Diplomacia Portuguesa e a Paz com Espanha
O período que medeia entre a restauração da Independência portuguesa (1640) e a paz definitiva com Espanha, assinada em 1668, é assinalado por perturbações políticas e militares que foram marcantes para o país, aliadas a uma profunda crise económica. O movimento revolucionário de reposição da independência nacional foi liderado pela aristocracia, que depois consolidou o seu poder em torno da monarquia. O ato de sublevação em si mesmo não implicou grandes dificuldades.
O problema maior consistia em manter essa independência. Ao longo de vinte e oito anos o esforço militar, decorrente da guerra da independência, foi bastante lesivo para Portugal.
No entanto, a vontade nacionalista prevaleceu impulsionada pela defesa do território português, contando vitórias significativas que impediram a invasão espanhola.
O governo de D. João IV nem sempre contou com o apoio incondicional de toda população, nem das esferas próximas do poder, gerando um certo mal-estar. Isso mesmo se verificou quando se tentaram conspirações contra o rei. A mais perigosa foi a de 1641 na qual participaram membros da aristocracia, da burguesia e do alto clero. O seu reinado (1640 a 1656) foi pautado quer pela já mencionada crise económica quer por alguns fracassos no âmbito da diplomacia europeia. No entanto, podem-se apontar como momentos importantes as vitórias alcançadas na guerra contra a Espanha. Motivado pela tentativa de manutenção da independência, o monarca lançou pedidos de ajuda aos vários países inimigos da Espanha, que não só se revelaram infrutíferos como muitas vezes contrários aos objetivos da coroa. Pretendeu assinar um tratado de paz com a Holanda de forma a conseguir apoio militar e diplomático, o que redundou num fracasso. Os interesses deste país eram conquistar territórios portugueses de além-mar para constituir um império e, por isso, retardaram a assinatura da paz até 1661, altura em que a maioria das possessões portuguesas já se encontravam nas suas mãos. Chegaram mesmo a atacar Portugal e a cercar Lisboa durante três meses, em 1657. A França, por seu turno, prometeu ajuda a Portugal, mas não só nunca concretizou o acordo como não incluiu Portugal nas negociações de 1648, que punham termo à Guerra dos Trinta Anos.
Após o ataque da Inglaterra a Portugal, em 1650 e 1654, foi celebrado um acordo de paz que se tornou bastante oneroso para o nosso país dada a supremacia britânica. O império foi aberto ao tráfico inglês e negociou-se o casamento de Carlos II de Inglaterra com a princesa D. Catarina, que implicava a entrega de um dote constituído pelos territórios de Bombaim e de Tânger.
A Santa Sé recusou terminantemente auxiliar os interesses portugueses, não reconhecendo a independência e não confirmando os bispos nas dioceses que ficavam vagas. A pressão espanhola na Santa Sé era fortíssima, o que causou grandes agruras ao embaixador português, D. Manuel de Portugal, bispo de Lamego, que sofre "na pele" tais dissabores. Só a Suécia é que se dispôs a ajudar Portugal com o envio de armas, abastecimentos e mercenários para fazer a guerra contra a Espanha.
A necessidade de empreender contactos com o estrangeiros e concretizar alianças demonstra bem as dificuldades na manutenção de uma guerra que estava a absorver grandes quantidades de dinheiro. Esta sangria de fundos para suster o conflito teve consequências a nível ultramarino. A mobilização de homens e de dinheiro, aliada à ausência de uma força militar moderna, impedia a continuidade de uma defesa eficaz nos territórios ultramarinos, provocando a sua irremediável perda. Relativamente ao teatro de guerra, pode dizer-se que o ponto fulcral era o Alentejo, embora com algumas incursões na fronteira norte no Minho e na fronteira da região da Beira e de Trás-os-Montes. Os conflitos concentraram-se nas regiões fronteiriças com os portugueses e avançaram dentro do território espanhol, assolando vilas e aldeias e cercando outros centros, como foi o caso de Badajoz, sem nunca terem tomado a cidade. Foram as guerras em que a Espanha esteve envolvida neste período (Guerra dos Trinta Anos até 1659 e a da Catalunha) que impediram ou atenuaram o seu ataque massivo ao território português, preferindo não desperdiçar as suas forças. Apesar das pequenas ações de fronteira ocorrerem com maior frequência, também se verificaram grandes confrontos, como os que tiveram lugar no Montijo, em 1644, e em Elvas, em 1659, já durante a regência de D. Luísa de Gusmão. Entre 1649 e 1653 viveu-se uma relativa paz, mas neste último ano recrudesceu o conflito por iniciativa de Espanha, que contava com um exército reforçado. Em 1657, conseguem tomar Olivença e Mourão, mas são vencidos na já referida batalha de Linhas de Elvas. No mesmo ano recuperámos Mourão. No que diz respeito à política interna, a regência de D. Luísa de Gusmão prolongou-se por muito tempo devido às incapacidades governativas demonstradas por D. Afonso VI, já que as suas políticas estavam a ser objeto de contestação. Ocorre então o golpe de Estado, em 1662, que coloca no trono D. Afonso VI. O principal obreiro do golpe foi D. Luís de Vasconcelos e Sousa, conde de Castelo Melhor, que se torna Primeiro-Ministro, encetando uma política de reforço do poder central e da autoridade do Estado.
