Chronica que trata da vida, e grandissimas virtudes, e bondades, magnanimo esforço, excellentes costumes, e manhas, e claros feytos do Christianissimo Dom Joam o Segundo deste nome, e dos Reys...
Incluída no Lyvro das Obras de Garcia de Resende, a Crónica de D. João II foi redigida em Évora entre 1530 e 1533, a partir de uma apropriação livre da fonte manuscrita de Rui de Pina. A matéria cronística composta por Rui de Pina, textualmente visível sobretudo a partir do capítulo XXV do relato de Resende, é reelaborada com base em notas e memórias, somadas ao longo da convivência íntima que uniu Garcia de Resende a D. João II, oferecendo, por isso, um retrato vivo do monarca, por quem não esconde uma incondicional admiração.
O autor imiscui-se, assim, na narração: como espectador que testemunhou na corte, ao mesmo tempo, as grandes transformações históricas que mudaram o rumo de Portugal durante o reinado de D. João II, e todas as movimentações, traições e interesses que se jogavam nas casas real e senhoriais; e como homem que, numa intensa apologia, veicula a sua gratidão pelo monarca que o acolheu, o formou, o estimulou e distinguiu, com privilégios e ensinamentos que "nunca ouve pay que os taes desse".
A crónica é precedida de uma pequena súmula introdutória, as "Virtudes /, Feições, Costumes, e Manhas, etc.", que apresenta a descrição física e psicológica do monarca, enaltecendo o talento do governante, ao revelar pormenores e "manhas" da sua atuação, como, por exemplo, o registo escrupuloso, num livro secreto, dos atos de "todolos homens a que mais obrigado era", e louvando a religiosidade do marido de D. Leonor, sobre quem pairou depois da morte uma fama de santidade. A crónica ampliará o panegírico, preferindo a caracterização indireta do perfil do monarca, reconstituído a partir dos seus gestos, das suas decisões e do seu discurso, como, por exemplo, ao longo de toda intriga esboçada desde a suspeita de traição até à morte do Duque de Bragança. Cruzando o registo biográfico, com os registos histórico, novelístico, encomiástico e elegíaco, a leitura da Crónica de D. João II nutre-se, deste modo, de um interesse histórico, mas também literário, dando sobejas provas do talento de Garcia de Resende como prosador.
A narração das circunstâncias e reações à morte do príncipe herdeiro, D. Afonso, dialogando intertextualmente com os prantos coligidos no Cancioneiro Geral, é dos exemplos das potencialidades literárias da sua escrita cronística.
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