Cristianização e Organização Eclesiástica
Idácio, bispo de Chaves, deixou uma das mais antigas descrições das invasões bárbaras. Este peninsular, proveniente de uma povoação do Vale do Lima, culto e romanizado, legou-nos uma visão muito catastrófica da entrada dos Bárbaros no território ibérico. Ao referir-se ao ano de 410, disse: "Os bárbaros, que tinham entrado na Península Hispânica, implacáveis, chacinam as populações e fazem depredações. A peste é igualmente destruidora (...)".
Este texto deixa transparecer uma visão muito pouco otimista deste período histórico, presente noutras referências do mesmo autor, que nos informa que em 411 os Bárbaros se converteram ao Cristianismo para estabelecer a paz. Como é sabido, esta conversão não foi geral; contudo, ela reflete as relações mantidas entre o clero cristão e os invasores. Mesmo Idácio teve uma ativa ação diplomática.
Outro autor cristão medieval apresentou uma descrição bastante diferente. Para Orósio, bispo da Sé de Braga, as invasões inauguravam um novo período, um novo mundo. Orósio parecia partilhar da visão de muitos autores romanos que procuravam explicar o colapso do Império Romano pela difusão do Cristianismo. Para ele, apesar de tudo, a chegada dos Bárbaros significava o fim de uma era injusta.
Os Suevos firmaram o seu poder nas áreas do Nordeste, onde a afirmação de Roma não era um projeto, quando os Bárbaros chegaram. A maior parte da população vivia em castros, explorando a terra de uma forma coletiva. A chegada de cerca de 30 000 Suevos provocou um desequilíbrio no mundo rural e conduziu ao regresso da depredação e do saque dos territórios vizinhos. As expedições de Réquila e Requiário não eram grandes projetos de ampliação do seu poder, mas sim uma recuperação no século V do modo de vida dos Lusitanos no século I a. C..
No reino suevo, a população rural vivia em castros da época pré-romana. As maiores cidades eram Braga e Lugo. Aliás, Braga, uma cidade onde a romanização era mais forte, serviu de capital dos Suevos.
A evolução do reino suevo está associada à difusão do Cristianismo. Os anos que decorreram entre 461 - data da última tentativa sueva de dominar Lisboa - e 550 - data aceite da conversão dos Suevos ao Cristianismo -, marcam a última fase do reino suevo, em que se verificou uma assimilação dos Suevos pela sociedade hispano-romana.
Os Visigodos, entretanto, tinham fixado a sua sede em Toledo, relegando Braga para um papel secundário.
Nesta última fase, Martinho bispo de Dume, teve grande importância. Este homem, natural da Panónia, veio evangelizar os Suevos, contando com a colaboração dos bispos de Braga e de Coimbra, na sua missão que lhe granjeou o epíteto de "apóstolo dos Suevos".
O Rei dos Suevos entregou-lhe a Igreja de Dume, onde se edificou um dos mosteiros mais antigos de Portugal. Desta época é também o Mosteiro de Lorvão, que foi fundamental na cristianização da região entre os rios Douro e Mondego.
Nesta fase a igreja e o trono são dois símbolos associados ao poder no reino suevo da Galiza, que terminou de uma forma simbólica em 585, com a transladação do tesouro de Braga para Toledo.
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