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Os Pregos na Erva
Da autoria de Maria Gabriela Llansol, acolhidos com um misto de perplexidade, indiferença e até reprovação pela crítica, para Augusto Joaquim, autor do posfácio à 2.ª edição de Pregos na Erva, a cultura portuguesa no início dos anos 60 ainda não estava preparada para compreender a novidade ficcional trazida por estes contos. Nascida da intenção de "provocar no leitor um desejo de mais-real [...] em mostrar fulgurâncias-de-Belo tais que o leitor é levado a com-partilhar o real que se desvenda no texto, mas sem intriga, sem apoio de identificação, sem ficção, mas sem figuras", a escrita de Llansol estabelece com o leitor um contrato de exigência que decorre da compreensão da arte como forma de conhecimento. Densamente construídos, numa narração onde nenhuma palavra ou expressão surge por acaso, mas é indispensável para a reconstituição, numa segunda leitura, dos significados do texto, os contos apresentam situações e trajetórias humanas, protagonizadas por personagens precárias, frequentemente ameaçadas pela morte, e cujas referências familiares, sociais, políticas ou nacionais desconhecemos. Entre a narratividade tradicional e uma estrutura próxima do drama estático, os contos encontram uma unidade na tessitura de símbolos e alegorias da cultura bíblica judaico-cristã - que codificam alguns dos sentidos de vários contos - e em determinadas recorrências (o cão, o amarelo e o negro, a cruz, a árvore, etc.) que conferem à realidade a categoria de cenário especialmente construído para a materialização de fragmentos de discursos, de estados e de percursos, através dos quais a autora, como Pedro de "A Manhã Morta", procura "uma substância onde esta multiplicidade se unificasse e permanecesse com uma face real" (p. 85).
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Como referenciar
Porto Editora – Os Pregos na Erva na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-10-15 23:48:20]. Disponível em
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