoável da liberdade e para compreender por si mesmo a sua emancipação social-económica." (Ensaios, t. II, 2.ª edição, p. 89).
Tendo relegado para um segundo plano a criação literária, evidenciada num volume de Rimas (1908), desvalorizado pelo autor; na publicação de Antígona (1930), um drama de cariz didático e combativo, ou na publicação de alguns poemas nas páginas de Seara Nova (sob o pseudónimo de Álvaro Clarival), a sua bibliografia conta ainda traduções de obras enciclopédicas, filosóficas (Leibniz, Descartes) e literárias, obras de literatura infantil e a edição escolar, prefaciada e anotada pelo ensaísta, de obras de autores portugueses.
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