Quarenta árvores em discurso directo

António Bagão Félix

As histórias que nos matam

Maria Isaac

O segredo de Tomar

Rui Miguel Pinto

1 min

Instrumentos para a Melancolia
favoritos

Publicado pelas edições O Oiro do Dia, na coleção «Obscuro Domínio», reúne três conjuntos poéticos: «Sequências Regulares», «Papel Vegetal / Justaposições» e «Instrumentos para a Melancolia». Em diálogo com as poéticas seiscentistas, pelo uso de formas fixas como o soneto ou a oitava, pela regularidade métrica, pela complexidade das construções sintáticas, pelos jogos engenhosos de palavras, a poesia de Instrumentos para a Melancolia compreende o legado clássico, não como um simples anacronismo literário, mas como fonte de modernidade, abrindo-o, pela redução de pontuação e supressão de maiúsculas, à ambiguidade e potencializando múltiplas leituras. Aventura de linguagem, a expressão poética toca quase um ludismo experimental nos sonetos de «Transcrição de Dante», compostos a partir de exercícios operados sobre sete sonetos de Dante: o conjunto estrutura-se pelo confronto entre cada um dos sete sonetos textualmente oriundos da tradição italiana, com cada um dos sonetos com que o poeta questiona ou subverte as coordenadas teóricas veiculadas pelos sonetos clássicos, quer mostrando-se consciente dos limites e significado dos elementos retóricos de que dispõe ("e saíam ramagens e canoras / hipálages: dizer é na verdade / um piedoso rito um estatuto / de produzir o amor de nomear", «c)»); quer vazando ironicamente na forma clássica conteúdos atuais completamente alheios ao intertexto da vita nuova (cf. por exemplo, «e)»: só vejo a salvação no imanente / e é preciso agir e praticar / e até sem ser marxista alguma inveja / tenho de umas certezas e do método", ou «f)»: "a qualidade de vida preocupa / muita gente que tanto ama / os humildes / monarquicamente quero dizer / as teorias por vezes são de obscuros / princípios e proveitos os meus olhos viram / já multidões em fúria e verbalismos / escutei a mostrarem desventura"). Nesta obra, o conhecimento da poesia, dos "instrumentos" da arte poética, transforma-se, ao mesmo tempo, no "conhecimento das malhas envolventes e castradoras do ato poético ou de qualquer ato cultural ou simplesmente humano" (cf. MARTINS, Manuel Frias - Sombras e Transparências da Literatura, 1983, p. 89), ou seja, converte-se então na "melancolia", no seu sentido renascentista, enquanto característica que distingue o artista obsidiado "pelo conhecimento racionalizado dos limites dos seus instrumentos" (ibi, p. 90).
Partilhar
  • partilhar whatsapp
Como referenciar
Porto Editora – Instrumentos para a Melancolia na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-30 21:27:11]. Disponível em

Quarenta árvores em discurso directo

António Bagão Félix

As histórias que nos matam

Maria Isaac

O segredo de Tomar

Rui Miguel Pinto