Fenícios e Gregos na Península Ibérica
De acordo com a literatura greco-latina, a fundação das primeiras colónias fenícias no Ocidente deu-se por volta de 1100 a. C., no entanto, esta informação não está comprovada ao nível do registo arqueológico. De acordo com as últimas investigações arqueológicas efetuadas em Espanha, não se encontram vestígios da fundação de colónias anteriores ao século VII a. C.
Os Fenícios ocupavam o que restava do antigo território de Canaã, que corresponde sensivelmente ao atual território do Líbano, por volta de 1200 a. C. Não tinham um Estado e distribuíam-se por diversas cidades, sem ligações entre si, que controlavam os territórios adjacentes.
As cidades fenícias asseguravam o poder através do seu poderio naval, garantindo um amplo sistema de circulação e intercâmbio. Uma destas cidades, Tiro, teve um papel preponderante no estabelecimento de colónias no Ocidente.
Embora haja uma certa controvérsia e não exista unanimidade entre os investigadores, parece ser no século VIII a. C. que se esboça um "sistema monetário", começando a consolidar-se uma unidade-padrão em prata.
Este facto surge documentado na arqueologia peninsular, com o início da exploração das jazidas argentíferas na zona de Huelva atestando-se, ao mesmo tempo, a presença em solo hispânico das primeiras instalações coloniais fenícias.
Sendo assim, poderá ter existido uma fase pré-colonial de contactos entre tírios e as populações da Península Ibérica, mas estes contactos só se tornariam evidentes no século VIII a. C.
Entre os historiadores, não há uniformidade no que diz respeito ao tipo de estabelecimentos fenícios no Ocidente. Para alguns, constituíam meras feitorias que se limitariam somente à aquisição e embarque da prata rumo ao Mediterrâneo oriental. Para outros, os estabelecimentos fenícios são verdadeiras colónias, isto é, centros urbanos inseridos num território que controlam e exploram, assegurando assim a sua autossubsistência e criando riqueza própria. O armazenamento da prata e outros metais, com destino ao Oriente, era sem dúvida uma das atividades com maior preponderância.
Um dos exemplos mais elucidativos da evolução das colónias fenícias em solo ibérico é o da colónia de toscanos, junto ao rio Velez, na região de Málaga. A economia desta colónia tinha uma forte componente pecuária de gado vacum, ovino e alguns suídeos. Paralelamente, existia também uma importante agricultura de linho, vinho e azeite. É provável que se fizesse a exploração dos recursos marinhos, como por exemplo peixe e sal, bem como murex, molusco utilizado na tinturaria. Está também comprovado o fabrico de cerâmica de boa qualidade (feita a torno) e a metalurgia do cobre e do ferro.
Um dos aspetos mais interessantes destas colónias relaciona-se com a sua localização, próximas do estuário dos rios e sempre em promontórios ou pequenas ilhas. Esta localização demonstra uma preocupação, por um lado, com a navegação e com um fácil acesso ao interior, e também a tentativa de reproduzir o modelo da cidade-mãe.
Gostaríamos ainda de sublinhar o contributo dos Fenícios no Ocidente. Em primeiro lugar, introduziram a metalurgia do ferro e a roda de oleiro, para a fabricação de cerâmicas. Deram também o seu contributo no que diz respeito às técnicas de exploração de minas e a novas formas de explorar os recursos marinhos. Aos Fenícios deve-se também a introdução da produção do vinho e do azeite, produtos que assumiriam grande importância nas comunidades do Mediterrâneo na Antiguidade.
Em termos sociais, foram responsáveis pelas primeiras formas de escrita e pelo emergir do conceito de cidade, com as implicações deste conceito em termos políticos e sociais. Por fim, em termos religiosos, implantaram na Península Ibérica novas formas de culto.
As incursões tírias ao Ocidente esmorecem nos começos do século VI a. C., com a decadência e queda de Tiro, que acabou por ser absorvida pelo Império Neobabilónico, que se refletiu por todo o Ocidente. Aparentemente, muitos dos estabelecimentos fenícios foram abandonados, nomeadamente toscanos, que por volta do século VI a. C. foram totalmente despovoados.
De acordo com os relatos de Heródoto, os primeiros indícios da presença grega na Península Ibérica são atestados com a chegada do primeiro grego ao território, Colaio de Samos, que parece ter sido acidental (630 a. C.). Ainda de acordo com este historiador, terão sido os cidadãos da Fócida os primeiros a fazerem incursões no Ocidente, sendo-lhes atribuídas as descobertas do golfo Adriático, do Tirrénico, da Ibéria e de Tartessos. É também por esta altura que assistimos à derrocada das colónias tírias da Andaluzia. O monarca de Tartessos teria visto nos focenses os prováveis substitutos para os colonos fenícios.
Ainda nesta altura, no segundo quartel do século VI a. C., os Massaliotas fundam a colónia de Emporion, no Norte da costa catalã, mantendo assim alguma distância dos estabelecimentos fenícios. Relativamente às restantes colónias gregas, de acordo com a tradição helenística, teriam existido na Península Ibérica Hemeroskopeion e Alonai, supostamente implantadas junto ao cabo Nau, entre a costa de Alicante e Denia, mas até à data estas duas colónias não estão comprovadas ao nível do registo arqueológico.
Enquanto a presença fenícia se manifestou nas transformações operadas ao nível cultural, a suposta presença grega é identificável apenas através de alguns artefactos isolados, o que atesta de forma evidente a dimensão da presença de uma e de outra.
A maior contribuição grega na cultura das populações deste território foi sem dúvida a noção de moeda, que começou a ser cunhada localmente em Emporion no século V a. C. e em Rodes no século seguinte. Esta prática, porém, só se tornou corrente nos restantes territórios da Península Ibérica nos anos posteriores e sob a influência de Cartago.
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