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cinema de aventuras
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O cinema nasceu sob o signo da aventura. Enquanto os irmãos Lumière batizaram o seu invento de "grande viajante" e enviaram agentes para recolher imagens pelo mundo fora, os primeiros filmes de Georges Méliès já falavam de viagens e conquistas : Le Voyage Dans la Lune (Viagem à Lua, 1902) e La Conquête du Pôle (Conquista do Polo, 1912). A partir de então, o tema da aventura invadiu o cinema de tal forma que hoje é um pouco difícil definir as suas fronteiras, podendo facilmente conviver com outros géneros, como é o caso do western, da ação ou da ficção científica. No início, eram essenciais ao género os grandes feitos a conseguir, as epopeias a realizar ou as missões a cumprir, enquanto que os homens eram seres quase mitológicos e pouco humanos carregados de sentimentos nobres e despojados de si mesmos. Mais tarde, o cinema centrou-se na figura de heróis míticos como Don Juan, D' Artagnan ou Simbad. No cinema de aventuras, o herói é uma espécie de cavaleiro medieval, uma personagem quixotesca com reminiscências da literatura de cordel e de imaginários mais antigos. A temática das aventuras passou da literatura ao cinema a partir de autores como Emilio Salgari, Julio Verne, Edgar Rice Burroughs ou Edgar Allan Poe e escolheu três temáticas preferenciais: a aventura exótica oriental ou africana, o filme de mar, seja de guerra, de piratas ou de temas como o ar, a velocidade, a guerra, históricos ou do futuro. Estes temas só se tornam difundidos verdadeiramente com o cinema sonoro, dado que, apesar de algumas alusões orientais dos filmes de Rudolph Valentino, The Sheik (1921) e The Son of Sheik (1926), os filmes mudos são essencialmente urbanos. O motivo surge com os documentários de Flaherty, e Hollywood não tarda a lançar White Shadows in the South Seas (Sombras Brancas nos Mares do Sul, 1928), de van Dyke, seguindo-se The Pagan (O Pagão, 1929) e Trader Horn (1930), em que se explora os mares do Sul e a África, esta última presente nesta temática nas três décadas seguintes. As grandes obras-primas dos ambientes africanos são Hatari! (1961), de Howard Hawks, The Roots of Heaven (As Raízes do Céu, 1958), de John Huston, e, em menor escala, Safari (1940), de Edward H. Griffith, The Macomber Affair (A Mulher e a Selva, 1947), de Zoltan Korda, King Solomon's Mines (As Minas do Rei Salomão, 1950), de Compton Bennett e Andrew Maton, The Snows of Kilimanjaro (As Neves do Kilimanjaro, 1952), de Henry King, Mogambo (1953), de John Ford, ou The Naked Jungle (Marabunta, 1954), de Byron Haskin. A grande parte dos filmes sobre África está marcada pelo racismo, quer ativo quer passivo, por se basear na mentalidade e na cultura do mundo ocidental de então. O cinema de aventura abordou os temas da Legião Estrangeira, do continente perdido da Atlântida, das ilhas paradisíacas. Exemplos desta temática podem ser encontrados em Tabu (1931), do alemão F. W. Murnau, Bird of Paradise (Ave do Paraíso, 1931), de King Vidor, com Dolores del Rio, que teria uma nova versão em 1951 realizada por Delemer Daves, Mara Maru (1952), de Gordon Douglas, The Island of Desire (1952), de Stuart Heisler, The Blue Lagoon (1948), de Frank Launder, ou Hawaii (Havai, 1968), de George Roy Hill. O império colonial inglês da Índia também esteve presente em muitos filmes do género e o Livro da Selva conheceu versão cinematográfica e de animação. No destino exótico do cinema norte-americano, estiveram o Vietname, o Norte de África e até Portugal (Lisbon, 1956, com Alan Ladd), para além dos temas das Aventuras de Marco Polo, O Ladrão de Bagdad, As Mil e Uma Noites ou Salomé, que deram origem a várias versões de filmes. O fascínio do mar esteve presente no seu melhor no motim de Mutiny on the Bounty (Revolta da Bounty, 1935), de Frank Lloyd, ou em The Cane Mutiny (1954, Revoltados do Caine), de