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processo de trabalho
Com a implantação progressiva da sociedade industrial, ao longo dos séculos XVIII e XIX, e a adoção dos valores da nova visão do mundo que a enquadrava, o trabalho começa a ser encarado como a atividade fundamental da sociedade. As sociedades modernas são sociedades fundadas sobre o trabalho. Neste sentido, as diferentes ciências do Homem assumem pouco a pouco o trabalho produtivo como objeto das suas análises. Inicialmente, a Filosofia e a História, depois a Economia, a Psicologia Social e a Sociologia. Nenhuma ciência se mostra indiferente à volta dos fenómenos produzidos no contexto de trabalho: assim, surgem novos domínios e perspetivas de estudo da relação do Homem com o seu trabalho, como por exemplo, a gestão, a ergonomia, a medicina do trabalho, o direito do trabalho, a antropologia do trabalho, entre outros.
O trabalho, como processo e ação transformadora, individual e coletiva, é um fenómeno moderno. Francis Bacon (De Augmentis, II, 2, 497) define o trabalho como "arte do Homem se acrescentar à Natureza, ars homo additus naturae".
Muito próximo ainda da visão artesanal, o trabalho é definido como arte, artefacto. Mas já aparece a ideia de articulação dinâmica entre as forças e as potencialidades da Natureza e a atividade humana. Esta noção de relação à Natureza reaparece em Descartes, que formula as bases da racionalidade analítica e do método experimental, e nos autores da Enciclopédia.
Karl Marx, igualmente, considera o trabalho como "um ato que se passa entre o Homem e a Natureza". O trabalho manual e industrial é, nesta perspetiva, a única fonte de riqueza: o trabalho produtivo por oposição ao trabalho intelectual. Proudhon proclama a unidade do trabalho, organizado em federações industriais, que é mais valorizante que as atividades militares e políticas.
Como diz André Gorz, a ideia contemporânea do trabalho aparece apenas no Ocidente, com o capitalismo manufatureiro, com a decomposição da sociedade feudal, com a formação de uma grande quantidade de mão de obra disponível a integrar os novos processos de fabrico e com o triunfo do "novo espírito", a racionalidade experimental e positivista.
À reflexão filosófica sobre o trabalho segue-se a dos grandes economistas. Adam Smith analisa os mecanismos da implantação da sociedade industrial a partir do processo de divisão técnica do trabalho e do parcelamento das tarefas. É o aumento da procura e o alargamento dos mercados que, dissolvendo os modelos artesanais e as unidades familiares de fabrico, vão obrigar a reorganizar a produção, de forma cada vez mais concentrada e cadenciada. O trabalho, como base e processo produtor de riqueza útil a ser trocada no mercado, é o objeto da ciência económica e da economia política clássicas.
Neste processo de valorização do trabalho industrial, por parte da Filosofia e da Economia, aparecem vozes e movimentos discordantes que relembram as conceções pré-industriais. Estamos a referir-nos aos fisiocratas, para quem só a terra e a Natureza dão um fruto digno, classificando o trabalho manufatureiro, industrial e comercial como atividade indigna e estéril.
Para sintetizar, diríamos que o trabalho é uma realidade de difícil delimitação. As diferentes ciências humanas e sociais, sem esquecer a engenharia humana, interessam-se pelos fenómenos sociais produzidos no contexto do trabalho organizado. Daí o carácter ambíguo e de fronteiras imprecisas que caracteriza o trabalho humano, enquanto objeto de estudo. Como diz Michel de Coster, "mais do que delimitar fronteiras e territórios... mais do que fornecer definições formais que seriam estéreis e até perigosas... pretendemos adotar uma perspetiva que induza um maior conhecimento e compreensão do trabalho humano".
Tendo em conta a perda do objetivo económico e político do pleno emprego, as sociedades do futuro terão de repensar o fundamento da sua coesão social. Possivelmente, não serão mais sociedades predominantemente fundadas sobre o trabalho assalariado. Novos laços sociais surgirão das cinzas da defunta dialética entre o capital e o trabalho. O futuro do capitalismo não se augura risonho, se não for substituindo a lógica da competição exacerbada pela lógica da cooperação.
O trabalho, como processo e ação transformadora, individual e coletiva, é um fenómeno moderno. Francis Bacon (De Augmentis, II, 2, 497) define o trabalho como "arte do Homem se acrescentar à Natureza, ars homo additus naturae".
Muito próximo ainda da visão artesanal, o trabalho é definido como arte, artefacto. Mas já aparece a ideia de articulação dinâmica entre as forças e as potencialidades da Natureza e a atividade humana. Esta noção de relação à Natureza reaparece em Descartes, que formula as bases da racionalidade analítica e do método experimental, e nos autores da Enciclopédia.
Karl Marx, igualmente, considera o trabalho como "um ato que se passa entre o Homem e a Natureza". O trabalho manual e industrial é, nesta perspetiva, a única fonte de riqueza: o trabalho produtivo por oposição ao trabalho intelectual. Proudhon proclama a unidade do trabalho, organizado em federações industriais, que é mais valorizante que as atividades militares e políticas.
Como diz André Gorz, a ideia contemporânea do trabalho aparece apenas no Ocidente, com o capitalismo manufatureiro, com a decomposição da sociedade feudal, com a formação de uma grande quantidade de mão de obra disponível a integrar os novos processos de fabrico e com o triunfo do "novo espírito", a racionalidade experimental e positivista.
À reflexão filosófica sobre o trabalho segue-se a dos grandes economistas. Adam Smith analisa os mecanismos da implantação da sociedade industrial a partir do processo de divisão técnica do trabalho e do parcelamento das tarefas. É o aumento da procura e o alargamento dos mercados que, dissolvendo os modelos artesanais e as unidades familiares de fabrico, vão obrigar a reorganizar a produção, de forma cada vez mais concentrada e cadenciada. O trabalho, como base e processo produtor de riqueza útil a ser trocada no mercado, é o objeto da ciência económica e da economia política clássicas.
Neste processo de valorização do trabalho industrial, por parte da Filosofia e da Economia, aparecem vozes e movimentos discordantes que relembram as conceções pré-industriais. Estamos a referir-nos aos fisiocratas, para quem só a terra e a Natureza dão um fruto digno, classificando o trabalho manufatureiro, industrial e comercial como atividade indigna e estéril.
Para sintetizar, diríamos que o trabalho é uma realidade de difícil delimitação. As diferentes ciências humanas e sociais, sem esquecer a engenharia humana, interessam-se pelos fenómenos sociais produzidos no contexto do trabalho organizado. Daí o carácter ambíguo e de fronteiras imprecisas que caracteriza o trabalho humano, enquanto objeto de estudo. Como diz Michel de Coster, "mais do que delimitar fronteiras e territórios... mais do que fornecer definições formais que seriam estéreis e até perigosas... pretendemos adotar uma perspetiva que induza um maior conhecimento e compreensão do trabalho humano".
Tendo em conta a perda do objetivo económico e político do pleno emprego, as sociedades do futuro terão de repensar o fundamento da sua coesão social. Possivelmente, não serão mais sociedades predominantemente fundadas sobre o trabalho assalariado. Novos laços sociais surgirão das cinzas da defunta dialética entre o capital e o trabalho. O futuro do capitalismo não se augura risonho, se não for substituindo a lógica da competição exacerbada pela lógica da cooperação.
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Como referenciar
Porto Editora – processo de trabalho na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-10 01:05:05]. Disponível em
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