Frei António das Chagas
António da Fonseca Soares, nascido em 1631 e falecido em 1682, doutrinário religioso sob o nome de Frei António das Chagas, professou na Ordem de São Francisco. Filho de um juiz, que morreu aquando da sua formação no colégio dos jesuítas, participou na guerra da Restauração, escapando assim, pelo foro militar, à condenação por um homicídio que cometera. É nesse período que se dedica à poesia, ganhando o cognome, pela associação das armas e das letras, de Capitão das Boninas. Distingue-se então nas subtilezas do estilo culto, compondo ao estilo gongórico. Parte entretanto para o Brasil e regressa em 1656, continuando a carreira das armas. Em 1663 deixa a vida militar e decide tomar ordens. Tornou-se pregador e fundou o seminário do Varatojo. A sua vida divide-se em duas partes, bem contrastadas pela antítese do mundano e do desiludido. Já convertido, dedicou-se ao canto da falsidade das coisas deste mundo, do nada do próprio Eu e do consequente desengano.
Este assunto genuinamente cristão adequava-se, no entanto, à estética barroca, dada a atualidade e a insistência com que foi tratado naquela época. Todavia, o que é de salientar em Frei António das Chagas é que estes desenganos não dissolveram por completo certo carácter espetacular que se adivinha no seu estilo de escrever e de pregar. Este modo teatral da pregação do Fradinho - como o de muitos pregadores do seu tempo - entroncava com a maneira medieval, que não era menos recatada. É, efetivamente, nos veios medievais que vai o frei buscar as fontes inspiradoras das suas obras espirituais, mas é num certo estilo de vida falso e langoroso da época, de que são expressão extrema os frequentadores das grades do convento, que assimila certas expressões de piedade melíflua que agora teríamos por menos viris: Penetrai com desejos aquela celeste pátria, rompei os ares e os ventos com suspiros. Na pregação, havia quem lhe estranhasse a forma como organizava certas procissões de penitência e como se esbofeteava no púlpito, chegando a atirar com o crucifixo para cima do auditório. É por esta busca do impressionante e pelas notas dolorosas e até sangrentas que a arte deste frei representa em Portugal um certo patético característico do Barroco espanhol. Esta busca de efeitos teatrais e a ênfase e demagogia do tom de Frei António das Chagas foram alvo de inúmeras críticas do Padre António Vieira, que o suspeitava de incitar o povo contra os cristãos-novos, e de D. Francisco Manuel de Melo. Os seus poemas foram publicados na Fénix Renascida, onde, através das oitavas rimas com que se celebravam os grandes acontecimentos da vida dos magnates da guerra da Restauração, exibe dedicatórias às vitórias de Mourão e Elvas.
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Porto Editora – Frei António das Chagas na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-05-22 07:30:16]. Disponível em
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