Edward Dmytryk, com Humphrey Bogart. Os realizadores que mais cultivaram o tema da aventura no mar foram Raoul Walsh, John Ford, John Huston (Moby Dick, 1954-56), Peter Brooks (Lord Jim, 1965), Steven Spielberg, George Lucas ou James Cameron, entre outros. Entre os temas com grande sucesso encontram-se a adaptação literária de Júlio Verne em 20,000 Leagues Under the Sea (As Vinte Mil Léguas Submarinas, 1954), de Richard Fleischer, o filme animado Yellow Submarine (Submarino Amarelo, 1969), com as caricaturas dos Beatles, a banda pop do século. O naufrágio do Titanic (1997), de James Cameron, com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, foi a versão mais famosa de todas as que foram realizadas sobre a tragédia do transatlântico Titanic. Os piratas e os corsários estiveram presentes em muitos filmes, dos quais se destacam The Buccaneer (O Corsário Lafitte, 1937) e Reap the Wild Wind (O Vento Selvagem, 1942), de Cecil B. De Mille, Captain Blood (Capitão Blood, 1935), de Michael Curtiz, The Black Swan (O Pirata Negro, 1942), de Henry King, China Seas (Nos Mares da China, 1935), de Tay Garnett, Treasure Island (A Ilha do Tesouro, 1934), de Victor Fleming, A High Wind in Jamaica (Tempestade na Jamaica, 1965), de Alexander Mackendrick, ou o mais recente Pirates of the Caribbean (Piratas das Caraíbas, A Maldição do Pérola Negra, 2003). Se os filmes sobre o mar se inspiraram nos livros que antecederam o cinema, o tema da aviação foi desenvolvido em paralelo no cinema e na literatura. A par de Antoine de Saint-Exupéry nos livros, foi o milionário da indústria da aviação, Howard Hughes, a implementar o género, dirigindo filmes como Hell's Angels (Anjo do Inferno, 1930), com Jean Harlow, a atriz que ele próprio descobriu e tornou famosa. O primeiro filme sobre o ar foi 'Round the World in 80 Days (A Volta ao Mundo em 80 Dias, 1914), em que aparecia um balão. Veria a continuação da sequência cerca de uma década mais tarde já com o avião em Wings (Asas, 1927), de William Wellman, com Clara Bow e Gary Cooper. Seguiram-se Howard Hawks com The Air Circus (1928), Frank Capra com Flight (1929), numa extensa lista até aos nossos dias com os supersónicos modelos de Topgun. As corridas de automóvel foram também um tema desenvolvido por muitos realizadores como Howard Hawks (Heróis da Pista, 1932) ou Lee H. Katzin (Le Mans, 1971). O cinema de aventuras explorou, ao longo dos tempos, uma série de personagens e temas desde os fantásticos Super-Homem, o Homem Aranha, Batman aos históricos e literários Conde de Monte Cristo, Três Mosqueteiros, Tarzan (cerca de 50 filmes, desde 1918 até 1972), Zorro, Robin dos Bosques, Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda, Cristóvão Colombo, Lawrence da Arábia ou a mítica Atlântida, numa imensidade de heróis e aventuras. Entre os atores mais famosos deste género contam-se Errol Flynn, Clark Gable, Tyrone Power, Douglas Fairbanks, Will Smith, Mel Gibson, Kevin Costner, Harrison Ford ou Johnny Depp. A partir de dada altura, foram as sagas temáticas que ficaram em moda, como as várias edições do Agente Secreto 007, personificado por vários atores como Roger Moore, Sean Connery ou Pierce Brosnan. Seguiram-se as séries Indiana Jones (iniciada nos anos 80), de Steven Spielberg, com Harrison Ford, Star Wars (Guerra das Estrelas), a partir dos anos 70, de realizadores como George Lucas, Irvin Kershner ou Richard Marquand, Crocodilo Dundee, dos anos 80, ou ainda as séries Alien, com Sigourney Weaver, e os mais recentes Harry Potter and the Sorcerer's Stone (Harry Potter e a Pedra Filosofal, 2001), de Chris Columbus e a trilogia Lord of the Rings (O Senhor dos Anéis, 2001-2003) de Peter Jackson.
O Homem-Aranha, criado por Steve Ditko e transportado pela 1.ª vez para o cinema, em 2002, por Sam Raimi
Gary Cooper participou em filmes de diferentes géneros, como musicais e de aventuras
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