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Índia Mauria e Gupta
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Em 326 a. C., Alexandre Magno atravessou o Indo na última fase da sua conquista do Império Persa. Ocupou temporariamente o Punjab e o Sind - a maior parte do atual Paquistão -, mas, perante os problemas de abastecimento e a frágil moral das suas tropas, viu-se obrigado a regressar à Babilónia. Deixou algumas guarnições nas províncias conquistadas, mas a sua morte, ocorrida em 323 a. C., eliminou a sua ambição de constituir um império helénico universal e em 317 a. C. os últimos exércitos gregos abandonam o subcontinente indiano.

A maior parte do atual Paquistão estava dividido em numerosos pequenos estados, alguns deles reinos e repúblicas. No Este, mais para além do Punjab, a maior parte da bacia do Ganges e uma área indeterminada fora desta encontrava-se sob o controlo de uma dinastia real chamada Nanda, odiada pelos seus súbditos. Alexandre desejava avançar para além do rio Beas para atacar os Nanda, mas foi dissuadido pelos seus generais. Os Nanda, cuja capital estava em Pataliputra (atual Patna), representavam a penúltima fase de um processo de domínio político da Índia Setentrional que remontava à época de Buda, cerca de 200 anos antes.

Um jovem do clã dos Mauria, chamado Chandragupta, conseguiu acabar com a dinastia nanda e conquistou o trono de Pataliputra. Tudo leva a crer que este jovem se aproveitou do vazio do poder provocado pela retirada de Alexandre para consolidar o seu domínio no Noroeste, de onde avançou pelo Ganges e derrotou o último rei nanda. Não sabemos a data exata do começo do reinado de Chandragupta, mas este poderá ser situado entre os anos 324 e 317 a. C., tendo reinado durante 24 anos.

Já na época de Buda, o pequeno reino de Magadha começou a desenvolver uma importante burocracia, com um controlo centralizado. Não conhecemos com exatidão as etapas da sua evolução, mas na época de Chandragupta, a maior parte do Norte da Índia constituía um só império, controlado por um amplo corpo de funcionários assalariados nomeados pelo rei. A maior parte dos reinos subordinados mais pequenos tinham desaparecido, para se converterem em províncias imperiais governadas por oficiais do Estado Mauria. O Estado participava em grande medida na indústria e no comércio e promovia a agricultura através de projetos de irrigação e da ocupação da terra sem cultivar. A razão fundamental para tal não era a preocupação pelo bem-estar do povo, já que o imposto sobre a terra cultivada, que constituía uma espécie da renda, era a principal fonte de ingressos do governante indiano. Decididamente, Chandragupta decretou uma série de medidas dirigidas a estimular o desenvolvimento da agricultura, guiado por motivos fundamentais ou interesse pessoal, e pelo desejo de "agradar ao povo", teoricamente a sua função mais importante, depois da proteção.

No que respeita à organização pessoal, prevaleceu o sistema das quatro classes (varna) que tinha surgido nos últimos seiscentos anos. Não era ainda o sistema rígido como seria posteriormente e em alguns casos celebravam-se casamentos entre membros de classes distintas. O sistema de castas encontrava-se numa fase incipiente e as normas bramânicas da vida social e familiar não eram seguidas por todos, nem tão-pouco nas classes superiores.
Os brâmanes dominavam a vida religiosa da zona ocidental do Ganges, mas agora contavam com numerosos rivais que lutavam para obter o apoio dos laicos. Tinha aparecido uma importante classe de comerciantes, patrocinadores dos novos movimentos ascéticos, sendo um dos mais importantes o jainismo.
Os budistas, cuja importância decresceu neste período, continuavam sem dúvida a ser um fator importante na vida religiosa. Todas as seitas praticavam a ahimsa ou a não violência, assim como o seu corolário de vegetarianismo, e opunham-se à pretensão dos brâmanes de monopolizar a Verdade e a Sabedoria. Os reis mauria, tal como os nanda, mostravam-se favoráveis às novas seitas e apoiaram-nas.

