Irene Lisboa
Poetisa e ficcionista, nasceu na freguesia de Arranhó em Arruda dos Vinhos a 25 de dezembro de 1892, e morreu a 25 de novembro de 1958. Foi professora primária, realizou estudos de pedagogia na Suíça, França e Bélgica, tendo, neste domínio, publicado alguns estudos sob o pseudónimo de Manuel Soares.
Colaborou em publicações periódicas como Presença, Sol Nascente, Seara Nova, Litoral e Cadernos de Poesia.
Depois da publicação do volume de prosa 13 Contarelos, Irene Lisboa faz a sua verdadeira estreia no domínio das Letras portuguesas com a publicação das obras de poesia Um Dia e Outro Dia (1936) e Outono Havias de Vir (1937), sob o pseudónimo de João Falco. Obras acolhidas com louvor por uma parte da crítica, sobretudo aquela próxima de Seara Nova, e que inauguram, para José Gomes Ferreira, um novo molde de escrita poética feminina, levando "a poesia até às últimas consequências do desconcerto formal, dessacralizando-a, esvaziando-a de todos os rituais, sem contudo a banalizar nem tomar ares de revolucionária indómita" (p. 19), sendo que a "preferência não escondida pela gente do povo e o amor por certas pequeninas coisas" são alguns dos traços que lhe valeriam, na sua carreira literária, uma injusta indiferença por parte das casas editoras e da crítica mais conservadora. Do ponto de vista formal, a rutura com os cânones da lírica tradicional funda-se numa poesia de rigor novo, a uma vista inadvertida, próxima da prosa ("Achaste a forma que te convinha,/a forma boa para o teu pensamento.../metrificada ou não/mas curta, emotiva,/exclamativa. /Como tu agora escreves/pensamos nós todos/infinitas vezes." (in "Outro Dia", Um Dia e Outro Dia...);
"Escrever assim... / escrever sem arte,/sem cuidado,/sem estilo,/sem nobreza,/sem lindeza.../sem maior concentração,/sem grandes pensamentos,/sem belas comparações,/não será escrever!/Mas assim me apetece,/que o entendam ou não,/que o admitam ou não,/escrever.../estender/o delgado, esfiado,/inoperante/pensamento." (in "Outro Dia" in Um Dia e Outro Dia...), impressão corroborada pela epígrafe que abre o segundo volume de versos, Ao que vos parecer versos chamai verso e ao resto chamai prosa, e que ficaria célebre na polémica - que teve como defensores, entre outros, Adolfo Casais Monteiro - para a afirmação do verso livre em Portugal. A escrita confessional, a atenção a momentos e pequenos nadas do quotidiano, a observação dos mais humildes, muitas vezes contendo implicitamente uma crítica a valores burgueses, a consciência de si mesma objectivizada no confronto com um mundo inóspito, transitarão da poesia para o volume Solidão - Notas do Punho de uma Mulher, uma obra híbrida, que se aproxima do género diarístico pela inclusão de algumas datações genéricas e por um pendor introspetivo que procura desarticular as causas de um mal-estar indefinido - dir-se-ia uma menina e moça da atualidade, obsidiada por uma tristeza omnipresente e encontrando na escrita um instrumento de autoconhecimento -, apoiando-se na memória e no registo da momentaneidade, mas que se aproxima também da novelística pela transfiguração da "experiência de observação do mundo e dos outros" (retratos, cenas) em "matéria de escrita" (cf. MORÃO, Paula - prefácio a Obras de Irene Lisboa, Lisboa, Presença, 1991). Entre a obra poética e publicação destas notas inscreve-se o volume narrativo Começa uma Vida, que, continuado em Voltar Atrás para Quê?, dá sequência, agora, sob a forma de novela autobiográfica, a um discurso do eu que se autoanalisa com lucidez e melancolia, e ao intimismo auto-reflexivo e fragmentário daqueles dois outros registos. A sua bibliografia abrange ainda obras para crianças, como Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma ou Queres Ouvir? Eu Conto - Histórias Para Maiores e Mais Pequenos se Entreterem, e coletâneas de crónicas, como O Pouco e o Muito, Esta Cidade ou Título Qualquer Serve. No que diz respeito ao género cronístico, também aí o "o sujeito aprende sobre si mesmo a partir da observação do mundo, alternando movimentos que o dobram sobre si com outros que, no exterior, lhe fornecem materiais de contraste. [...] As "vidas que me cercam", deste modo, têm um efeito de espelho amplificador da vida da narradora, assim posta na posição axial de quem faz parte de um tempo e de uma cidade." (cf. MORÃO, Paula - prefácio a Obras Completas de Irene Lisboa. Esta Cidade!, vol. V, Lisboa, Presença, 1995, pp. 10-11).
