Clepsidra
Título da única obra poética publicada de Camilo Pessanha, cuja primeira edição, de 1920, resultou de uma iniciativa de João de Castro Osório, detém um lugar privilegiado na definição da sua poesia, na medida em que aponta desde logo para um uso do poder simbólico da palavra, concentrando em si aspetos temáticos fundamentais da obra: por um lado, a noção da passagem do tempo e de caducidade da vida e da palavra humanas, que decorre do sentido literal da palavra "clepsidra", e, por outro, porque contém foneticamente uma alusão ao ser mitológico Hidra, a serpente marinha cujas múltiplas cabeças reapareciam à medida que eram cortadas, encerra também um símbolo da "inutilidade da vontade e do esforço humanos perante algo que lhes é exterior e adverso" (cf. LOPES, Teresa Coelho - A Clepsidra de Camilo Pessanha, Lisboa, Seara Nova, 1979, p. 279).
Outro dos aspetos que ressaltam de uma primeira abordagem de Clepsidra, obra marcante do ponto mais alto do Simbolismo português, é o facto de o volume obedecer a uma intenção de conjunto, que tem como abertura o poema "Inscrição" e como termo "Poema Final", cuja inclusão da palavra "clepsidra" estabelece uma circularidade com o título da obra. Do ponto de vista temático, grande número das composições fazem apelo à desistência, à renúncia, à demissão da sensibilidade como forma de obstar ao sofrimento, abulia que se traduzirá, "sob o ponto de vista da sua teoria do conhecimento, pelo fenomenismo", isto é, por uma consciência de "encarar os fenómenos como simples desfile de aparências sem essência" (cf. LOPES, Óscar - Entre Fialho e Nemésio, vol. I, Lisboa, INCM, 1987, p. 122), o que, ao nível lexical, se consubstancia numa predominância de notações sensoriais. Ao mesmo tempo, a Clepsidra opera uma renovação do soneto clássico e romântico, cuja estrutura interna é subvertida por uma tendência para a fuga, "quanto possível, da asserção lógica para a interrogação, a exclamação, a reticência, a pura indigitação de coisas ou, melhor, de qualidades" (id. ibi, p. 125) e por uma "redução ao mínimo, do ponto de vista sintático, da "necessidade de asserção e enlace raciocinante" (id. ibi., p. 132). Um dos aspetos que mais vincadamente definem a poética de Clepsidra funda-se, porém, na musicalidade corpórea dos versos, que permitiria quase reduzir algumas composições a "esquemas quantitativos regulares" (id. ibi., pp. 126-127) e que decorre ainda do recurso à aliteração e à rima interna.
Outro dos aspetos que ressaltam de uma primeira abordagem de Clepsidra, obra marcante do ponto mais alto do Simbolismo português, é o facto de o volume obedecer a uma intenção de conjunto, que tem como abertura o poema "Inscrição" e como termo "Poema Final", cuja inclusão da palavra "clepsidra" estabelece uma circularidade com o título da obra. Do ponto de vista temático, grande número das composições fazem apelo à desistência, à renúncia, à demissão da sensibilidade como forma de obstar ao sofrimento, abulia que se traduzirá, "sob o ponto de vista da sua teoria do conhecimento, pelo fenomenismo", isto é, por uma consciência de "encarar os fenómenos como simples desfile de aparências sem essência" (cf. LOPES, Óscar - Entre Fialho e Nemésio, vol. I, Lisboa, INCM, 1987, p. 122), o que, ao nível lexical, se consubstancia numa predominância de notações sensoriais. Ao mesmo tempo, a Clepsidra opera uma renovação do soneto clássico e romântico, cuja estrutura interna é subvertida por uma tendência para a fuga, "quanto possível, da asserção lógica para a interrogação, a exclamação, a reticência, a pura indigitação de coisas ou, melhor, de qualidades" (id. ibi, p. 125) e por uma "redução ao mínimo, do ponto de vista sintático, da "necessidade de asserção e enlace raciocinante" (id. ibi., p. 132). Um dos aspetos que mais vincadamente definem a poética de Clepsidra funda-se, porém, na musicalidade corpórea dos versos, que permitiria quase reduzir algumas composições a "esquemas quantitativos regulares" (id. ibi., pp. 126-127) e que decorre ainda do recurso à aliteração e à rima interna.
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Porto Editora – Clepsidra na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-23 03:39:30]. Disponível em
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