Querela do Sigilo
Segundo nos informa Fortunato de Almeida, por decreto da Igreja, reafirmado no Código Canónico, os padres confessores não podiam perguntar os nomes dos indivíduos com quem os confessados cometiam pecados. No reinado de D. João V, corria o boato de alguns religiosos denunciarem os nomes ouvidos no ato da confissão. A estes padres foi dado o nome de sigilistas e a este pretenso movimento, sigilismo.
Por motivos de doença, D. João V entregou a chefia do seu Governo a Frei Gaspar da Encarnação, que foi bastante severo para com aqueles que cometiam abusos com as freiras. Os visados, por sua vez, convencidos de que tinham sido denunciados no exercício da confissão, fizeram correr rumores afirmando que alguns padres desrespeitavam o segredo da confissão.
Perante esta situação, o inquisidor-mor do Reino, o cardeal da Cunha, fez editar um documento, a 6 de maio de 1745, pelo qual todos os crentes eram obrigados a identificar os padres que cometessem esse delito.
Este clima de suspeição foi gerado a partir de meros rumores. Apesar de terem sido feitas cerca de 80 denúncias, não se registou verdadeiramente nenhum caso de falta de sigilo.
Algumas chefias dos bispados portugueses, discordantes dos procedimentos do Santo Ofício, consideravam injuriosa a acusação que pesava sobre os padres e chegaram, inclusivamente, a manifestar-se junto do Papa contra as medidas tomadas pelo inquisidor-mor. Bento XIV respondeu a estes apelos através da bula Ubi Primum, de 2 de junho de 1746, que procurava amenizar os procedimentos desencadeados pelo anterior bispo.
O bispo de Coimbra, D. Miguel da Anunciação, foi um dos mais ativos na luta pela reposição da reputação do clero, sendo, por isso mesmo, acusado de ser um sigilista.
Anos depois, envolveu-se de novo em polémicas quando recomendou que os seus diocesanos não lessem alguns livros, então muito em voga na Universidade de Coimbra, vindo a incompatibilizar-se com as atribuições da Real Mesa Censória, a quem cabia a interdição de determinados livros.
Em resultado destes acontecimentos, foi preso no Forte de Pedrouços, onde se manteve até ser perdoado, a 21 de novembro de 1777, três dias antes de falecer.
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