Francos
Os Francos dividem-se em dois grupos principais, os Francos Sálios e os Francos do Reno. Os primeiros estabeleceram-se na França, onde criaram as bases da nação francesa. A eles se deve a lei "sálica", que determinava, entre outros aspetos, que mulher alguma poderia herdar propriedades, as quais deveriam ser transmitidas apenas para os herdeiros masculinos. Esta lei foi introduzida no século V, época em que as tribos ocidentais dos Francos (os Sálios) galgaram o Reno em direção ao Ocidente. Além de regular a governação dos reis francos, o mesmo fazia em relação a todos os aspetos da vida em sociedade, tendo-se mantido ao longo da Idade Média, ainda que com várias reformas.
As referências aos Francos (na sua língua germânica, significava "livres") começaram no século III da nossa era, noticiando-os como piratas no mar do Norte e em incursões na Gália (França) em 258, que conquistariam nos séculos V e VI. Os Francos não entraram no mundo romano de forma violenta, pois muitos foram até súbditos do império, servindo até legiões. A alguns grupos foi-lhes cedida, na segunda metade do século IV, parte da Gália Belga (atuais Bélgica e Países baixos, aproximadamente). A partir de 406, vagas sucessivas de Francos sálios começam a entrar no limes renano, conquistando progressivamente o Nordeste e depois o Norte da atual França. A Renânia foi ocupada pelos Francos ditos do "Reno". À frente dos Francos sálios estava Clódio, que se relaciona com a fundação da primeira dinastia franca da França, os Merovíngios, embora não existam provas concretas de tal. A tradição faz de Meroveu, rei franco, filho de Clódio, mas pouco mais se sabe. A partir de Clóvis, filho de Childerico I e neto de Meroveu (herói da batalha dos Campos Cataláunicos, em 451, em aliança com os Romanos contra os Hunos de Atila), nasce a dinastia merovíngia, que reinará na França ocidental (dos Sálios) até 751, quando Pepino o Breve chega ao poder. Clóvis I unificou os diferentes povos francos a oeste do Reno, na Gália, batizando-se em Reims em 496, por influência de sua mulher, a rainha Clotilde, burgúndia (tribo germânica estabelecida na Borgonha, sudeste de França). Foi o primeiro rei "bárbaro" a aderir à religião romana. Mas como franco sálio que era, dividiu testamentariamente o seu reino pelos quatro filhos. Apesar desta divisão, a partir de 511, os Francos da Gália não pararam de se expandir, mesmo para lá do Reno, para a Provença e para a Borgonha. A partir do reinado de Clotário (558-561), dá-se a reunificação, logo em 558, mas apenas até à morte do soberano, que adveio três anos depois. O esquema sucessório da lei sálica revelava-se contraproducente e sempre sangrento e fratricida. Mas ainda se estava longe da solução, que só surgiria com a dinastia dos Capetos, no século X. Antes, no século VII, surgiram intentos de estabilização no esquema de sucessão dos Francos, como sucedeu com a instauração da dinastia dita dos Carolíngios. As origens desta remontam à tomada do poder pelos chamados Mordomos do Palácio real de Aix-la-Chapelle (Aachen), o primeiro dos quais foi a assumir o governo franco foi Pepino de Heristal, a partir de 679. O poder enfraquecido e pouco atuante dos reis merovíngios, fez com que fossem os Mordomos a conduzir os Francos. Pepino o Breve, neto de Pepino de Heristal e filho de Carlos Martel foi o primeiro dos Mordomos a conquistar o poder real, destronando os Merovíngios do trono dos Francos. Com apoio do papado romano, os Francos, através de Pepino, reiniciam uma estratégia expansionista na Europa, assumindo-se como o baluarte da Cristandade da Alta Idade Média.
Os Francos acentuaram esta tendência expansionista com o filho de Pepino, Carlos, depois cognominado de Magno, que empreendeu, com o apoio da Igreja, uma reforma cultural e civilizacional que ficou conhecida como "renascimento carolíngio". Os Francos conheceram então o seu apogeu, já cristianizados e impregnados de cultura latina. A sua ação estendeu-se a toda a Europa ocidental, desde a Espanha muçulmana à Itália, à Germânia (Alemanha), com a sagração imperial de Carlos Magno, no dia de Natal de 800, em Roma, a afirmar o soberano carolíngio, rei dos Francos, como o maior senhor temporal (o espiritual era o Papa) do Ocidente.
