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Gil Vicente
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Não há dados exatos quanto à data e local do nascimento de Gil Vicente. Contudo, e de acordo com Jacinto Prado Coelho, in Dicionário de Literatura, parece ter nascido em Guimarães por volta de 1465.

Por outro lado, também não há dados absolutos que possam confirmar a teoria de alguns estudiosos que defendem que este Gil Vicente, "poeta dramático", seja o ourives da rainha D. Leonor, autor da célebre e riquíssima custódia de Belém. A coincidência do nome e a contemporaneidade de ambos apontam, todavia, para esta possibilidade.

Representação gráfica de Gil Vicente
Frontispício da Compilação das Obras de Gil Vicente
"Gil Vicente Representa na Corte", aguarela de Roque Gameiro
Embora desde sempre tenham existido tentativas no sentido de atribuir a este autor uma grande cultura, não está comprovado que este tenha frequentado a universidade e aprendido o latim do Renascimento. Porém, pode afirmar-se que era detentor de um espírito conhecedor, dominando bem, enquanto católico e músico, a poesia litúrgica latina.Também o conhecimento do castelhano lhe franqueou as portas da cultura religiosa e profana.

A transmissão da sua obra confrontou-se com dificuldades várias. Inicialmente, os seus autos eram divulgados à medida que iam sendo escritos, em folhas soltas.
Na verdade, Gil Vicente iniciou o trabalho de compilação das suas obras completas, mas, antes de morrer, apenas foi capaz de reunir algumas das folhas e manuscritos e de redigir a dedicatória ao rei D. João III.

Assim, esta compilação só foi concluída e impressa, em 1561-1562, pelo seu filho Luís Vicente, já não conseguindo escapar à "mão inquisitorial" estabelecida em Portugal em 1536, ano provável da morte do autor. Na verdade, o Index de 1551 refere já sete autos vicentinos que ou foram totalmente censurados ou autorizados depois de expurgados.

Em 1561-1562, quando Luís Vicente edita as obras completas de seu pai, a censura do Tribunal do Santo Ofício parece ter sido um pouco mais branda e o Index de 1564 não refere nenhuma obra vicentina. Segundo Jacinto Prado Coelho, in obra citada, "é difícil não reconhecer a influência da Rainha D. Catarina, de quem Paula Vicente, filha do poeta, era 'moça de câmara'", considerando assim que aquela terá influenciado a alteração de critérios de censura subjacente à elaboração do Index de 1564.

Apesar da alegada influência real, esta compilação de 1561-1562 parece, contudo, dever muito à autenticidade, conforme podemos concluir pela comparação feita com a única folha volante do tempo de Gil Vicente, hoje conservada. Este estudo comparativo, infelizmente, permite aferir a mutilação da obra vicentina, pois o próprio filho do poeta parece ter confessado que se lhe arrogou a missão de "purar" os textos que recolhera, fazendo cedências imperdoáveis à censura. Aliás, esta benevolência inquisitorial foi "sol de pouca dura", como provam os graves atentados feitos à obra, no Index de 1581.

Considerado o "pai" do teatro português, Gil Vicente já tivera contacto, em Portugal, com representações litúrgicas, por altura do Natal e da Páscoa, e com algum repertório cómico de "feição improvisada e não literária", como os momos aristocráticos e cortesãos, considerados como as primeiras manifestações teatrais em Portugal.

Autor de uma obra variada, que ele próprio divide em comédias, farsas e moralidades, Gil Vicente não teve apenas preocupações de realização literária. De facto, e de acordo com J. P. Coelho, in História de Literatura, na sua obra "palpita de modo espantosamente vivo a sociedade portuguesa do primeiro terço do século XVI, com as suas classes, os seus vícios, os seus impulsos intelectuais e religiosos", a qual critica através da sátira, partindo da máxima latina ridendo castigat mores.

A sua crítica é profundamente mordaz, apresentando clérigos sem vocação, escudeiros parasitas e ociosos, fidalgos corruptos e vaidosos, profissões liberais que assentam na exploração das camadas populares, alcoviteiras que atuam sem escrúpulos para defenderem os seus interesses, e até o povo humilde que, passivamente, se deixa explorar pelos cobradores e frades.

Não criando personagens que correspondam a indivíduos específicos, o teatro vicentino cria antes personagens que caracteriza como tipos sociais e "que funcionam apenas como símbolo de uma classe ou de um grupo social ou profissional". Na verdade, o que mais lhe interessa são os casos sociais que melhor lhe permitem fazer a sátira de costumes.

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Como referenciar
Porto Editora – Gil Vicente na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-10-15 10:31:44]. Disponível em

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