convento
No sentido original, a partir do latim conventus, significava algo como "assembleia". O termo não tinha uma significação ou utilização religiosa, mas essencialmente administrativa ou judicial. Por exemplo, as províncias romanas estavam organizadas em conventos, que seriam equivalentes a distritos, na conceção atual. O sentido atual, de cariz religioso, remonta apenas ao século XIII, aplicando-se às casas onde religiosos ou religiosas vivam em comunidade.
Em termos de estrutura física, enquanto habitação ou casa, de acordo com o tipo de vida e o tipo de ordens, existem:
Mosteiros: agrupam monges e monjas, pertencem às ordens monásticas. São pois o edifício e anexos onde habitam os referidos monges ou monjas.
Conventos: neles vivem frades, das ordens mendicantes (Franciscanos, Dominicanos, Agostinhos e Carmelitas). São assim o edifício e anexos onde estes habitam.
Às religiosas das ordens mendicantes, pelo facto de serem mulheres, os papas e os fundadores destas ordens, na Idade Média, dispuseram-nas a viver - sob Regra, para sua proteção e porque não podiam andar a pedir esmola nos aglomerados urbanos ou a viver itinerantemente, dentro do ideal mendicante - em mosteiros como monjas, mas pertencendo a ramos femininos das ordens ditas mendicantes.
Em termos de direito canónico e de designação (nem sempre assim usada) da comunidade de qualquer ordem religiosa que habite num mosteiro ou num convento (enquanto espaço físico), tanto do ramo masculino como do feminino, diz-se, por exemplo, assim: "a população conventual do mosteiro beneditino de Alcobaça era de mais de 300 monges…": tal quer dizer, neste sentido, que o termo "convento" expressa a comunidade, aqueles que, sejam monges ou frades, vivam em conjunto de um espaço religioso fechado que tanto pode ser um mosteiro como um convento. Na Idade Média dizia-se até: "o convento do mosteiro", o que significa, a comunidade do mosteiro.
Erroneamente, é comum chamar-se convento a toda e qualquer casa de religiosos ou religiosas, o que não é assim: há que distinguir se é masculino ou feminino, se é de ordens monásticas ou mendicantes, ou se se está a referir ao espaço físico ou se à comunidade.
Como casa em si, apenas designa as que pertençam aos Mendicantes. O convento, deste ponto de vista espacial, ou material, compreende não apenas a área conventual (refeitórios, dormitórios, cozinhas, salas capitulares, biblioteca, outros espaços comuns) mas também a igreja e espaços anexos, mais a cerca e horta (quando existiam).
Por outro lado, as construções que são conventos (porque pertencentes às Ordens Mendicantes) são essencialmente de implantação urbana ou peri-urbana, enquanto os mosteiros são rurais ou de montanha, embora haja exceções, principalmente depois do concílio de Trento (1543-1565). A implantação dos conventos nas vilas e cidades foi planeada e de acordo com a generosidade de doadores, quer em terras quer em financiamentos para a sua construção, depois do século XIII. Os primeiros conventos foram dos Franciscanos e dos Dominicanos; numa segunda fase, iniciada ainda no século XIII, das outras ordens mendicantes: Agostinhos e Carmelitas.
Os conventos franciscanos (mais ativos em termos pastorais e assistenciais) optavam por se instalar nas vilas ou então nas cidades mais pequenas, comerciais ou mais pobres, em casas mais pequenas e comunidades mais reduzidas. Os Dominicanos, mais ligados ao ensino e à pregação popular, à cultura e às elites urbanas, privilegiavam as cidades mais importantes ou as localidades onde existiam instituições de ensino. Uns mais próximos do "povo miúdo", dos pobres, servindo os seus conventos como bases de apoio social e humanitário, os segundos mais orientados para servirem de apoio às comunidades escolares, professores ou alunos, ou de pregação, mas também à burguesia comercial e manufatureira, depois também servindo por vezes como sedes dos tribunais da Inquisição. A formação e a ligação ao ensino entre os Dominicanos criou conventos maiores, com salas de estudo e de aulas, bibliotecas e aptidões para o apoio à vida intelectual e científica, que não existia em boa parte dos conventos franciscanos, que só em finais da Idade Média enveredaram por essa via cultural.
A vida quotidiana dos conventos não é como a dos mosteiros, onde há estabilidade, contemplação perene e clausura. O convento é um abrigo, aonde o frade (o que habita em conventos, porque mendicante) se recolhe depois do seu dia de trabalho ou ação. O ofício divino no convento em comunidade é reduzido e a vida comum também, embora haja liturgia das horas, biblioteca, refeitório, claustro e dormitório comuns. Nos conventos, (porque ligados aos mendicantes), o que existe é de todos em geral, ou dele se servem todos, pois não há posse individual ou coletiva de bens.
Mas o convento também é lugar de oração, foco de espiritualidade, mas aberto aos fiéis no âmbito da igreja conventual e dos espaços de atividade pastoral. Há missas, pregação, festas religiosas, como arte religiosa e meios de contemplação do sagrado pelos leigos e também pela comunidade. No convento de S. Marcos em Florença, recorde-se, quase todos os espaços estavam decorados com pinturas alusivas à edificação moral e cristã dos frades, com cenas da vida de Cristo e dos santos (obras do Beato Angélico).
A princípio com decoração sóbria e arquitetura mais austera e de linhas mais puras, naquilo que se designou como o "gótico mendicante", com o Barroco os conventos enveredaram por uma valorização artística, mais arrebatadora e mais rica do ponto de vista dos materiais usados (talha dourada, mármores, etc) e nos volumes construídos, maiores e albergando mais fiéis. A ideia de Pobreza, valor essencial da vida das Ordens Mendicantes e das suas casas, os conventos, tornou-se mais um ideal do que algo plasmado na vivência quotidiana e na arquitetura e decoração de espaços. Este engrandecimento e enriquecimento, que no Porto podemos contemplar em S. Francisco (hoje apenas a igreja remanesce), colide pois com as linhas puras e simples do interior do convento da Batalha (que erroneamente designam como "mosteiro", embora na Idade Média este termo fosse corrente para todas as casa religiosas, monásticas e de mendicantes, surgindo o termo convento mais no aspeto da comunidade).
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