Apesar do progresso material e do domínio sobre a Cristandade, este império dos Francos carolíngios estava minado na sua composição etnoterritorial, devido à existência de um mosaico distinto de nacionalidades. Apesar do controlo da máquina administrativa e dos processos da mesma, principalmente através do sistema dos enviados imperiais e da fiscalidade (os missi dominici, "enviados do senhor"), e da ação da Igreja, geradores de estabilidade, o domínio franco sobre tão vastos domínios estava ameaçado na continuidade. Não apenas as nacionalidades mas também a repressão e abusos senhoriais, além da continuidade do sistema sálico de herança de propriedades, estavam na base dessa ameaça, que apenas ia sendo mitigada pela autoridade forte do soberano, senhor de uma personalidade dominadora e poderosamente controladora e vigilante. O único filho sobrevivente de Carlos Magno, Luís o Pio, personalidade mais apagada e menos dominadora e empreendedora que o pai, herdou o império franco em 814, aquando da morte do progenitor. A cedência de parte do poder por parte de Luís a seu filho Carlos, o Calvo, enfraqueceu ainda mais o império, para mais um ato que ia contra lei sálica, pois Luís tinha mais dois filhos varões, Lotário e Luís. Este procedimento abriu profundas dilacerações no reino, que se prolongariam até 843, quando se resolveu todas esta crise dinástica no tratado de Verdun. O império ficou novamente dividido, agora pelos herdeiros de Luís o Pio: Lotário, o mais velho, com a região central, entre a Francia ocidental (atual França aproximadamente) de Carlos o Calvo, filho mais novo, e a Francia oriental (a Alemanha...), de Luís, dito o Germânico. Os Francos desapareciam enquanto nação "unificada", mas fundavam a ideia de feudalismo, através das fidelidades pessoais aos senhores e da divisão de propriedade pelos filhos varões. O poder pulverizava-se, fragmentava-se em vários senhorios, embriões de futuros reinos ou ducados. O último franco carolíngio morreu em 987, Luís V, a quem sucedeu Hugo Capeto. Começava a França dos Capetos e nascia a Europa medieval do feudalismo.
As referências aos Francos (na sua língua germânica, significava "livres") começaram no século III da nossa era, noticiando-os como piratas no mar do Norte e em incursões na Gália (França) em 258, que conquistariam nos séculos V e VI. Os Francos não entraram no mundo romano de forma violenta, pois muitos foram até súbditos do império, servindo até legiões. A alguns grupos foi-lhes cedida, na segunda metade do século IV, parte da Gália Belga (atuais Bélgica e Países baixos, aproximadamente). A partir de 406, vagas sucessivas de Francos sálios começam a entrar no limes renano, conquistando progressivamente o Nordeste e depois o Norte da atual França. A Renânia foi ocupada pelos Francos ditos do "Reno". À frente dos Francos sálios estava Clódio, que se relaciona com a fundação da primeira dinastia franca da França, os Merovíngios, embora não existam provas concretas de tal. A tradição faz de Meroveu, rei franco, filho de Clódio, mas pouco mais se sabe. A partir de Clóvis, filho de Childerico I e neto de Meroveu (herói da batalha dos Campos Cataláunicos, em 451, em aliança com os Romanos contra os Hunos de Atila), nasce a dinastia merovíngia, que reinará na França ocidental (dos Sálios) até 751, quando Pepino o Breve chega ao poder. Clóvis I unificou os diferentes povos francos a oeste do Reno, na Gália, batizando-se em Reims em 496, por influência de sua mulher, a rainha Clotilde, burgúndia (tribo germânica estabelecida na Borgonha, sudeste de França). Foi o primeiro rei "bárbaro" a aderir à religião romana. Mas como franco sálio que era, dividiu testamentariamente o seu reino pelos quatro filhos. Apesar desta divisão, a partir de 511, os Francos da Gália não pararam de se expandir, mesmo para lá do Reno, para a Provença e para a Borgonha. A partir do reinado de Clotário (558-561), dá-se a reunificação, logo em 558, mas apenas até à morte do soberano, que adveio três