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Da Aliança à Guerra Fria
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A Aliança contra o eixo Roma-Berlim-Tóquio é o culminar de vários acontecimentos que se desenrolam ao longo da Segunda Guerra Mundial, quer no que diz respeito diretamente aos conflitos, quer no que toca às atividades diplomáticas e negociais.
Um passo importante dá-se quando, em junho de 1941, Hitler invade a URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - criando em Estaline um inimigo, que estará cada vez mais recetivo a um acordo com os dirigentes dos Países Aliados.
Em agosto do mesmo ano, Roosevelt e Churchill vão assinar a Carta do Atlântico, que vem assegurar o direito de todos os povos e nações à sua autodeterminação, evitando assim divisões de territórios sem a proteção dos interesses dos povos em causa. Este é um primeiro passo para a Aliança mais tarde celebrada, que apresentará um quadro de intervenientes mais vasto, bem como objetivos mais profundos e projetos mais abrangentes.
Estaline, Roosevelt e Churchill na conferência de Ialta
É já no final do ano de 1941 que os japoneses atacam Pearl Harbor e os Estados Unidos se envolvem diretamente nos conflitos.
Em 1942 são já 26 os países que, unidos em guerra contra as tropas do Eixo, adotam uma "declaração das Nações Unidas", que abrange os termos da Carta do Atlântico, acrescentando ainda o direito à liberdade religiosa.
Estaline vai aderir à "declaração das Nações Unidas" no inverno de 1943, em Teerão, onde se encontra com Churchill e Roosevelt, e se iniciam as negociações. Já nesta fase se encontram leves sintomas da criação de duas frentes antagónicas, sendo desde cedo pretensão de Estaline manter a hegemonia de todos os territórios ocupados pelo Exército Vermelho. Churchill desloca-se a Moscovo, em 1944, com o objetivo de acertar a divisão dos territórios e áreas de influência na região dos Balcãs: Churchill teria campo livre na Grécia e Estaline na Roménia e na Bulgária; sendo a Hungria e a Jusgoslávia divididas em partes iguais pelas duas potências.
Este acordo não contempla a Polónia, território entretanto disputado por duas fações, uma em Londres e outra nos territórios libertados pelo exército soviético. Este foi um ponto muito discutido em Ialta, no intuito de fundir as duas fações concorrentes, mas um acordo só se tornaria possível no ano seguinte.
Apesar da Carta das Nações Unidas só ser assinada a 25 de julho, a Aliança dos vencedores do Reich - dos países que saem ganhadores da Segunda Guerra Mundial - é ultimada entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, em Ialta, na Crimeia, onde Roosevelt, Churchill e Estaline se reúnem e partilham entre si os territórios libertados pelos exércitos britânico, americano e soviético. Estas regiões, devastadas pela guerra, são agora objeto das suas disposições no que toca a demarcação de fronteiras, anexação de territórios e definição de áreas de influência.
É também no cenário de Ialta que se funda a Organização das Nações Unidas (ONU). Esta organização tem como objetivo principal manter para sempre uma aliança entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial. Assim, é formada uma Assembleia Geral em que todos os países membros têm assento com igual estatuto e paralelamente é instituído um Conselho de Segurança, com vastos poderes, onde as cinco potências - Estados Unidos, Grã-Bretanha, URSS, França e China - têm o seu lugar permanente e ainda o direito de veto. O principal objetivo do Conselho de Segurança é a manutenção da paz.
Para o presidente Roosevelt, que foi o iniciador da conferência, é ainda importante, chegando mesmo a ser vital, assegurar que a URSS entre em guerra contra o Japão, que se mantém em conflito mesmo depois de obtida a capitulação da Alemanha. Estaline acede mas vai exigir, em troca do seu apoio, a devolução das posições perdidas aquando da Guerra Russo-Nipónica de 1904-1905. Roosevelt vê-se obrigado a ceder às exigências feitas.
A Alemanha é outro dos grandes temas de discussão de Ialta. É adotado o projeto, já proposto em Teerão, de a desagregar em estados regionais, diminuindo em grande medida a sua força e, consequentemente, a sua capacidade para se tornar numa ameaça. Contudo, este projeto não é concretizado, visto que Estaline, que a princípio se mostra concordante, acaba por se lhe opor pouco tempo depois. A unidade territorial da Alemanha é assim acordada por Estaline, Truman (que sucede a Roosevelt) e Attlee (que vence as eleições contra Churchill), em Potsdam, limitando porém o poderio industrial daquele país, impondo ainda uma desmilitarização total e perpétua. O poder político será exercido pelos quatro comandantes-chefes aliados.