Chandragrupta expandiu consideravelmente o império que tinha recebido dos Nanda. Até ao final do seu reinado teve que lutar com Selêuco Nicátor (c. 356-281 a. C.), que controlava a maior parte das possessões asiáticas de Alexandre. Chandragupta reinava sobre um imenso império que se estendia desde Kandahar, no Oeste, até à desembocadura do Ganges, no Este, pressupondo-se que o seu poder se estendia também sobre Dekán.
Na maior parte do vale do Ganges, a pedra para a construção provinha de terras distantes. Por outro lado, era fácil encontrar a dura madeira tropical, pois a zona de floresta cobria uma área muito mais extensa que na atualidade. Como consequência, a madeira era o material utilizado na maior parte das construções. O esplêndido palácio de madeira da Pataliputra, onde se diz que Chandragupta dormia cada noite numa cama diferente com medo de ser assassinado, desapareceu, mas algumas das grandes fortificações de madeira preservaram-se até aos nossos dias em boas condições.

Segundo uma tradição jaina muito difundida, no final do reinado de Chandragutpa houve uma terrível fome. O rei, considerando que a fome tinha sido provocada pelos seus pecados e pelas suas deficiências como governante, abdicou, converteu-se ao jainismo e morreu, segundo o costume dos monges jainitas, de lenta inanição, em Sravana Belgola.
A Chandragupta sucedeu-lhe o seu filho Bindusara, no ano 300 a. C. Pouco sabemos dos acontecimentos do seu reinado, mas é inquestionável que manteve intacto o Império Mauria e, provavelmente, expandiu-se mais para sul. Naquele tempo era o império mais importante do mundo contemporâneo, em contacto com os governantes helenísticos do Mediterrâneo e da Ásia Ocidental. Foi uma época de expansão económica, durante a qual se beneficiaram novas terras e a classe comerciante se tornou mais poderosa.
Bindusara morreu em 270 a. C. e a sua morte deu origem a uma disputa dinástica. O trono foi ocupado pelo seu filho Asoka, que expulsou todos os príncipes tribais e começou o reinado governando como o tinham feito o seu pai e o seu avô. No oitavo ano da sua consagração, pôs termo de forma sangrenta a uma revolta em Kalinga (atual Orissa) que lhe provocaria uma mudança transcendental. Converteu-se ao budismo reformando totalmente a sua administração.

As suas reformas dirigiam-se na busca da prosperidade, do bem-estar e da felicidade dos seus súbditos. Fortaleceu a administração central criando um corpo de "inspetores da moralidade" (dharma-mahamatra), diretamente responsável perante ele e cuja obrigação consistia em assegurar o cumprimento de uma nova política. A profunda transformação foi motivada, em grande parte, pelo budismo e por um autêntico budista. A nova política iniciada por Asoka não lhe sobreviveu: depois da sua morte, ocorrida em 232 a. C., o seu grande império começou a sucumbir, num processo que provavelmente teve o seu início ainda durante o reinado de Asoka.
Asoka fracassou na sua tarefa política e a sua recordação só foi conservada pelos budistas, mas o seu reinado teve, pelo menos, um efeito real e duradouro. Graças ao seu apoio, a Igreja budista estendeu a sua influência.

A grande expansão do budismo durante o reinado de Asoka impulsionou notavelmente o desenvolvimento da arquitetura pétrea. Belas colunas ornamentais foram erigidas próximas dos stupas, muitas delas gravadas com éditos de Asoka.
Por volta de 186 a. C., os Mauria foram substituídos por uma nova dinastia, a dos Sunga. Durante todo o século II a. C., uma série de reis de língua e costumes gregos controlaram a maior parte do Paquistão moderno. Entretanto, no século I a. C., os gregos foram substituídos pelos Sakas. Esta época, normalmente denominada "período das invasões", deve ter provocado grandes transtornos na Índia, devido à presença de importantes grupos de guerreiros que percorriam sem cessar as planícies.

