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Deméter
Ceres para os Romanos, Deméter ("mãe-terra") era, entre os Gregos, uma divindade da Terra, mas no sentido desta como produtora de alimentos para os homens. Representava a terra fecunda e cultivada, era a deusa do trigo, padroeira das colheitas e das atividades agrícolas, das terras férteis como dos lugares de repouso dos mortos, o "povo de Deméter". Deméter tinha poderes de crescimento e de ressurreição. Ao facultar o trigo (é acima de tudo a deusa deste cereal) aos homens, terá feito com que aqueles passassem de um estado "selvagem" para um nível civilizacional mais elevado.
Era a segunda filha de Reia e de Cronos, pertencia à segunda geração divina, ou olímpica, e foi adversária de Zeus, seu irmão, e de Poseidon. Era mais nova do que Héstia e tinha mais ou menos a mesma idade de Hera. Mãe de Perséfone (ou Core, a "donzela"), sua única filha, que teve de uma união com Zeus, ficou turvada de preocupação quando a filha, num momento em que ledamente colhia um narciso num campo da Sicília (Elêusis, segundo outras versões, ou mesmo Misa ou a Arcádia também, para além de Creta), foi raptada por Hades, que surgira subitamente do ventre da terra, guiando um carro puxado por quatro cavalos negros. Hades, apaixonado, tinha pedido ao seu irmão Zeus que lhe concedesse Perséfone em casamento, sem se ter consultado, no entanto, Deméter. Perséfone era ainda criança, vivendo despreocupada com suas meias-irmãs Atena e Artemisa. Por esse casamento com o deus dos Infernos ficaria a reinar no mundo dos mortos ao lado de Hades.
Entretanto, no mundo subterrâneo dos mortos, Perséfone decidiu recusar qualquer alimento, emagrecendo bastante e ficando fraca. No mundo dos vivos, à superfície, sua mãe desinteressava-se da fertilidade dos solos, debilitando animais e murchando plantas, temendo os homens penúrias e calamidades. Entretanto, vendo Zeus a intransigência de Perséfone em não se alimentar e a recusa que fazia de Hades, decidiu convocar este para lhe recomendar a desistência de tal união, pois a filha de Deméter não o queria. Todavia, quando Zeus tal dissera a seu irmão, já Perséfone ingeria alguns alimentos, o que significava que aceitava Hades.
A busca de Deméter começara quando se sobressaltou com o grito que sua filha deu no momento do rapto, percorreu durante nove dias e nove noites, angustiadamente, com um archote em cada mão, sem comer nem beber, nem tomar banho ou arranjar-se, o mundo em busca de Perséfone. Sem êxito. Ao décimo dia, encontrou Hécate, que também ouvira o grito mas não sabia que tinha sido o raptor, pois este estava com a cabeça envolta pelas sombras da Noite. Quando descobriu o nome do raptor da sua filha, que lhe fora revelado por Hélio, o Sol, que tudo vê, recusou regressar ao Olimpo e cumprir as suas funções divinas enquanto não encontrasse Perséfone.
Nesta sua demanda infrutífera passou por Elêusis, a sul de Atenas, onde permaneceu algum tempo. Andava disfarçada de velha. Em Elêusis, foi recebida pelo rei Celeos e sua mulher, Metanira, que lhe pediram que fosse ama do seu filho mais novo, Demofonte, que algumas versões o dão como gerado por Deméter. A um outro filho de Celeos, Triptólemo, deu o primeiro grão de trigo, tendo-o incumbido de propagar as potencialidades da agricultura. Este fê-lo enchendo o seu carro, atrelado por serpentes aladas, com espigas daquele cereal, que depois espalharam os grãos pelo mundo. Agradecida aos soberanos por a terem acolhido, decidiu tornar Demofonte imortal, mergulhando-o por isso todas as noites num fogo purificador. Mas a rainha surpreendeu Deméter, que deixou a criança a queimar-se no fogo. Deméter, cuja identidade tinha sido descoberta, decidiu então abandonar o palácio real de Elêusis, não sem antes ordenar a construção de um templo a ela dedicada, revelado que tinha a sua condição divina.
