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Condado Portucalense
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Território compreendido entre o Tejo e o Minho que foi entregue ao governo do conde D. Henrique no período da Reconquista Cristã. Mais tarde, com D. Afonso Henriques, filho de D. Henrique, o Condado Portucalense estaria na origem do reino independente de Portugal. Iniciada a Reconquista, vários reinos se formaram na retaguarda do avanço cristão: Astúrias, Oviedo, Leão, Castela e Aragão.

Alguns fundiram-se, outros desmembraram-se; porém, não mais permitiram um domínio árabe total da Península Ibérica. Muitos cavaleiros estrangeiros, filhos-segundos à procura de fortuna ou prestígio militar e poder político, associaram-se a este esforço de Reconquista, arregimentando-se aos contingentes dos reis cristãos, nomeadamente de D. Afonso VI de Leão, Castela e Galiza, autoproclamado Imperador das Espanhas. Entre estes terá vindo Henrique da Borgonha, bisneto de Roberto II de França e sobrinho-neto de Hugo, abade de Cluny, primo de Raimundo, também ele vindo para a Península. Casou-se com D. Teresa (ainda criança), filha bastarda de Afonso VI, ao passo que Raimundo desposou D. Urraca, primogénita do mesmo rei de Leão e Castela. Recebeu D. Henrique, de Afonso VI, como dote talvez, o governo (a partir de 1095) do território compreendido entre o Tejo e o Minho, designado então por Condado Portucalense.

Englobava este território as terrae de Portucale (Porto) e Coimbra, com Santarém, que fechava o flanco sul, dependente dos avanços ou recuos da Reconquista. A designação condado difere pois da abrangência geográfica de terrae ou província portucalense, que não incluía Coimbra ou Santarém, que passam a fazer parte do Condado aquando da sua outorga a D. Henrique. Alguns autores, como Alexandre Herculano, subordinam o Condado a D. Raimundo e ao seu domínio da Galiza; outros, unicamente ao monarca, D. Afonso VI. Um dos objetivos principais da formação do condado e da atribuição do governo ao cavaleiro borguinhão terá sido a defesa do flanco meridional desta região face aos contra-ataques almorávidas, que chegaram a reconquistar mesmo Lisboa (1094?), mantendo-se todavia Santarém na posse dos cristãos. Também terá pesado a enorme extensão do território galego então, da Corunha ao Tejo.

Os limites do Condado Portucalense
D. Teresa e Conde D. Henrique, a cujo governo foi doado o Condado Portucalense
O carácter jurídico da atribuição do Condado permanece polémico e alvo de interpretações várias, diferindo de acordo com a leitura de um ou outro documento coevo. Alexandre Herculano, por exemplo, defende a tese da tenência (posse) amovível, isto é, mera doação régia sem implicar que passe para os seus herdeiros; Paulo Merêa confere já a essa concessão um carácter hereditário. D. Teresa, como diz Joel Serrão, mantém em ambas as teorias a posse do Condado, mesmo quando, em 1109, por desavenças com D. Afonso VI, D. Henrique perde a posse do mesmo, procurando apoios no seu país, nomeadamente em Cluny, importante abadia beneditina com grande influência espiritual e política na Cristandade ocidental.

D. Henrique tenta fortalecer, também religiosamente, o seu governo do Condado, reforçando Braga como sede metropolitana, rival de Toledo, com o vínculo papal das dioceses de Coimbra, Lamego e Viseu para a arquidiocese minhota, em 1102. Braga passa a ser a Igreja primaz das dioceses do Ocidente cristão da Península, afastando a influência toledana do Condado Portucalense.
Outros momentos, porém, definem a história do Condado Portucalense e desenham o seu futuro, como por exemplo o Pacto Sucessório acordado entre D. Raimundo e D. Henrique, recebendo este Toledo, ou a Galiza, em troca do seu apoio para a conquista do trono de Leão e Castela, entretanto garantido a D. Sancho, filho de D. Afonso VI com a árabe Zaida. Contudo, D. Raimundo morre em 1107, e no ano seguinte morre D. Sancho. Em 1109, o mesmo acontece a Afonso VI. Este, ainda em vida, concebera o plano de casar D. Urraca com o rei de Aragão, entregando a Galiza ao neto Afonso Raimundes, mas sem direito de ascender ao trono e na dependência do padrasto e da mãe. D. Henrique não concorda com este plano, contrário ao Pacto Sucessório, o que faz com que seja afastado do Condado em 1109 por Afonso VI, que dá o seu governo a D. Urraca. Esta, mais tarde, por influência de D. Teresa, devolve-o ao cunhado, entretanto em busca de apoios em França. Por essa altura, os Almorávidas avançam para norte, tomando Santarém e ameaçando Coimbra.

