Minha Senhora de Mim
Cumpre relembrar, na abordagem da poesia de Maria Teresa Horta, uma análise de Fernando J. B. Martinho (cf. Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50, 1996, p. 144) sobre as formas de que a poesia de amor de David Mourão-Ferreira, enquanto celebração do corpo do desejo, se reveste, descrevendo uma graduação pela qual "a expressão do 'desejo' pode ir do alusivo, por uma aproximação metonímica que evita dizê-lo claramente [...] ao metafórico, que, todavia, se não inibe, pela veemência exclamativa de ir além da simples sugestão [...] e à sua aberta assunção".
Enquanto a poesia do autor de A Secreta Viagem manifesta uma preferência pela aproximação sinedóquica do corpo do desejo, percorrendo sobretudo a expressão alusiva e metafórica do desejo, numa poesia em que "tende a evitar-se o que não conte com a cumplicidade imaginativa do leitor e, assim, se aproxime perigosamente do literal", a poesia de Maria Teresa Horta, marcada até certo ponto pelo contexto e intenção iconoclasta da coautora das Novas Cartas Portuguesas, não teme, embora incluindo o discurso metafórico, sinedóquico e metonímico, uma "aberta assunção" da expressão do desejo.
Em composições como «O Meu Desejo», «Poema ao Desejo», «Entre Nós e o Tempo» ou «Rosa», situadas na terceira parte de Minha Senhora de Mim, a linguagem despe-se o mais possível de véus retóricos que retardem a expressão da exaltação do corpo, da sensualidade, do erotismo, do sexo. A libertação da linguagem que nomeia o "espasmo", o "esperma", as coxas entreabertas "no início dos teus beijos" ou "a raiva do punhal que enterras / no sol pastoso / do meu ventre" funciona, pela sua subversão e violência, a um nível mais elevado, como libertação da condição feminina e da condição humana face a convenções racionais, morais e sociais, castradoras da manifestação do ser humano numa totalidade em que o corpo e o desejo foram a última cidadela da censura.
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