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prolepse
Técnica narrativa do domínio das anacronias (tipo de construção da narrativa em que o seu fluir temporal é sujeito a exigências da organização discursiva, alterando a sua cronologia, ou por retrospetiva - analepse, ou por antecipação - prolepse) simetricamente oposta à analepse, que consiste em antecipar o relato de eventos cuja ocorrência é posterior ao tempo presente da enunciação da história. A prolepse é uma técnica menos utilizada que a analepse, ocorrendo mais frequentemente em narrativas na primeira pessoa, do género autobiográfico ou memorialista, como por exemplo na obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, em que o narrador relata o episódio do seu funeral no primeiro capítulo, só então recuperando a história da sua vida desde a infância nos capítulos seguintes:
"Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova (...). Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias (...)."
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Capítulo I.
A prolepse manifesta-se geralmente por meio de expressões verbais e adverbiais de futuro ou condicional (no discurso indireto) e tem como funções provocar o suspense, manipular as expectativas do leitor por meio de pequenas doses de antecipação de factos, antecipar habilmente o desfecho, criar uma atmosfera de mistério, gerir a curiosidade do leitor.
A prolepse não deve, porém, confundir-se com a profecia ou a premonição, cujo objetivo é o de criar uma atmosfera de agoiro e fatalismo, sempre que os factos previstos não se venham a concretizar na história.
"Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova (...). Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias (...)."
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Capítulo I.
A prolepse manifesta-se geralmente por meio de expressões verbais e adverbiais de futuro ou condicional (no discurso indireto) e tem como funções provocar o suspense, manipular as expectativas do leitor por meio de pequenas doses de antecipação de factos, antecipar habilmente o desfecho, criar uma atmosfera de mistério, gerir a curiosidade do leitor.
A prolepse não deve, porém, confundir-se com a profecia ou a premonição, cujo objetivo é o de criar uma atmosfera de agoiro e fatalismo, sempre que os factos previstos não se venham a concretizar na história.
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Como referenciar
Porto Editora – prolepse na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-14 10:00:01]. Disponível em
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