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discurso
Conceito extremamente polissémico, nascido na filosofia clássica e que ganhou maior divulgação com os trabalhos recentes em análise do discurso e pragmática.
O termo discurso surge assim como um dos membros presentes em célebres dicotomias terminológicas de inspiração estruturalista:
Discurso vs Frase: nesta aceção, discurso é uma unidade linguística formada por uma sucessão de frases, ou seja, o discurso é um conjunto de frases. Trata-se de uma conceção em desuso e redutora, através da qual a análise do discurso se fazia apenas a um nível sintático-semântico.
Discurso vs Língua: i) oposição próxima da dicotomia de Ferdinand de Saussure que opunha língua a fala (langue/parole). Nesta aceção, língua define-se por sistema de valores virtuais, enquanto que discurso é o uso da língua num contexto particular. ii) Para E. Benveniste, discurso é a língua tal como ela é assumida pelo sujeito que a fala e dentro da condição de intersubjetividade que torna possível a comunicação linguística. iii) Para outros ainda, a língua é um sistema partilhado pelos membros de uma dada comunidade linguística, enquanto que discurso é um uso restrito desse sistema. Falamos aqui de expressões como "discurso fascista", "discurso futurista". Nesta aceção, discurso é um termo ambíguo, porque pode referir simultaneamente o sistema que permite gerar um conjunto de textos ou os textos gerados por esse sistema.
Discurso vs Texto : dicotomia assente na oposição oralidade vs escrita respetivamente (Mário Vilela, 1999), sendo portanto o discurso sinónimo de "interação verbal humana, apoiada, na sua forma oral, por elementos extra-verbais, como gestos, expressões faciais e elementos paralinguísticos" (entoação, ritmo, pausas, etc). J. M. Adam (1989) define discurso como o conjunto do texto mais as condições da sua produção (Discurso = Texto + Condições de Produção) por oposição a Texto que é o discurso sem as condições da sua produção (Texto = Discurso - Condições de Produção).
Discurso vs Enunciado: nesta aceção enunciado resulta de um olhar sobre um texto do ponto de vista da sua estruturação na língua, enquanto que discurso é o estudo linguístico das condições de produção deste texto (L. Guespin, 1971).
A tradição anglo-saxónica não distingue discurso de texto, perspetiva aliás adotada por alguns dos principais investigadores em Pragmática do Português: Joaquim Fonseca, que se refere à "Linguística do Texto/Discurso" e Maria Aldina Marques, que prefere o termo discurso para se referir indiferentemente a texto e a discurso.
Desde a década de oitenta que o termo discurso ganha dimensão no âmbito das ciências da linguagem em geral e da análise do discurso em particular, passando a ser definido em função dos seguintes princípios:
• O discurso é uma organização transfrásica, na medida em que não se limita às fronteiras de uma frase, mas que pode ser representado por uma frase; enquanto unidade transfrástica, o discurso está submetido a regras de organização que permitem incluí-lo dentro de géneros discursivos.
• O discurso é orientado, na medida em que é construído em função do objetivo do locutor;
• O discurso é uma forma de ação, na medida em que qualquer enunciado constitui um ato de fala (promessa, ordem, afirmação, sugestão, conselho, pergunta, pedido, desejo, declaração de matrimónio, batismo) que visa modificar uma situação ou um estado de coisas;
• O discurso é interativo, sendo a maior expressão desta interatividade a conversação, traduzida numa troca de enunciados entre dois locutores que alternam papéis entre si; mesmo a enunciação produzida sem a presença de um alocutário possui o que se designa por interatividade constitutiva;
• O discurso é contextualizado, não é possível entender a noção de discurso fora do seu contexto;
• O discurso é uma tomada de posição do locutor, já que este pode modalizar o seu discurso (comprometer-se ou distanciar-se face ao que é dito), comentar a sua própria voz, convocar outras vozes (discurso reportado – discurso indireto e indireto livre), destacar certos segmentos de discurso, etc.
• O discurso obedece a normas, como qualquer comportamento social, e que são as leis do discurso; a legitimação dessas leis é feita através dos géneros do discurso;
• Cada discurso se inclui numa rede de interdiscursos, na medida em que o discurso só ganha sentido no interior de um universo de outros discursos já produzidos ou que hão de ser produzidos.