Foi durante o reinado de D. Afonso VI que teve lugar a batalha decisiva para a consolidação da independência portuguesa - a batalha de Montes Claros em 1665. O infante D. Pedro, juntamente com o duque de Cadaval, lideraria um golpe de Estado, em 1667, levando à demissão de Castelo Melhor e ao aprisionamento de D. Afonso VI, conseguindo a sua abdicação. Torna-se então príncipe regente, jurado nas Cortes de 1668 com o título de D. Pedro II. Criaram-se as condições para a paz com Espanha pondo fim a um longo período de conturbação.
A assinatura do tratado de paz, em 1668, implicava a manutenção das fronteiras portuguesas e das suas possessões, exceto Ceuta, que ficaria nas mãos dos espanhóis.
O problema maior consistia em manter essa independência. Ao longo de vinte e oito anos o esforço militar, decorrente da guerra da independência, foi bastante lesivo para Portugal.
No entanto, a vontade nacionalista prevaleceu impulsionada pela defesa do território português, contando vitórias significativas que impediram a invasão espanhola.
Após o ataque da Inglaterra a Portugal, em 1650 e 1654, foi celebrado um acordo de paz que se tornou bastante oneroso para o nosso país dada a supremacia britânica. O império foi aberto ao tráfico inglês e negociou-se o casamento de Carlos II de Inglaterra com a princesa D. Catarina, que implicava a entrega de um dote constituído pelos territórios de Bombaim e de Tânger.
A Santa Sé recusou terminantemente auxiliar os interesses portugueses, não reconhecendo a independência e não confirmando os bispos nas dioceses que ficavam vagas. A pressão espanhola na Santa Sé era fortíssima, o que causou grandes agruras ao embaixador português, D. Manuel de Portugal, bispo de Lamego, que sofre "na pele" tais dissabores. Só a Suécia é que se dispôs a ajudar Portugal com o envio de armas, abastecimentos e mercenários para fazer a guerra contra a Espanha.
A necessidade de empreender contactos com o estrangeiros e concretizar alianças demonstra bem as dificuldades na manutenção de uma guerra que estava a absorver grandes quantidades de dinheiro. Esta sangria de fundos para suster o conflito teve consequências a nível ultramarino. A mobilização de homens e de dinheiro, aliada à ausência de uma força militar moderna, impedia a continuidade de uma defesa eficaz nos territórios ultramarinos, provocando a sua irremediável perda. Relativamente ao teatro de guerra, pode dizer-se que o ponto fulcral era o Alentejo, embora com algumas incursões na fronteira norte no Minho e na fronteira da região da Beira e de Trás-os-Montes. Os conflitos concentraram-se nas regiões fronteiriças com os portugueses e avançaram dentro do território espanhol, assolando vilas e aldeias e cercando outros centros, como foi o caso de Badajoz, sem nunca terem tomado a cidade. Foram as guerras em que a Espanha esteve envolvida neste período (Guerra dos Trinta Anos até 1659 e a da Catalunha) que impediram ou atenuaram o seu ataque massivo ao território português, preferindo não desperdiçar as suas forças. Apesar das pequenas ações de fronteira ocorrerem com maior frequência, também se verificaram grandes confrontos, como os que tiveram lugar no Montijo, em 1644, e em Elvas, em 1659, já durante a regência de D. Luísa de Gusmão. Entre 1649 e 1653 viveu-se uma relativa paz, mas neste último ano recrudesceu o conflito por iniciativa de Espanha, que contava com um exército reforçado. Em 1657, conseguem tomar Olivença e Mourão, mas são vencidos na já referida batalha de Linhas de Elvas. No mesmo ano recuperámos Mourão. No que diz respeito à política interna, a regência de D. Luísa de Gusmão prolongou-se por muito tempo devido às incapacidades governativas demonstradas por D. Afonso VI, já que as suas políticas estavam a ser objeto de contestação. Ocorre então o golpe de Estado, em 1662, que coloca no trono D. Afonso VI. O principal obreiro do golpe foi D. Luís de Vasconcelos e Sousa, conde de Castelo Melhor, que se torna Primeiro-Ministro, encetando uma política de reforço do poder central e da autoridade do Estado.
Foi durante o reinado de D. Afonso VI que teve lugar a batalha decisiva para a consolidação da independência portuguesa - a batalha de Montes Claros em 1665. O infante D. Pedro, juntamente com o duque de Cadaval, lideraria um golpe de Estado, em 1667, levando à demissão de Castelo Melhor e ao aprisionamento de D. Afonso VI, conseguindo a sua abdicação. Torna-se então príncipe regente, jurado nas Cortes de 1668 com o título de D. Pedro II. Criaram-se as condições para a paz com Espanha pondo fim a um longo período de conturbação.
A assinatura do tratado de paz, em 1668, implicava a manutenção das fronteiras portuguesas e das suas possessões, exceto Ceuta, que ficaria nas mãos dos espanhóis.
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Como referenciar
Porto Editora – Diplomacia Portuguesa e a Paz com Espanha na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-22 02:04:35]. Disponível em
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