Quando em 1945 se põe fim aos terrores da guerra, as tropas americanas e soviéticas encontram-se nas margens do rio Elba, festejando juntas a vitória. As forças da libertação dão as mãos e o Este comunista une-se ao Ocidente capitalista. O futuro era agora visto com esperança, chegava-se a uma nova era de paz, concórdia e liberdade.
Mas uma "nova guerra" estava para surgir: a Guerra Fria, com diferentes regras em que todos os meios são utilizados exceto o ataque frontal e militarizado de um bloco contra o outro. O mundo aparece agora polarizado por duas potências, extraeuropeias, antagónicas e irredutíveis nas suas posições.
Esta conflitualidade nasce e desenvolve-se à revelia da ONU, que, sobretudo devido às pressões da União Soviética no seio do Conselho de Segurança, se viu impotente para evitar os cerca de 130 conflitos que eclodiram desde a data da sua fundação. O cumprimento das posturas, demarcações territoriais e zonas de influência dependia da manutenção estrita das alianças entre os vencedores. Isto não se verifica e com o desenvolvimento da Guerra Fria, que se vai estender desde a Checoslováquia ao Extremo Oriente, vão-se esbatendo as linhas divisórias entre os territórios ocupados pelas tropas soviéticas, por um lado, e pelas britânicas, francesas e americanas por outro, formando-se uma nova fronteira que acaba por dividir a Alemanha e a Europa em dois mundos diferentes e antagónicos. Forma-se então aquilo que, nas palavras de Churchill, é designado por "cortina de ferro".
Em Teerão e Ialta encontrou-se uma plataforma de acordo com alguma facilidade, porque a batalha contra a Alemanha nazi se sobrepôs a quaisquer outras questões, mas logo após o fim da guerra vão emergir algumas divergências sobre a futura organização do Mundo, divergências essas que se revelam insanáveis.
Roosevelt mostrou-se solidário com as causas de emancipação das colónias, como consequência natural do triunfo da liberdade sobre a tirania, apesar da contestação de Churchill, que procurava antes um equilíbrio de poderes e de esferas de influência entre os estados emergentes da guerra. Contudo, os britânicos, já debilitados pela guerra, enfrentam problemas surgidos no seu império em desagregação. Estaline tinha uma conceção brutal da ocupação efetiva do território devido ao avanço dos seus exércitos, expressa numa enorme preocupação de formar uma rede de estados-tampão para evitar uma possível agressão do Ocidente.
Logo após a guerra, enquanto os Estados Unidos viviam a alegria e a esperança da paz e do progresso, os exércitos soviéticos não chegaram a ser desmobilizados, apontando de imediato as baterias ao novo inimigo (ex-aliado), o capitalista ocidental.
Churchill fala em 1946 nos Estados Unidos e acorda as consciências para as atividades da União Soviética na Europa e para a formação da "cortina de ferro". Truman enfrenta uma Europa que é, nesta fase, metade soviética, composta por várias democracias populares que eram, na verdade, ditaduras de partido único, como que satélites da União Soviética. 1947 é o ano da divisão.
Em junho de 1948, Estaline decretou o "Bloqueio de Berlim", cortando todos os acessos terrestres à zona ocidental da cidade e paralisando também toda a indústria. Os Estados Unidos montam então uma extraordinária operação aérea de abastecimento da cidade durante os 321 dias de cerco. Por fim, a política de Truman vai empenhar os Estados Unidos numa tentativa de contenção do expansionismo soviético.
Em abril de 1949 é celebrado o Tratado Atlântico Norte, em Washington - também por Portugal - pacto militar, de carácter defensivo, dirigido contra qualquer ameaça de Leste.
O auge da conflitualidade atinge-se em 1949, quando a União Soviética fabrica a sua primeira bomba atómica, provocando o mais profundo alarme no Ocidente. Ainda nesse ano Mao Tsé-Tung ganha a China para o comunismo. A partir daqui um quarto do mundo é comunista.
Inicia-se nos Estados Unidos o processo de "caça às bruxas", com as listas negras e as perseguições a membros e simpatizantes do Partido Comunista. As propagandas (cujo exemplo mais flagrante é provavelmente o exacerbar dos espíritos nacionalistas em torno dos Jogos Olímpicos) tornam-se num produto de uso corrente, por ambas as partes, para atacar o bloco oposto, exaltar os espíritos e "formar" as consciências.
Em 1961, apenas 16 anos após os eufóricos abraços entre os exércitos americano e soviético nas margens do Elba, inicia-se a construção do Muro de Berlim, dividindo a Europa e tornando fisicamente visível a separação entre o mundo ocidental e o mundo de leste.
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Porto Editora – Da Aliança à Guerra Fria na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-22 05:11:42]. Disponível em
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