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Igreja de S. João Evangelista (Funchal)
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A Igreja de S. João Evangelista ou do Colégio, como ainda é designada, da cidade do Funchal é um interessante exemplo de arquitetura maneirista. Os primeiros jesuítas vieram para a ilha da Madeira em 1570, a pedido das autoridades locais, com o intuito de fundarem aqui um colégio. Após terem vivido em instalações provisórias, as obras do colégio têm início em 1599 e em 1629 começa a erguer-se a igreja.
Com a expulsão da Companhia de Jesus (1759) pelo Marquês de Pombal, o colégio e a igreja estiveram encerrados até 1788, altura em que aqui se instala o seminário que, por sua vez, viria a sair em 1801. A igreja só é aberta de novo ao culto católico em meados do século XIX.
A frontaria apresenta-se imponente, mas de simples e harmonioso traçado. A fachada é ritmada por pilastras criando três corpos (dois laterais e um central) divididos em três pisos. No piso térreo rasga-se o pórtico central de arco pleno, rematado por frontão curvo aberto, sendo ladeado por colunas com pedestais. Nos flancos destes abrem-se duas portas com o mesmo tipo de enquadramento, só que encimados por frontões triangulares.
Frontaria do templo maneirista
Nos corpos das torres rasgam-se dois nichos que albergam as esculturas de Santo Inácio de Loyola e de S. Francisco Xavier. O piso intermédio é delimitado por duas cornijas ressaltadas e, axialmente, surge-nos uma estrutura ornamental tratada como pórtico - com colunas e frontão curvo, que se divide em dois setores; no superior, as janelas e no inferior o monograma esculpido da Companhia de Jesus. Ladeiam esta composição quatro janelas de sacada sobrepostas (duas de cada lado), apresentando verga saliente a sublinhar o duplo andar das janelas.
O último piso é rematado por empena triangular coroada por cruz latina. Ostenta ao centro o escudo de armas do reino, inscrito em moldura pentagonal, tocando esta na janela que se abre logo abaixo. No eixo das janelas duplas surgem dois nichos, onde se encontram duas esculturas que representam S. Francisco de Borja e Estalisnau Kostka.
Os corpos laterais são rematados por balaustrada interrompida com pináculos na continuação das pilastras.
Interiormente, somos surpreendidos pelo efeito cromático criado pelos diversos materiais que a ornam. A igreja segue o esquema habitual das igrejas jesuíticas: nave espaçosa orientada para a capela-mor, púlpitos a meio da nave e capelas laterais comunicantes. Na nave abrem-se oito capelas encimadas por tribunas retangulares, balaustradas, à exceção da que se situa mais próximo da ousia, de vão mais elevado e tocando na arquitrave que sustenta a cobertura em abóbada de berço. Esta é pintada em "trompe l'oeil" com enquadramentos arquitetónicos.
O conjunto formado pelo arco cruzeiro, retábulos colaterais e retábulo-mor, foi tratado à maneira de um retábulo de edículas, camarim e trono. Os retábulos laterais inserem-se em arco pleno, encimados por pinturas, cujas molduras são em talha dourada, as superiores já de talha de características barrocas. A capela maior apresenta cobertura em abóbada de berço com caixotões, expondo pinturas nas paredes da ousia e uma outra na parte axial do segundo piso do retábulo. Este é do século XVII (1660) e abriga, lateralmente, esculturas em nichos enquadrados por colunas. Ao centro, ostenta um magnífico sacrário com minucioso trabalho em prata dourada.
Os panos da nave e capelas são revestidos por azulejos do século XVII, em tons de azul e amarelo, sendo em azul e branco os de cariz fitomórfico. Na entrada do templo, os azulejos apresentam cenas do Apocalipse.
Este templo encerra ainda outras obras de grande qualidade, como é o caso do guarda-vento e dos púlpitos. As obras de escultura e pintura espalhadas pelas capelas e sacristia são todas elas de interesse artístico. Esta igreja reúne um dos melhores núcleos de talha dourada do século XVII existente em Portugal.
A bonita sacristia apresenta cobertura em abóbada de arestas alongadas, partindo de mísulas, e é pintada com medalhões e enrolamentos vegetalistas. Aqui mostra-se um grande arcaz encimado por telas que são emolduradas por talha dourada barroca e, ao centro, ostenta um Cristo crucificado inscrito em arcos plenos, sustentados por colunas torsas.
Até agora, a responsabilidade do risco deste templo funchalense tem sido atribuída ao arquiteto, escultor e entalhador Brás Fernandes, que viveu a sua maior parte no Funchal.
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Como referenciar
Porto Editora – Igreja de S. João Evangelista (Funchal) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-19 19:03:17]. Disponível em
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