anos depois. O esquema sucessório da lei sálica revelava-se contraproducente e sempre sangrento e fratricida. Mas ainda se estava longe da solução, que só surgiria com a dinastia dos Capetos, no século X. Antes, no século VII, surgiram intentos de estabilização no esquema de sucessão dos Francos, como sucedeu com a instauração da dinastia dita dos Carolíngios. As origens desta remontam à tomada do poder pelos chamados Mordomos do Palácio real de Aix-la-Chapelle (Aachen), o primeiro dos quais foi a assumir o governo franco foi Pepino de Heristal, a partir de 679. O poder enfraquecido e pouco atuante dos reis merovíngios, fez com que fossem os Mordomos a conduzir os Francos. Pepino o Breve, neto de Pepino de Heristal e filho de Carlos Martel foi o primeiro dos Mordomos a conquistar o poder real, destronando os Merovíngios do trono dos Francos. Com apoio do papado romano, os Francos, através de Pepino, reiniciam uma estratégia expansionista na Europa, assumindo-se como o baluarte da Cristandade da Alta Idade Média.
Os Francos acentuaram esta tendência expansionista com o filho de Pepino, Carlos, depois cognominado de Magno, que empreendeu, com o apoio da Igreja, uma reforma cultural e civilizacional que ficou conhecida como "renascimento carolíngio". Os Francos conheceram então o seu apogeu, já cristianizados e impregnados de cultura latina. A sua ação estendeu-se a toda a Europa ocidental, desde a Espanha muçulmana à Itália, à Germânia (Alemanha), com a sagração imperial de Carlos Magno, no dia de Natal de 800, em Roma, a afirmar o soberano carolíngio, rei dos Francos, como o maior senhor temporal (o espiritual era o Papa) do Ocidente.
Apesar do progresso material e do domínio sobre a Cristandade, este império dos Francos carolíngios estava minado na sua composição etnoterritorial, devido à existência de um mosaico distinto de nacionalidades. Apesar do controlo da máquina administrativa e dos processos da mesma, principalmente através do sistema dos enviados imperiais e da fiscalidade (os missi dominici, "enviados do senhor"), e da ação da Igreja, geradores de estabilidade, o domínio franco sobre tão vastos domínios estava ameaçado na continuidade. Não apenas as nacionalidades mas também a repressão e abusos senhoriais, além da continuidade do sistema sálico de herança de propriedades, estavam na base dessa ameaça, que apenas ia sendo mitigada pela autoridade forte do soberano, senhor de uma personalidade dominadora e poderosamente controladora e vigilante. O único filho sobrevivente de Carlos Magno, Luís o Pio, personalidade mais apagada e menos dominadora e empreendedora que o pai, herdou o império franco em 814, aquando da morte do progenitor. A cedência de parte do poder por parte de Luís a seu filho Carlos, o Calvo, enfraqueceu ainda mais o império, para mais um ato que ia contra lei sálica, pois Luís tinha mais dois filhos varões, Lotário e Luís. Este procedimento abriu profundas dilacerações no reino, que se prolongariam até 843, quando se resolveu todas esta crise dinástica no tratado de Verdun. O império ficou novamente dividido, agora pelos herdeiros de Luís o Pio: Lotário, o mais velho, com a região central, entre a Francia ocidental (atual França aproximadamente) de Carlos o Calvo, filho mais novo, e a Francia oriental (a Alemanha...), de Luís, dito o Germânico. Os Francos desapareciam enquanto nação "unificada", mas fundavam a ideia de feudalismo, através das fidelidades pessoais aos senhores e da divisão de propriedade pelos filhos varões. O poder pulverizava-se, fragmentava-se em vários senhorios, embriões de futuros reinos ou ducados. O último franco carolíngio morreu em 987, Luís V, a quem sucedeu Hugo Capeto. Começava a França dos Capetos e nascia a Europa medieval do feudalismo.
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Como referenciar
Porto Editora – Francos na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-19 15:26:16]. Disponível em
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