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gramática de valências
Também designada por "gramática de dependências", a gramática de valências é um modelo teórico de análise sintática proposto por Lucien Tesnière, na obra Éléments de Syntaxique Structurale (1959, 1969), que já vinha a ser preparada desde 1939 e que acabou por ser publicada após a sua morte.
Mário Vilela é o principal responsável pela aplicação deste modelo ao Português Europeu, desde os anos oitenta, culminando na sua importante obra de referência Gramática da Língua Portuguesa (1999, Coimbra: Almedina). Este modelo foi também aplicado ao português do Brasil, por M. H. Moura Neves, na obra Gramática de Usos do Português (1999, S. Paulo: UNESP).
Construído em torno do conceito de valência, este modelo perspetiva uma estruturação hierarquizada dos elementos que compõem uma frase, sendo que o núcleo, o elemento central, é o verbo, à volta do qual "gravitam" os seus satélites. Uma frase é pois uma unidade autónoma e independente que possui um verbo. O verbo funciona como um elemento regente e hierarquicamente superior, do qual dependem outras palavras, ou satélites, que são regidas por esse verbo. Neste momento surge o conceito de valência, que é a "capacidade de as palavras estabelecerem, com base no seu significado léxico, determinadas relações com outras palavras" (Vilela, 1999: 34). Quando os elementos estabelecem relações fortes com o seu núcleo designam-se por actantes, ou dependentes da valência. Quando os elementos não criam dependências com o núcleo, designam-se por circunstantes, ou complementos livres. Por outras palavras, os complementos que dependem do verbo, que preenchem os lugares vazios previstos pela estrutura semântico-sintática do verbo constituem os seus actantes, que podem ser obrigatórios ou facultativos. Os actantes obrigatórios não podem ser suprimidos (ex.ii), ao passo que os actantes facultativos podem ser elididos sem risco de agramaticalidade (ex. iv, v):
i) Ela [actante facultativo] mora no Porto [actante obrigatório].
ii) *Ela [actante facultativo] mora.
iii) Eu [actante facultativo] escrevi um e-mail [actante facultativo] à Joana [actante facultativo].
iv) Eu [actante facultativo] escrevi à Joana [actante facultativo].
v) Eu [actante facultativo] escrevi um e-mail [actante facultativo].
Os circunstantes correspondem aos complementos circunstanciais da gramática tradicional:
vi) Eu escrevi um e-mail à Joana apressadamente [circunstante].
A valência do verbo indica:
< O número de actantes previstos pelo esquema actancial do verbo, responsável pela classificação dos verbos em:
A-valentes (ou seja, sem actantes; é o caso dos verbos meteorológicos, que são impessoais e intransitivos - ex: chove)
Monovalentes (com um actante; é o caso dos verbos intransitivos, - ex: ela dorme)
Bivalentes (com dois actantes - ex: ela telefonou ao Pedro)
Trivalentes (com três actantes - ex: ela colocou o livro na estante)
< A obrigatoriedade ou não obrigatoriedade da realização dos actantes (ou seja, se os actantes são obrigatórios ou facultativos);
< A caracterização semântico-denotativa dos actantes (em termos de semas de + animado, + humano, -humano);
< A caracterização semântico-funcional dos actantes (em termos de funções temáticas: agente, paciente, locativo, destinatário, medida, instrumento, etc.);
< A indicação das funções sintáticas dos actantes (sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento adverbial, etc.);
<A configuração morfossintática dos actantes (substantivo, pronome, adjetivo, advérbio, etc.).
Além dos verbos, também os substantivos e os adjetivos possuem valência, ainda que subordinada à valência verbal, pelo que se designam por autossemânticos.
A gramática de valências propõe assim um modelo de análise linguística em que a análise semântica é privilegiada, pelo que qualquer análise sintática do verbo não pode ser encarada sem a sua dimensão semântico-funcional e semântico-denotativa.
Mário Vilela é o principal responsável pela aplicação deste modelo ao Português Europeu, desde os anos oitenta, culminando na sua importante obra de referência Gramática da Língua Portuguesa (1999, Coimbra: Almedina). Este modelo foi também aplicado ao português do Brasil, por M. H. Moura Neves, na obra Gramática de Usos do Português (1999, S. Paulo: UNESP).
Construído em torno do conceito de valência, este modelo perspetiva uma estruturação hierarquizada dos elementos que compõem uma frase, sendo que o núcleo, o elemento central, é o verbo, à volta do qual "gravitam" os seus satélites. Uma frase é pois uma unidade autónoma e independente que possui um verbo. O verbo funciona como um elemento regente e hierarquicamente superior, do qual dependem outras palavras, ou satélites, que são regidas por esse verbo. Neste momento surge o conceito de valência, que é a "capacidade de as palavras estabelecerem, com base no seu significado léxico, determinadas relações com outras palavras" (Vilela, 1999: 34). Quando os elementos estabelecem relações fortes com o seu núcleo designam-se por actantes, ou dependentes da valência. Quando os elementos não criam dependências com o núcleo, designam-se por circunstantes, ou complementos livres. Por outras palavras, os complementos que dependem do verbo, que preenchem os lugares vazios previstos pela estrutura semântico-sintática do verbo constituem os seus actantes, que podem ser obrigatórios ou facultativos. Os actantes obrigatórios não podem ser suprimidos (ex.ii), ao passo que os actantes facultativos podem ser elididos sem risco de agramaticalidade (ex. iv, v):
i) Ela [actante facultativo] mora no Porto [actante obrigatório].
ii) *Ela [actante facultativo] mora.
iii) Eu [actante facultativo] escrevi um e-mail [actante facultativo] à Joana [actante facultativo].
iv) Eu [actante facultativo] escrevi à Joana [actante facultativo].
v) Eu [actante facultativo] escrevi um e-mail [actante facultativo].
Os circunstantes correspondem aos complementos circunstanciais da gramática tradicional:
vi) Eu escrevi um e-mail à Joana apressadamente [circunstante].
A valência do verbo indica:
< O número de actantes previstos pelo esquema actancial do verbo, responsável pela classificação dos verbos em:
A-valentes (ou seja, sem actantes; é o caso dos verbos meteorológicos, que são impessoais e intransitivos - ex: chove)
Monovalentes (com um actante; é o caso dos verbos intransitivos, - ex: ela dorme)
Bivalentes (com dois actantes - ex: ela telefonou ao Pedro)
Trivalentes (com três actantes - ex: ela colocou o livro na estante)
< A obrigatoriedade ou não obrigatoriedade da realização dos actantes (ou seja, se os actantes são obrigatórios ou facultativos);
< A caracterização semântico-denotativa dos actantes (em termos de semas de + animado, + humano, -humano);
< A caracterização semântico-funcional dos actantes (em termos de funções temáticas: agente, paciente, locativo, destinatário, medida, instrumento, etc.);
< A indicação das funções sintáticas dos actantes (sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento adverbial, etc.);
<A configuração morfossintática dos actantes (substantivo, pronome, adjetivo, advérbio, etc.).
Além dos verbos, também os substantivos e os adjetivos possuem valência, ainda que subordinada à valência verbal, pelo que se designam por autossemânticos.
A gramática de valências propõe assim um modelo de análise linguística em que a análise semântica é privilegiada, pelo que qualquer análise sintática do verbo não pode ser encarada sem a sua dimensão semântico-funcional e semântico-denotativa.
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Como referenciar
Porto Editora – gramática de valências na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-09 08:49:43]. Disponível em
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