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Fora de Horas
Romance galardoado com o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, Prémio PEN Clube e Prémio Eça de Queirós. Na viagem empreendida por um grupo de amigos através dos Estados Unidos, joga-se a contraposição entre a geração de 80, corporizada em Clara, produto de uma época de "Lucro, produtividade, eficiência. Egoísmo erigido em virtude. Desprezo pelo que ostente como valor acrescentado apenas uma não contabilizável vibração humana.", e os protagonistas, Maria José e Luís, que nasceram para a ética dos anos 60: "o homem. A libertação. A moral", presos à "memória de um tempo de graça. [...] Que se dissipou." Grande parte do romance é ocupada pela viagem através da América e pela errância quotidiana pelas cidades, numa narração que se assume como notas imperfeitas de um diário de viagem. Da descrição da viagem, avulta sobretudo o mergulho numa cultura kitsch, consumista, publicitária, onde o confronto com o outro não produz a comparação com o que é diferente, mas o reconhecimento do já visto, do já conhecido (no cinema, na televisão), cada um sentindo, "Ainda que por percursos diferentes", a impressão de déjà-vu. Nessa medida, a viagem não assume a função de evasão, mas de compasso de espera até ao momento em que os protagonistas devem voltar, devendo Luís confrontar-se "com o facto de a [...] vida se encontrar no mesmo ponto em que cobardemente a tinha deixado quando embarquei nesta fuga e insensata fuga." Fazendo suceder os dias preenchidos com tarefas provisórias e banais, e as noites com conversas fora de horas, onde cada personagem exibe, no grupo, a sua solidão, a viagem constitui uma peregrinação interior onde os protagonistas devem escolher o caminho a seguir depois da viagem. Servindo a problematização existencial das duas personagens em crise, o recurso narrativo à alternância dos pontos de vista permite, então, apreender o amadurecimento de duas reações opostas face aos novos valores, encarnadas respetivamente por Maria José e Luís: a adaptação, a entrada no "pragmatismo abjeto", integrando o processo de competitividade e sobrevivência pessoal e profissional; ou a recusa de integração, a deriva existencial.
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Porto Editora – Fora de Horas na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-09 00:23:57]. Disponível em
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