D. Urraca sucede a D. Afonso VI. Por influência da nobreza galega, desposa Afonso I de Aragão, pondo em perigo a independência de Leão. Esses mesmos nobres, perante tal ameaça, contestam o soberano aragonês e repudiam o casamento, originando conflitos entre fidalgos de vários reinos cristãos. Os nobres aclamam como rei da Galiza D. Afonso Raimundes, filho do primeiro casamento de D. Urraca, o que origina uma série de lutas civis. Em toda esta situação de conflito e intriga, D. Henrique, mesmo longe, tenta tornar o Condado independente da Galiza e do seu sobrinho.

Entretanto, morre em 1112, deixando um filho de três anos, Afonso Henriques. Passa a governar o condado D. Teresa, que honra os compromissos de D. Henrique. Apoiada por nobres galegos e pelo bispo compostelano, entra em conflito com D. Urraca, rainha de Leão e Castela, que, vencendo a irmã em 1119, toma posse do Condado. O arcebispo de Braga, D. Paio Mendes, com alguns nobres portucalenses, submete-se a D. Urraca. O prelado será, porém, obrigado a refugiar-se em Zamora quando, mais tarde, D. Teresa retoma o governo condal, com algumas concessões. Nessa cidade leonesa, Afonso Henriques, acompanhante do arcebispo, arma-se sozinho cavaleiro. Mais tarde, o arcebispo regressa a Braga, entrando-se num período de acalmia até à morte de D. Urraca em 1126. Sucede-lhe o filho, D. Afonso Raimundes (futuro D. Afonso VII), que logo lembra à tia deveres feudais e lhe impõe submissão em 1127.

D. Teresa, extremamente ligada a Fernão Peres de Trava, levanta cada vez mais contra si os ódios da nobreza portucalense e do próprio povo, com o filho, Afonso Henriques, à frente dos descontentes. D. Afonso VII chega mesmo a invadir o Condado Portucalense. Afonso Henriques, com fidalgos do condado, levanta-se militarmente contra a mãe, derrotando as forças galegas de D. Teresa na Batalha de S. Mamede, em 1128. O jovem Afonso Henriques assume, então, em 24 de junho de 1128, o governo do Condado Portucalense. Bloqueado o avanço para norte do rio Minho, por acordo com D. Afonso VII, seu primo, e com os Árabes perto de Coimbra, D. Afonso Henriques empreende a expansão para sul. Ainda atacará algumas vezes a Galiza, derrotando mesmo em 1137, em Cerneja, o exército leonês, de forma a defender também o flanco norte. Juridicamente, o termo Condado não desaparece de imediato. Tal acontecerá só depois da sua autoproclamação como príncipe ou rei.

Ameaçado o flanco sul do Condado pelos Árabes, o jovem guerreiro trava contra estes uma batalha em Ourique, em 1139, desbaratando-os. Empreende, simultaneamente, lutas contra os leoneses (1140), conquistando posições políticas e até territoriais para o Condado, entrando-se depois em tréguas até 1143, quando assina a paz em Zamora, onde é reconhecido como rei. Afonso Henriques usava já o título havia três anos, desde o torneio de Arcos de Valdevez, em 1140, após o episódio de Ourique. Desaparece, assim, a designação histórica de Condado Portucalense: nasce o reino de Portugal.

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Como referenciar
Porto Editora – Condado Portucalense na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-13 09:34:18]. Disponível em
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