Divina Comédia
Considerada a obra-prima de Dante Alighieri, A Divina Comédia é um poema escrito em tercetos, com três partes fundamentais (o Inferno, o Purgatório e o Paraíso), cada uma com 33 cantos, havendo mais um canto que é considerado a introdução à obra. A Comédia foi o título escolhido por Dante, opção que ele justificava, numa epístola endereçada a Cangrande della Scala, por a ação dramática, agitada e terrível no Inferno, tornar-se serena e jubilosa no Paraíso, para além do facto de a obra ser escrita em vernáculo e não em latim. A designação "Divina" só surge aquando da edição veneziana de 1555, por influência do estatuto que Dante obteve no seio do mundo artístico, o de "divino poeta". O enredo do poema consiste na viagem que um homem (consensualmente julgado como sendo o próprio Dante) realiza pelos três estádios pós-morte: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, no ano de 1300, desde a Sexta-Feira Santa até alguns dias depois do domingo de Páscoa. Nesta viagem, Dante tem dois guias: o poeta Virgílio e Beatriz. Virgílio conduz Dante pelos nove círculos do Inferno, onde o poeta encontra várias personalidades famosas do seu tempo, como Filipo Argenti, Piero delle Vigne e Brunetto Latini.
A primeira etapa da viagem, marcada pela tragédia e pelo sofrimento, constitui um ato necessário à reabilitação espiritual, onde Dante constata o quão prejudiciais eram as suas crenças terrenas. Guiada ainda por Virgílio, a viagem prossegue então pelo Purgatório, onde ocorre de facto o despertar espiritual de Dante que, ao reprimir a sua personalidade, ascende ao Paraíso Terrestre (o derradeiro dos nove níveis do Purgatório), local do tão esperado encontro com Beatriz, que o conduzirá à última etapa desta viagem: o Paraíso. Aqui, Dante atinge a sua realização espiritual, caminhando lado a lado com Beatriz através dos nove céus do Paraíso até chegar ao Empíreo, onde reside a glória de Deus.
A Divina Comédia, como corolário de toda a vida literária de Dante, está carregada de simbolismo, por exemplo, o facto de o enredo começar na Sexta-feira Santa, ou seja, fazer coincidir a morte de Dante com a própria morte de Jesus Cristo; a escolha dos guias para a viagem (Virgílio, poeta do Império Romano e autor da descida de Eneias ao Inferno, era uma das maiores referências de Dante, o único capaz de lhe dar instrução moral e de constituir um autêntico emissário da graça divina; e Beatriz, que foi o maior amor da vida de Dante, constituiu uma autêntica referência e musa inspiradora ao longo da sua obra, sendo, portanto, a pessoa ideal para o conduzir ao Empíreo); e, por fim, o próprio facto de a peregrinação de Dante pelos três estádios ultramundanos refletir o período de exílio quase nómada do poeta.
Saliente-se, ainda, que Dante insere na história os seus próprios ideais políticos, filosóficos, morais e históricos, sobretudo a partir do Purgatório, onde se torna uma personagem participativa, evoluindo da passividade que o caracterizava no Inferno. Neste sentido, Dante não só transmite uma imagem da época em que vive, como também abre caminho para que a obra se torne universal. O reconhecimento das qualidades únicas de A Divina Comédia não tardou e em 1373-74 Giovanni Boccaccio, após ter escrito a biografia do poeta, dava aulas que incidiam no estudo daquela obra, enquanto que por volta de 1400 já lhe tinham sido dedicados doze comentários detalhadamente elaborados por vários intelectuais. Ao longo dos séculos, esta obra ganhou um estatuto cada vez maior, ou por refletir, de uma maneira ou de outra, diferentes aspetos da sociedade, ou pelo facto de a sua arquitetura formal única e riqueza poética sobreviverem às diferentes escolas de arte. Ler excerto da obra
A Divina Comédia, como corolário de toda a vida literária de Dante, está carregada de simbolismo, por exemplo, o facto de o enredo começar na Sexta-feira Santa, ou seja, fazer coincidir a morte de Dante com a própria morte de Jesus Cristo; a escolha dos guias para a viagem (Virgílio, poeta do Império Romano e autor da descida de Eneias ao Inferno, era uma das maiores referências de Dante, o único capaz de lhe dar instrução moral e de constituir um autêntico emissário da graça divina; e Beatriz, que foi o maior amor da vida de Dante, constituiu uma autêntica referência e musa inspiradora ao longo da sua obra, sendo, portanto, a pessoa ideal para o conduzir ao Empíreo); e, por fim, o próprio facto de a peregrinação de Dante pelos três estádios ultramundanos refletir o período de exílio quase nómada do poeta.
Saliente-se, ainda, que Dante insere na história os seus próprios ideais políticos, filosóficos, morais e históricos, sobretudo a partir do Purgatório, onde se torna uma personagem participativa, evoluindo da passividade que o caracterizava no Inferno. Neste sentido, Dante não só transmite uma imagem da época em que vive, como também abre caminho para que a obra se torne universal. O reconhecimento das qualidades únicas de A Divina Comédia não tardou e em 1373-74 Giovanni Boccaccio, após ter escrito a biografia do poeta, dava aulas que incidiam no estudo daquela obra, enquanto que por volta de 1400 já lhe tinham sido dedicados doze comentários detalhadamente elaborados por vários intelectuais. Ao longo dos séculos, esta obra ganhou um estatuto cada vez maior, ou por refletir, de uma maneira ou de outra, diferentes aspetos da sociedade, ou pelo facto de a sua arquitetura formal única e riqueza poética sobreviverem às diferentes escolas de arte. Ler excerto da obra
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Porto Editora – Divina Comédia na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-22 01:24:49]. Disponível em
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