Diogo Relvas
Personagem da obra Barranco de Cegos (1962) de Alves Redol. No contexto histórico visado por Barranco de Cegos, o período de falência nacional que sucedeu ao Ultimato inglês de 1890, a figura de Diogo Relvas, um proprietário ribatejano, em luta contra a invasão das indústrias e dos interesses financeiros, num contexto de progressiva afirmação do capitalismo, é construída de forma complexa, dada a variedade de modos de caracterização a que o narrador recorre. Poderoso patriarca que domina a família, congéneres e servos com uma autoridade que infunde nos que com ele lidam ódio, temor ou respeito, Diogo Relvas representa a pujança e carácter empreendedor de um Portugal rural, que recusou "a preguiça, o aborrecimento e a poltranice que [...] amerdalha o sangue", que repudia essa "raça de sonâmbulos" gerada nos Descobrimentos, momento decisivo para o despoletar da decadência nacional; que despreza os fracos e todos os responsáveis pelo descalabro do presente. Ao mesmo tempo, apresenta-se como reverso do progresso e da industrialização (sobretudo, quando significam a entrega do país ao domínio dos estrangeiros) e como representante derradeiro de um poder que se extinguiu com o liberalismo, diretamente legado por um Portugal feudal e antidemocrático. Dentre os traços que caracterizam esta personagem modelada, avultam, como lema do poderio dos Relvas, "a objetividade, a coragem no essencial, o amor pela perfeição e a pertinácia"; a astúcia, sobranceria e orgulho, no trato comercial e político; e, no trato humano, como modelo de comportamento o da domesticação do cavalo no picadeiro, doseando com a mesma medida o "chicote" e o "açúcar".
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Porto Editora – Diogo Relvas na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-20 00:59:49]. Disponível em
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