instituição total
"Pode-se definir uma instituição total como um lugar de residência e de trabalho onde um grande número de indivíduos, colocados numa mesma situação, cortados do mundo exterior por um período relativamente longo, levam em conjunto uma vida reclusa segundo modalidades explícita e minuciosamente regulamentadas" (1968, Goffman - Asiles. Paris: Minuit (trad. port., 1996, Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Ed. Perspetiva). Assim começa Asylums, a obra que E. Goffman dedica a este género de instituições. O autor distingue cinco tipos de instituições totais:
1) os organismos que acolhem pessoas inofensivas, mas incapazes de garantir as suas próprias necessidades (lares para idosos, órfãos e indigentes);
2) estabelecimentos que recebem pessoas também não autónomas, mas potencialmente perigosas para a comunidade, sendo esta nocividade involuntária (sanatórios, hospitais psiquiátricos e leprosarias);
3) instituições destinadas a proteger a comunidade de pessoas rotuladas como intencionalmente ameaçadoras (prisões, penitenciárias e campos de concentração);
4) instituições vocacionadas para a realização de uma missão ou tarefa utilitária (casernas, navios e internatos);
5) estabelecimentos de retiro do mundo, normalmente de teor religioso (abadias, mosteiros e conventos).
Totais, estas instituições envolvem a globalidade da vida dos "reclusos", tomam todo o seu tempo, que controlam até aos mais ínfimos pormenores. "Em primeiro lugar, sob uma única e mesma autoridade, todos os aspetos da existência se inscrevem num mesmo quadro; em seguida, cada fase da atividade quotidiana desenrola-se, para cada participante, numa relação de promiscuidade total com um grande número de outras pessoas, subordinadas aos mesmos tratos e às mesmas obrigações; em terceiro lugar, todos estes períodos de atividade são regulados segundo um programa estrito... cuja aplicação é assegurada por uma equipa administrativa" (Goffman). Fechadas, isoladas, ecológica e humanamente, estas instituições constituem microcosmos sociais separados do resto da sociedade. "Sinal do seu carácter envolvente ou totalitário são as barreiras que se erguem às trocas sociais com o exterior, assim como às entradas e saídas, o que se concretiza através de obstáculos materiais: portas aferrolhadas, muros altos, arame farpado, falésias...".
A este corte com o mundo exterior sobrepõe-se um segundo corte entre os reclusos, por um lado, e o "pessoal de enquadramento", por outro. Os primeiros, acantonados no interior do estabelecimento, poucos ou nenhuns contactos mantêm com o mundo exterior, enquanto que os segundos permanecem socialmente integrados nesse mundo exterior, apenas trabalhando na instituição durante o horário que lhes assiste. "As trocas entre estes dois grupos são do mais restrito. A distância que os separa é imensa e na maior parte das vezes imposta pela instituição " (Goffman). Todo e qualquer novo recluso, "recruta", é submetido a uma série de procedimentos e de rituais, "as cerimónias de admissão", e regimentado em rotinas que tendem a limar a sua individualidade, a sua ligação ao mundo exterior, a sua memória, os seus marcos e a sua vontade própria. A absorção pela instituição provoca, assim, a despersonalização, a degradação da identidade pessoal e a perda de autonomia. Alienados, reduzidos a meros membros, amiúde rebatizados, os reclusos tornam-se, ao cabo deste processo, extremamente dependentes da instituição que os molda e acolhe, concebendo-se ou tornando-se, efetivamente, incapazes de enfrentarem outros "ambientes" ou de neles (re)fazerem as suas "vidas".
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