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Galileia
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Na atualidade, a região da Galileia é limitada a norte pelo rio Leontes, a sul pela Samaria e pela região em torno do monte Carmelo, tendo a leste o rio Jordão e a oeste o Mediterrâneo. A Alta Galileia corresponde a um prolongamento orográfico dos montes do Líbano, com montanhas cortadas por desfiladeiros e passagens estreitas, em oposição ao relevo ondulado da Baixa Galileia, modelada por colinas. Constitui a Galileia, a par dos reivindicados montes Golã (diferendo com a Síria), a região com maiores índices pluviométricos e, por conseguinte, maiores reservas aquíferas de Israel. O clima é temperado, os solos são férteis, com largo aproveitamento agrícola. É a região sismicamente mais ativa de Israel.

Duas cidades dividem a hegemonia entre as povoações da Galileia, uma na Baixa Galileia, Nazaré - grande centro urbano árabe e um dos locais santos do Cristianismo, pois aí Jesus passou a infância -, a outra na Alta Galileia, Zefat (ou Safed ou Safad), o principal centro da Cabala (doutrina mística e esotérica do Judaísmo) na Idade Média. Outras cidades assumem importância regional, como Tiberíades (cidade santa do Judaísmo, fundada por Herodes Antipas durante o domínio romano), Kefr Kenna e Kana, amabas estas identificadas como a bíblica Canaã. A leste da Galileia, no curso do rio Jordão, forma-se um lago que tem também o nome da região, embora antes fosse chamado de "mar de Tiberíades" ou "lago de Genesaré", como vem nos Evangelhos.
Historicamente, a Galileia gozou durante muitos séculos de uma fama de terra rude e de onde nada vinha de bom, como diziam os judeus quando confrontados com a figura e ensinamentos de Jesus, apelidado, com um certo sarcasmo à mistura, de Galileu e, mais comummente, Nazareno (como na cruz, onde os romanos lhe puseram as iniciais INRI, Iesus Nazareth Rex Iudaeus). A chacota em relação à Galileia e seus habitantes devia-se em parte ao facto de ter sido primeiramente habitada por povos montanheses, que facilmente lutavam para defender as suas terras. No Livro dos Juízes, no Antigo Testamento, dá-se mesmo a entender que mesmo depois de Josué conquistar a região, judeus e galileus continuaram a compartilhar as terras.

Nos séculos XI e X a. C., a Galileia fazia parte do reino de Israel de David (1012-972) e de Salomão (972-931). Com a morte deste, o reino de Israel dividiu-se em dois: Israel e Judá. A Galileia ficou em Israel. Esta divisão vulnerabilizou ambos os territórios, o que fez com que Israel (Galileia e Samaria) sucumbisse ao domínio assírio em 734 a. C., sob Tiglatpileser III. Grande parte da população judaica da Galileia rumou então a Judá. Este reino, todavia, cairá em 587 a. C. às mãos de Nabucodonosor, rei da Babilónia, iniciando-se o cativeiro dos judeus.
Em 538 a. C. começam a regressar os primeiros judeus da Babilónia, rumando alguns para a Galileia, iniciando-se um domínio persa, ainda que não muito efetivo. Em 332 a. C., Alexandre Magno conquista toda a Palestina e Galileia, iniciando-se o período helenístico, que durará até 63 a. C, quando Pompeu, em nome dos Romanos, conquista a Palestina. É neste período romano que nasce Jesus cristo, que passou a sua infância na Galieia (em Nazaré) e onde começou o seu ministério público, realizando milagres, convertendo, atraindo multidões e congregando discípulos em seu redor. A maioria destes - dos quais quatro eram pescadores - eram oriundos da zona do mar da Galileia, como Simão Pedro e seu irmão André.

A Galileia era então uma região secundária, escarnecida pelos habitantes da Judeia, embora os samaritanos fossem ainda mais desprezados e nunca tivessem sido considerados verdadeiros hebreus. Com a destruição de Jerusalém e do seu Templo (construído por Salomão, a partir de 950 a. C.) em 70 por Tito, imperador Romano, a Galileia passa a constituir o principal centro da cultura e religião judaicas. Em 636, é conquistada pelos Árabes, quando era já uma região pobre, o que se acentua ainda mais. O domínio muçulmano sobre a cidade, apesar das ofensivas dos cruzados e dos efémeros Estados Cristãos do Levante, foi efetivo até ao século XX, apesar de desde 1882 se terem iniciado projetos de estabelecimento de colonatos judaicos ao abrigo do Sionismo Internacional incentivado por Theodor Herzl. Rosh Pinna ("pedra angular", em hebraico) foi o primeiro desses colonatos hebraicos. Em 1920, ainda com o problema sionista longe de ser resolvido e dada a retirada turca da região, em resultado da derrota otomana na Primeira Guerra Mundial, a Galileia passa a integrar na totalidade o protetorado britânico da Palestina.

Em 1947, com o fim do mandato britânico e sob a égide da recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU), prevê-se a divisão da Galileia entre os territórios de Israel e de um futuro estado da Palestina, árabe. No entanto, toda a região acabará por ficar sob controlo hebraico na sequência do primeiro conflito israelo-árabe, em 1948-49. Os israelitas conseguiram transformar a Galileia num local bastante desenvolvido do ponto de vista agrícola, graças às reservas de água - a partir das quais construíram canais de irrigação para todo o país - e à mão de obra voluntariosa e trabalhadora. Além de se transformar o vale do rio Hula numa próspera região agrícola, modificou-se o curso do Jordão de acordo com as necessidades israelitas, o que alterou a geografia física da Galileia, uma terra já muito diferente daquela que viu Cristo crescer "em sabedoria, em estatura e em graça" (Lc. 2,52).

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Como referenciar
Porto Editora – Galileia na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-15 20:57:27]. Disponível em
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