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Contos da Montanha
Coletânea de contos cujo título Contos da Montanha remete o leitor para um espaço situado no interior, esta obra, publicada em 1941 e constituída por 23 contos, é da autoria de Miguel Torga.
Nascido em S.Martinho de Anta, Vila Real de Trás-os-Montes, o autor foi obrigado a ausentar-se da sua terra natal, ainda muito novo. Razões de ordem económica, que o impediam de dar continuidade à sua formação académica, foram fatores determinantes na sua partida. Estas dificuldades, que Miguel Torga percebia na maior parte das pessoas do povo que o rodeavam, marcaram-no profunda e definitivamente, enquanto lutador pelos direitos dos mais desvaforecidos.
A este propósito, afirma que este espaço e estas gentes foram veiculadores da sua ética, num período da vida - a infância - que é determinante nos comportamentos futuros, considerando, por isso, S. Martinho de Anta o farol orientador do seu caminho.
Poeta telúrico, a sua mensagem, contudo, rompe as fronteiras transmontanas, não se circunscrevendo à terra-mãe. Na verdade, sendo um homem universal, entende o telurismo como "a profunda e intrínseca" ligação do homem à terra, em qualquer parte do mundo.
Com uma forte componente humana, os textos de Torga assentam mais em descrições do comportamento humano, das suas emoções e dos seus sentimentos do que em descrições de aspetos paisagísticos, de que é exemplo a seguinte caracterização feita pelo próprio autor: "Heróis altivos, cingidos às leis da condição, desde o nascimento, que estão acostumados a enfrentar os caprichos do destino por sua conta e risco, mesmo quando afiançados (?) Portugueses, como é evidente, viram a luz do dia nas terras latas de Trás-os-Montes (?) Têm, pois, todos os traços fisionómicos da região. Duros e terrosos (?)".
Assim, por exemplo, a personagem do primeiro conto, Maria Lionça personifica a ruralidade e a dignidade daquelas mulheres que, apesar de analfabetas, se impunham pelo respeito e pela sua sabedoria popular empírica. Mulher da montanha, de Galafura, desde muito nova, o destino lhe reservou uma vida de sofrimento. Mulher corajosa, habituada a resistir à miséria e à desgraça, Maria Lionça atinge o auge do seu sofrimento, quando traz para a aldeia, o seu filho Pedro, já morto, para que pudesse "dormir o derradeiro sono em Galafura".
A Melra, do conto Bruxedo, mulher de sessenta e cinco anos, uma fortaleza de dedicação à família e ao trabalho, personifica as superstições que, ao longo de muitas gerações, se foram enraizando, fazendo parte do seu quotidiano. Não encontrando justificação para as dores que começaram a definhá-la, após uma luta corporal com uma vizinha - a Gomes - a Melra acreditava que só poderia ser feitiço.
Querendo dar suporte a esta cultura popular, este conto, que nos remete para uma vivência enformada pelas crendices e superstições, termina com a morte da Melra a quem a Gomes fizera um feitiço, deixando Inácio, que não acreditava em bruxarias, perplexo : "E, mal puxou a porta, caiu-lhe aos pés um manipanso de farrapos todo cravado de alfinetes e com um grande prego de caibro espetado no sítio do coração."
A exemplo destas duas personagens, também as outras retratam a "paisagem do país. A humana e a outra".
Os títulos dos 23 contos antologiados neste livro são os seguintes: A Maria Lionça; Um roubo; Amor; Homem de Vilarinho; O Cavaquinho; A ressureição; Um filho; A promessa; Maio Moço; O Bruxedo; A paga; Inimigos; Solidão; A ladainha; O vinho; O lugar de sacristão; Justiça; A vindima; Um coração desassossegado; A revelação; O desamparo de S. Frutuoso;O castigo; O pé tolo.
Nascido em S.Martinho de Anta, Vila Real de Trás-os-Montes, o autor foi obrigado a ausentar-se da sua terra natal, ainda muito novo. Razões de ordem económica, que o impediam de dar continuidade à sua formação académica, foram fatores determinantes na sua partida. Estas dificuldades, que Miguel Torga percebia na maior parte das pessoas do povo que o rodeavam, marcaram-no profunda e definitivamente, enquanto lutador pelos direitos dos mais desvaforecidos.
A este propósito, afirma que este espaço e estas gentes foram veiculadores da sua ética, num período da vida - a infância - que é determinante nos comportamentos futuros, considerando, por isso, S. Martinho de Anta o farol orientador do seu caminho.
Poeta telúrico, a sua mensagem, contudo, rompe as fronteiras transmontanas, não se circunscrevendo à terra-mãe. Na verdade, sendo um homem universal, entende o telurismo como "a profunda e intrínseca" ligação do homem à terra, em qualquer parte do mundo.
Com uma forte componente humana, os textos de Torga assentam mais em descrições do comportamento humano, das suas emoções e dos seus sentimentos do que em descrições de aspetos paisagísticos, de que é exemplo a seguinte caracterização feita pelo próprio autor: "Heróis altivos, cingidos às leis da condição, desde o nascimento, que estão acostumados a enfrentar os caprichos do destino por sua conta e risco, mesmo quando afiançados (?) Portugueses, como é evidente, viram a luz do dia nas terras latas de Trás-os-Montes (?) Têm, pois, todos os traços fisionómicos da região. Duros e terrosos (?)".
Assim, por exemplo, a personagem do primeiro conto, Maria Lionça personifica a ruralidade e a dignidade daquelas mulheres que, apesar de analfabetas, se impunham pelo respeito e pela sua sabedoria popular empírica. Mulher da montanha, de Galafura, desde muito nova, o destino lhe reservou uma vida de sofrimento. Mulher corajosa, habituada a resistir à miséria e à desgraça, Maria Lionça atinge o auge do seu sofrimento, quando traz para a aldeia, o seu filho Pedro, já morto, para que pudesse "dormir o derradeiro sono em Galafura".
A Melra, do conto Bruxedo, mulher de sessenta e cinco anos, uma fortaleza de dedicação à família e ao trabalho, personifica as superstições que, ao longo de muitas gerações, se foram enraizando, fazendo parte do seu quotidiano. Não encontrando justificação para as dores que começaram a definhá-la, após uma luta corporal com uma vizinha - a Gomes - a Melra acreditava que só poderia ser feitiço.
Querendo dar suporte a esta cultura popular, este conto, que nos remete para uma vivência enformada pelas crendices e superstições, termina com a morte da Melra a quem a Gomes fizera um feitiço, deixando Inácio, que não acreditava em bruxarias, perplexo : "E, mal puxou a porta, caiu-lhe aos pés um manipanso de farrapos todo cravado de alfinetes e com um grande prego de caibro espetado no sítio do coração."
A exemplo destas duas personagens, também as outras retratam a "paisagem do país. A humana e a outra".
Os títulos dos 23 contos antologiados neste livro são os seguintes: A Maria Lionça; Um roubo; Amor; Homem de Vilarinho; O Cavaquinho; A ressureição; Um filho; A promessa; Maio Moço; O Bruxedo; A paga; Inimigos; Solidão; A ladainha; O vinho; O lugar de sacristão; Justiça; A vindima; Um coração desassossegado; A revelação; O desamparo de S. Frutuoso;O castigo; O pé tolo.
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Como referenciar
Porto Editora – Contos da Montanha na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-16 23:39:21]. Disponível em
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