Colaborou em publicações periódicas como Presença, Sol Nascente, Seara Nova, Litoral e Cadernos de Poesia.
"Escrever assim... / escrever sem arte,/sem cuidado,/sem estilo,/sem nobreza,/sem lindeza.../sem maior concentração,/sem grandes pensamentos,/sem belas comparações,/não será escrever!/Mas assim me apetece,/que o entendam ou não,/que o admitam ou não,/escrever.../estender/o delgado, esfiado,/inoperante/pensamento." (in "Outro Dia" in Um Dia e Outro Dia...), impressão corroborada pela epígrafe que abre o segundo volume de versos, Ao que vos parecer versos chamai verso e ao resto chamai prosa, e que ficaria célebre na polémica - que teve como defensores, entre outros, Adolfo Casais Monteiro - para a afirmação do verso livre em Portugal. A escrita confessional, a atenção a momentos e pequenos nadas do quotidiano, a observação dos mais humildes, muitas vezes contendo implicitamente uma crítica a valores burgueses, a consciência de si mesma objectivizada no confronto com um mundo inóspito, transitarão da poesia para o volume Solidão - Notas do Punho de uma Mulher, uma obra híbrida, que se aproxima do género diarístico pela inclusão de algumas datações genéricas e por um pendor introspetivo que procura desarticular as causas de um mal-estar indefinido - dir-se-ia uma menina e moça da atualidade, obsidiada por uma tristeza omnipresente e encontrando na escrita um instrumento de autoconhecimento -, apoiando-se na memória e no registo da momentaneidade, mas que se aproxima também da novelística pela transfiguração da "experiência de observação do mundo e dos outros" (retratos, cenas) em "matéria de escrita" (cf. MORÃO, Paula - prefácio a Obras de Irene Lisboa, Lisboa, Presença, 1991). Entre a obra poética e publicação destas notas inscreve-se o volume narrativo Começa uma Vida, que, continuado em Voltar Atrás para Quê?, dá sequência, agora, sob a forma de novela autobiográfica, a um discurso do eu que se autoanalisa com lucidez e melancolia, e ao intimismo auto-reflexivo e fragmentário daqueles dois outros registos. A sua bibliografia abrange ainda obras para crianças, como Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma ou Queres Ouvir? Eu Conto - Histórias Para Maiores e Mais Pequenos se Entreterem, e coletâneas de crónicas, como O Pouco e o Muito, Esta Cidade ou Título Qualquer Serve. No que diz respeito ao género cronístico, também aí o "o sujeito aprende sobre si mesmo a partir da observação do mundo, alternando movimentos que o dobram sobre si com outros que, no exterior, lhe fornecem materiais de contraste. [...] As "vidas que me cercam", deste modo, têm um efeito de espelho amplificador da vida da narradora, assim posta na posição axial de quem faz parte de um tempo e de uma cidade." (cf. MORÃO, Paula - prefácio a Obras Completas de Irene Lisboa. Esta Cidade!, vol. V, Lisboa, Presença, 1995, pp. 10-11).
Partilhar
Como referenciar
Porto Editora – Irene Lisboa na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-19 09:25:57]. Disponível em
Outros artigos
-
Presença"Folha de Arte e Crítica", publicada em Coimbra, em 1927, sob a direção de José Régio, Branquinho da...
-
LisboaAspetos geográficos Cidade, capital de Portugal, sede de distrito e de concelho. Localiza-se na Regi...
-
PortugalGeografia País do Sudoeste da Europa. Situado na parte ocidental da Península Ibérica, abrange uma s...
-
verso livreNa poética clássica, o verso livre integrava um sistema de versos heterométricos. A partir do Simbol...
-
Adolfo Casais MonteiroPoeta, ficcionista, crítico literário e ensaísta. Formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na ant...
-
José Gomes FerreiraEscritor português nascido a 9 de junho de 1900, no Porto, e falecido a 8 de fevereiro de 1985, em L...
-
BélgicaGeografia País da Europa Ocidental. Situado no noroeste da Europa, abrange uma área de 30 528 km2. A...
-
FrançaGeografia País da Europa Ocidental, a França é banhada pelo canal da Mancha a norte, pelo golfo da B...
-
SuíçaGeografia País da Europa Central. Situado em pleno maciço dos Alpes, faz fronteira com a Alemanha, a...
-
Cadernos de PoesiaRevista literária, editada em Lisboa, de orientação eclética, que teve três séries, sendo a primeira...
Partilhar
Como referenciar 
Porto Editora – Irene Lisboa na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-19 09:25:57]. Disponível em