Aquando do episódio com Demofonte, que a enfurecera sobremaneira, decidiu espalhar a esterilidade pela natureza, extinguindo os seres vivos. Perante esta desgraça, Hades, movido também pela pressão de Zeus e pelo facto de Perséfone (este nome recebera-o nos Infernos) já comer alguma coisa, teve que conceder a esta a possibilidade de passar metade do ano com sua mãe, Deméter, e a outra com o seu marido (ou um terço, segundo algumas lendas), o deus das profundezas, acordo alcançado com dificuldades devido à inamovibilidade da deusa. O que Perséfone comera não mais fora que um bago de romã, símbolo do casamento, que Hades ardilosamente lhe fizera ingerir. Até então a filha de Deméter nada tinha comido, pois a não ingestão de qualquer alimento era uma condição essencial para qualquer vivo sair do reino dos mortos. Ingerindo a romã, voltou nesse momento a pertencer aos Infernos. Sua mãe tinha então que voltar ao Olimpo.
Esta lenda constitui a explicação mitológica das diferenças vegetativas da Natureza. Na metade do ano em que Perséfone estava com a mãe, Deméter, feliz, fazia, na primavera, correr a seiva nas plantas que (re)nasciam por toda a parte, robustecendo-as de modo a amadurecerem e atingirem a plenitude vegetativa no verão. No outono e no inverno, quando Perséfone regressava ao submundo, a Natureza adormecia e imperava a desolação e a letargia. A Deméter se deviam as estações do ano, a germinação e os ciclos vegetativos das plantas, a alternância entre a vida e a morte, entre a fecundidade e a esterilidade, o ciclo da vida humana enfim, o destino do homem, dir-se-ia. Eram estas as bases do culto de Deméter.
Este mito era recordado de Deméter nos famosos mistérios de Elêusis. Aqui, a veneração de mãe e filha era tida como asseguradora da imortalidade dos seus fiéis, do poder de ressurreição dos homens e da sua caminhada para uma vida eterna. Recordava-se então a perda e reencontro de Perséfone, a alternância entre a vida e a morte. As festas realizavam-se no outono, com música e danças. Também as mulheres de Atenas festejavam Deméter, nas Tesmofórias, festas das mulheres casadas, que desejavam a fertilidade. Mas todo o mundo grego a festejava, mesmo na Magna Grécia (sul de Itália), onde estará na origem da sua equivalente romana, Ceres.
Era a segunda filha de Reia e de Cronos, pertencia à segunda geração divina, ou olímpica, e foi adversária de Zeus, seu irmão, e de Poseidon. Era mais nova do que Héstia e tinha mais ou menos a mesma idade de Hera. Mãe de Perséfone (ou Core, a "donzela"), sua única filha, que teve de uma união com Zeus, ficou turvada de preocupação quando a filha, num momento em que ledamente colhia um narciso num campo da Sicília (Elêusis, segundo outras versões, ou mesmo Misa ou a Arcádia também, para além de Creta), foi raptada por Hades, que surgira subitamente do ventre da terra, guiando um carro puxado por quatro cavalos negros. Hades, apaixonado, tinha pedido ao seu irmão Zeus que lhe concedesse Perséfone em casamento, sem se ter consultado, no entanto, Deméter. Perséfone era ainda criança, vivendo despreocupada com suas meias-irmãs Atena e Artemisa. Por esse casamento com o deus dos Infernos ficaria a reinar no mundo dos mortos ao lado de Hades.
Entretanto, no mundo subterrâneo dos mortos, Perséfone decidiu recusar qualquer alimento, emagrecendo bastante e ficando fraca. No mundo dos vivos, à superfície, sua mãe desinteressava-se da fertilidade dos solos, debilitando animais e murchando plantas, temendo os homens penúrias e calamidades. Entretanto, vendo Zeus a intransigência de Perséfone em não se alimentar e a recusa que fazia de Hades, decidiu convocar este para lhe recomendar a desistência de tal união, pois a filha de Deméter não o queria. Todavia, quando Zeus tal dissera a seu irmão, já Perséfone ingeria alguns alimentos, o que significava que aceitava Hades.