Nos inícios do século IV d. C., o jovem rei de uma dinastia secundária começou a incrementar o seu poder: era Candra Gupta I (c. 320-335). À sua morte, controlava todo o curso do Ganges, desde Allahabad, no oeste, até às fronteiras de Bengala, na Índia Oriental. Desde aqui, o seu filho Samudra Gupta (c. 335-376) ampliou o seu poder. Tal como já o tinham feito os mauria, Samudra Gupta conduziu uma expedição até ao Sul da Índia, chegando até Kanchi, a capital de uma nova dinastia, a dos Pallava, obrigando, no seu avanço, a que numerosos reinos lhe rendessem homenagem e pagassem tributo. Reduziu a vassalagem às tribos do Rajastão e o seu poder estendeu-se desde o Punjab oriental até Bengala e Assam. À sua morte, o único reino independente do Norte da Índia que ainda conservava alguma importância era o dos Sakas de Ujjain.

O rei da seguinte dinastia, o filho de Samudra, Candra Gupta II (376-414), foi o mais poderoso de toda a dinastia. Dominou os Sakas e, ao que parece, converteu em quartel-general a sua capital, Ujjain. Através de um casamento dinástico controlou durante um certo tempo o reino dos Vakatakas no centro da Índia. A extensão do seu reino não era tão grande como o de Asoka, pois a maior parte do Paquistão moderno encontrava-se fora dele. A este monarca associou-se o mais importante dos poetas e dramaturgos da Índia, Kalidasa, de quem se diz ter sido poeta da sua corte e cujas obras de estilo extraordinariamente cuidado refletem a cultura urbana da época.

O Império Gupta continuou a florescer sob o reinado do sucessor de Candra Gupta II, Kumara Gupta I (c. 414-454). Não há notícias de confronto importante até ao final do seu reinado e o Norte da Índia continuou a gozar de paz e prosperidade. Uma série de testemunhos indiretos demonstram que o comércio exterior declinou, mas a atividade cultural continuou a ser intensa. Desta época datam algumas das obras pictóricas mais importantes da Índia que chegaram até nós.
No final do reinado de Kumara Gupta I, a ventura dos Gupta, que tinham conhecido uma constante expansão durante mais de cem anos, sofreu um revés. Uma tribo nómada da Ásia Central, os Hunas, tinha ocupado Bactriana nos finais do século IV d. C., conquistando outras partes da Ásia Central e do Afeganistão. De qualquer forma, não há provas de que estas tribos tenham causado graves problemas aos Gupta até meados do século V.

Por volta de 450, os Hunas atacaram o Império Gupta. A situação agravou-se ainda mais devido à morte do velho imperador Kumara Gupta. Sucedeu-lhe o seu filho Skanda Gupta (c. 454-467), que conseguiu expulsar os Hunas e devolver ao império algum do seu antigo prestígio. Mas não tardaram novas ameaças à sua integridade. À morte de Skanda Gupta, e após um breve reinado, sucedeu um período de disputas dinásticas, a que se seguiu o longo reinado de Budha Gupta (c. 475-495). O império sobreviveu, mas já era só uma sombra do que fora noutros tempos. Budha Gupta continuou a controlar diretamente a planície central do Ganges, mas para lá desta região os governadores provinciais começaram a adotar o título de reis na qualidade de monarcas-vassalos, ainda que demonstrassem pouco respeito perante o seu senhor imperial. Até finais do século V, não se registaram novos ataques dos Hunas. Quando estes ocorreram, já o Estado gupta se tinha convertido numa espécie de império feudal.

Durante várias décadas, os Hunas atacaram o Irão, dominado por sassânidas, mas ao mesmo tempo consolidaram a sua posição no noroeste do subcontinente indiano de onde, a partir dessa posição estratégica, atacaram novamente por volta do ano 500.
Ainda que a sobrevivência do Império Gupta esteja testemunhada no Norte de Bengala, em Bihar, no Oriente, em Utar Pradesh, até meados do século VI d. C., este nunca mais voltou a conhecer o esplendor do passado.
E de todas as partes surgiram reinos locais, que negavam a sua submissão aos Gupta. Alguns deles pertenciam a famílias antigas de governantes secundários; outros descendiam dos funcionários ou generais gupta.
Uma nova era começava na Índia e ainda que Harsavardhana de Kanuj (606-647) tenha conseguido a hegemonia sobre a maior parte da Índia, nenhum outro rei da época posterior conseguiu alcançar o poder que os mauria e os gupta conseguiram.

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Como referenciar
Porto Editora – Índia Mauria e Gupta na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-23 17:47:59]. Disponível em

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