Corpo Vegetal

Julieta Monginho

Morro da Pena Ventosa

Rui Couceiro

Pedra e Sombra

Burhan Sönmez

1 min

Diário de Édipo
favoritos

O autor do Diário, seu primeiro leitor, quando fecha a última página do livro fica perplexo: "Terminara a leitura de quê? Não era romance, não era poema, nem drama, nem ensaio. Bem ou mal (e assim para si mesmo dizia ignorando que Montaigne já escrevera algo de muito parecido...), o autor encontrara as palavras para exprimir as provisões do seu próprio espírito... Ao cabo, cogitou, é vida cristalizada. Ou não? Não lhe acudiam as palavras justas. Ficção, simples realidade transfigurada pelo pensamento? Lirismo, drama, epopeia? Poesia, romance? É necessário contar com tudo isso, tentar a integração do universo numa forma autónoma que englobe arte e filosofia: um novo modo de ensaiar o ensaio..." (p. 14). Com efeito, Diário de Édipo inaugura em Portugal um novo tipo de literatura, a "literatura de ideias", definida por Augusto da Costa Dias como "simbiose de ensaio e de ficção, na qual o imediatamente humano confessável e pessoal se integra, formando corpo único, na indagação filosófica, na crítica des-substancializante dos problemas mais angustiosos do homem contemporâneo" (cf. DIAS, Augusto da Costa, prefácio a Diário de Édipo, Lisboa, s. n., 1965), exigindo, por consequência, um novo estilo romanesco, mais flexível, capaz de "cingir no mesmo ritmo a imagem e a abstração, o fogo lírico e a severidade do pensamento" (id. ib.). Escrita que continua leituras, num diálogo permanente com outros autores, Diário de Édipo formula, ao mesmo tempo, a defesa de um ideal de ação, uma postura ideológica de inspiração existencialista definida como "humanismo integral": "o sacrifício pelo homem é um ato singular resultante de longa e penosa aspiração coletiva. Enquanto singular exige do sujeito firme responsabilidade, logo, porém, compartilhada pela comunidade dos homens livres. Momento solene e momento difícil. Tão forte apelo vai ao encontro do mais forte do homem: a sua responsabilidade moral. A opção vem acompanhada de renúncia: renúncia à descuidada alegria. Vê-se então o homem perante a perplexidade de uma ação negativa que o impele a repudiar o passado que cessa inconforme com o ideal coletivo. A vida porém está eleita; daí em diante começa a autêntica significação do seu destino. Por mais miserável que a comunidade se apresente há sempre um horizonte à sua frente" (pp. 262-263).
Partilhar
  • partilhar whatsapp
Como referenciar
Porto Editora – Diário de Édipo na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-11 01:28:33]. Disponível em

Corpo Vegetal

Julieta Monginho

Morro da Pena Ventosa

Rui Couceiro

Pedra e Sombra

Burhan Sönmez