Cartas
Caracterizada por um forte pendor intimista de reflexão e independência, a obra epistolográfica de Sá de Miranda destaca-se por uma elevada preocupação de intervenção social.
No seu conjunto, as Cartas de Sá de Miranda abordam temas variadíssimos como a ação histórica, as Letras, a imortalização das ações através de registos literários, o culto e prática da filosofia estoica, a ambição, a condenação das riquezas, a adulação, etc.
Embora todas sejam relevantes, destacamos três cartas: Carta a El-Rei D. João III, Carta a Mem de Sá e Carta a António Pereira, Senhor de Basto.
Na Carta a D. João III, o autor começa se desculpar pelo tempo que vai tomar ao soberano. Sá de Miranda adota nesta carta uma atitude conselheira, exteriorizando as suas ideias quanto à necessidade do rei deter o poder absoluto. Sá de Miranda critica os aduladores, chamando-lhes "salteadores", e desmistifica o clero que, sem vergonha, ostenta uma riqueza excessiva. Esboça ainda uma crítica a Espanha e realça o valor da justiça e da imparcialidade. A carta termina com um humilde pedido de desculpas ao rei pelo atrevimento das suas palavras.
Na Carta a Mem de Sá, seu irmão e terceiro governador do Brasil, Sá de Miranda, assumindo um tom de meditação sobre os sonhos, ambições e esperanças da vida humana, reflete um certo pessimismo quanto ao futuro da Humanidade. A manifestação deste pessimismo justifica a sua opção pela vida rural em detrimento da corte, alegando que no campo pode "guardar a sua liberdade" e dedicar-se calmamente à atividade intelectual.
Para ilustrar o contraste entre a cidade e o campo, o autor serve-se da fábula do rato do campo e do rato da cidade. O rato da cidade, tendo-se perdido, vai ter ao campo. Constatando a pobreza aí existente, tenta o rato do campo com a vida luxuosa da metrópole. Deixando-se iludir, este vai para a corte onde imediatamente se apercebe dos perigos que a envolvem. O rato do campo regressa ao seu espaço campestre, considerando, de acordo com a tese da aurea mediocritas, que "mais vale ter o suficiente sem grandes preocupações e cansaços do que ter muito com o perigo à espreita."
Na Carta a António Pereira, Senhor de Basto, o autor aborda novamente a dicotomia cidade/ campo a propósito da partida do seu amigo para a corte.
A cidade de Lisboa simboliza a corrupção e o desconcerto. O mercantilismo surge como "fonte de todos os males", nomeadamente o despovoamento do reino, celebrizado pelos famosos versos "Mas temo-me de Lisboa/ que, ao cheiro desta canela,/ o reino nos despovoa". A oposição entre o campo e a cidade é defendida com base na sua experiência pessoal (recolhimento na Quinta da Tapada, no Minho) e no conhecimento que tem das obras de Virgílio e de Horácio (nomeadamente a exaltação que estes fazem às virtudes da Idade do Ouro).
No seu conjunto, as Cartas de Sá de Miranda abordam temas variadíssimos como a ação histórica, as Letras, a imortalização das ações através de registos literários, o culto e prática da filosofia estoica, a ambição, a condenação das riquezas, a adulação, etc.
Embora todas sejam relevantes, destacamos três cartas: Carta a El-Rei D. João III, Carta a Mem de Sá e Carta a António Pereira, Senhor de Basto.
Na Carta a D. João III, o autor começa se desculpar pelo tempo que vai tomar ao soberano. Sá de Miranda adota nesta carta uma atitude conselheira, exteriorizando as suas ideias quanto à necessidade do rei deter o poder absoluto. Sá de Miranda critica os aduladores, chamando-lhes "salteadores", e desmistifica o clero que, sem vergonha, ostenta uma riqueza excessiva. Esboça ainda uma crítica a Espanha e realça o valor da justiça e da imparcialidade. A carta termina com um humilde pedido de desculpas ao rei pelo atrevimento das suas palavras.
Na Carta a Mem de Sá, seu irmão e terceiro governador do Brasil, Sá de Miranda, assumindo um tom de meditação sobre os sonhos, ambições e esperanças da vida humana, reflete um certo pessimismo quanto ao futuro da Humanidade. A manifestação deste pessimismo justifica a sua opção pela vida rural em detrimento da corte, alegando que no campo pode "guardar a sua liberdade" e dedicar-se calmamente à atividade intelectual.
Para ilustrar o contraste entre a cidade e o campo, o autor serve-se da fábula do rato do campo e do rato da cidade. O rato da cidade, tendo-se perdido, vai ter ao campo. Constatando a pobreza aí existente, tenta o rato do campo com a vida luxuosa da metrópole. Deixando-se iludir, este vai para a corte onde imediatamente se apercebe dos perigos que a envolvem. O rato do campo regressa ao seu espaço campestre, considerando, de acordo com a tese da aurea mediocritas, que "mais vale ter o suficiente sem grandes preocupações e cansaços do que ter muito com o perigo à espreita."
Na Carta a António Pereira, Senhor de Basto, o autor aborda novamente a dicotomia cidade/ campo a propósito da partida do seu amigo para a corte.
A cidade de Lisboa simboliza a corrupção e o desconcerto. O mercantilismo surge como "fonte de todos os males", nomeadamente o despovoamento do reino, celebrizado pelos famosos versos "Mas temo-me de Lisboa/ que, ao cheiro desta canela,/ o reino nos despovoa". A oposição entre o campo e a cidade é defendida com base na sua experiência pessoal (recolhimento na Quinta da Tapada, no Minho) e no conhecimento que tem das obras de Virgílio e de Horácio (nomeadamente a exaltação que estes fazem às virtudes da Idade do Ouro).
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Como referenciar
Porto Editora – Cartas na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-28 06:24:32]. Disponível em
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