A busca de Deméter começara quando se sobressaltou com o grito que sua filha deu no momento do rapto, percorreu durante nove dias e nove noites, angustiadamente, com um archote em cada mão, sem comer nem beber, nem tomar banho ou arranjar-se, o mundo em busca de Perséfone. Sem êxito. Ao décimo dia, encontrou Hécate, que também ouvira o grito mas não sabia que tinha sido o raptor, pois este estava com a cabeça envolta pelas sombras da Noite. Quando descobriu o nome do raptor da sua filha, que lhe fora revelado por Hélio, o Sol, que tudo vê, recusou regressar ao Olimpo e cumprir as suas funções divinas enquanto não encontrasse Perséfone.
Nesta sua demanda infrutífera passou por Elêusis, a sul de Atenas, onde permaneceu algum tempo. Andava disfarçada de velha. Em Elêusis, foi recebida pelo rei Celeos e sua mulher, Metanira, que lhe pediram que fosse ama do seu filho mais novo, Demofonte, que algumas versões o dão como gerado por Deméter. A um outro filho de Celeos, Triptólemo, deu o primeiro grão de trigo, tendo-o incumbido de propagar as potencialidades da agricultura. Este fê-lo enchendo o seu carro, atrelado por serpentes aladas, com espigas daquele cereal, que depois espalharam os grãos pelo mundo. Agradecida aos soberanos por a terem acolhido, decidiu tornar Demofonte imortal, mergulhando-o por isso todas as noites num fogo purificador. Mas a rainha surpreendeu Deméter, que deixou a criança a queimar-se no fogo. Deméter, cuja identidade tinha sido descoberta, decidiu então abandonar o palácio real de Elêusis, não sem antes ordenar a construção de um templo a ela dedicada, revelado que tinha a sua condição divina.
Aquando do episódio com Demofonte, que a enfurecera sobremaneira, decidiu espalhar a esterilidade pela natureza, extinguindo os seres vivos. Perante esta desgraça, Hades, movido também pela pressão de Zeus e pelo facto de Perséfone (este nome recebera-o nos Infernos) já comer alguma coisa, teve que conceder a esta a possibilidade de passar metade do ano com sua mãe, Deméter, e a outra com o seu marido (ou um terço, segundo algumas lendas), o deus das profundezas, acordo alcançado com dificuldades devido à inamovibilidade da deusa. O que Perséfone comera não mais fora que um bago de romã, símbolo do casamento, que Hades ardilosamente lhe fizera ingerir. Até então a filha de Deméter nada tinha comido, pois a não ingestão de qualquer alimento era uma condição essencial para qualquer vivo sair do reino dos mortos. Ingerindo a romã, voltou nesse momento a pertencer aos Infernos. Sua mãe tinha então que voltar ao Olimpo.
Esta lenda constitui a explicação mitológica das diferenças vegetativas da Natureza. Na metade do ano em que Perséfone estava com a mãe, Deméter, feliz, fazia, na primavera, correr a seiva nas plantas que (re)nasciam por toda a parte, robustecendo-as de modo a amadurecerem e atingirem a plenitude vegetativa no verão. No outono e no inverno, quando Perséfone regressava ao submundo, a Natureza adormecia e imperava a desolação e a letargia. A Deméter se deviam as estações do ano, a germinação e os ciclos vegetativos das plantas, a alternância entre a vida e a morte, entre a fecundidade e a esterilidade, o ciclo da vida humana enfim, o destino do homem, dir-se-ia. Eram estas as bases do culto de Deméter.
Este mito era recordado de Deméter nos famosos mistérios de Elêusis. Aqui, a veneração de mãe e filha era tida como asseguradora da imortalidade dos seus fiéis, do poder de ressurreição dos homens e da sua caminhada para uma vida eterna. Recordava-se então a perda e reencontro de Perséfone, a alternância entre a vida e a morte. As festas realizavam-se no outono, com música e danças. Também as mulheres de Atenas festejavam Deméter, nas Tesmofórias, festas das mulheres casadas, que desejavam a fertilidade. Mas todo o mundo grego a festejava, mesmo na Magna Grécia (sul de Itália), onde estará na origem da sua equivalente romana, Ceres.
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Como referenciar
Porto Editora – Deméter na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-14 07:20:51]. Disponível em
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