O termo discurso surge assim como um dos membros presentes em célebres dicotomias terminológicas de inspiração estruturalista:
Discurso vs Frase: nesta aceção, discurso é uma unidade linguística formada por uma sucessão de frases, ou seja, o discurso é um conjunto de frases. Trata-se de uma conceção em desuso e redutora, através da qual a análise do discurso se fazia apenas a um nível sintático-semântico.
Discurso vs Língua: i) oposição próxima da dicotomia de Ferdinand de Saussure que opunha língua a fala (langue/parole). Nesta aceção, língua define-se por sistema de valores virtuais, enquanto que discurso é o uso da língua num contexto particular. ii) Para E. Benveniste, discurso é a língua tal como ela é assumida pelo sujeito que a fala e dentro da condição de intersubjetividade que torna possível a comunicação linguística. iii) Para outros ainda, a língua é um sistema partilhado pelos membros de uma dada comunidade linguística, enquanto que discurso é um uso restrito desse sistema. Falamos aqui de expressões como "discurso fascista", "discurso futurista". Nesta aceção, discurso é um termo ambíguo, porque pode referir simultaneamente o sistema que permite gerar um conjunto de textos ou os textos gerados por esse sistema.
Discurso vs Texto : dicotomia assente na oposição oralidade vs escrita respetivamente (Mário Vilela, 1999), sendo portanto o discurso sinónimo de "interação verbal humana, apoiada, na sua forma oral, por elementos extra-verbais, como gestos, expressões faciais e elementos paralinguísticos" (entoação, ritmo, pausas, etc). J. M. Adam (1989) define discurso como o conjunto do texto mais as condições da sua produção (Discurso = Texto + Condições de Produção) por oposição a Texto que é o discurso sem as condições da sua produção (Texto = Discurso - Condições de Produção).
Discurso vs Enunciado: nesta aceção enunciado resulta de um olhar sobre um texto do ponto de vista da sua estruturação na língua, enquanto que discurso é o estudo linguístico das condições de produção deste texto (L. Guespin, 1971).
A tradição anglo-saxónica não distingue discurso de texto, perspetiva aliás adotada por alguns dos principais investigadores em Pragmática do Português: Joaquim Fonseca, que se refere à "Linguística do Texto/Discurso" e Maria Aldina Marques, que prefere o termo discurso para se referir indiferentemente a texto e a discurso.
Desde a década de oitenta que o termo discurso ganha dimensão no âmbito das ciências da linguagem em geral e da análise do discurso em particular, passando a ser definido em função dos seguintes princípios:
• O discurso é uma organização transfrásica, na medida em que não se limita às fronteiras de uma frase, mas que pode ser representado por uma frase; enquanto unidade transfrástica, o discurso está submetido a regras de organização que permitem incluí-lo dentro de géneros discursivos.
• O discurso é orientado, na medida em que é construído em função do objetivo do locutor;
• O discurso é uma forma de ação, na medida em que qualquer enunciado constitui um ato de fala (promessa, ordem, afirmação, sugestão, conselho, pergunta, pedido, desejo, declaração de matrimónio, batismo) que visa modificar uma situação ou um estado de coisas;
• O discurso é interativo, sendo a maior expressão desta interatividade a conversação, traduzida numa troca de enunciados entre dois locutores que alternam papéis entre si; mesmo a enunciação produzida sem a presença de um alocutário possui o que se designa por interatividade constitutiva;
• O discurso é contextualizado, não é possível entender a noção de discurso fora do seu contexto;
• O discurso é uma tomada de posição do locutor, já que este pode modalizar o seu discurso (comprometer-se ou distanciar-se face ao que é dito), comentar a sua própria voz, convocar outras vozes (discurso reportado – discurso indireto e indireto livre), destacar certos segmentos de discurso, etc.
• O discurso obedece a normas, como qualquer comportamento social, e que são as leis do discurso; a legitimação dessas leis é feita através dos géneros do discurso;
• Cada discurso se inclui numa rede de interdiscursos, na medida em que o discurso só ganha sentido no interior de um universo de outros discursos já produzidos ou que hão de ser produzidos.
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Como referenciar
Porto Editora – discurso na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-20 17:16:24]. Disponível em
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