4 min
Rão Kyao
Instrumentista e compositor português, de nome verdadeiro João Maria Centeno Gorjão Ramos Jorge, nasceu em agosto de 1946, em Lisboa. É considerado um embaixador da música portuguesa no que nela existe de encontro entre as sonoridades populares e as suas origens indianas e árabes.
Aos 7 anos de idade integrou vários grupos corais. Começou a tocar saxofone tenor por volta de 1963. Passou a tocar em público a partir de 1965, principalmente em sessões de estudantes e no Hot Club de Portugal, onde pôde ser visto ao lado de grandes figuras internacionais como Don Byas, Dexter Gordon, Pony Poindexter, Ian Carr, entre outros. Em 1967 trabalhou com alguns grupos da Bossa Nova e tocou pela primeira vez no estrangeiro, nomeadamente em França e na Holanda. Em 1970, Espanha escutou-o ao vivo com frequência no Whisky Jazz Club de Madrid. No ano seguinte participou no Festival Internacional de Jazz de Cascais com os The Bridge e, em 1972, com os Status. Foi para França e durante dois anos tocou com nomes grandes do jazz e da música étnica indiana e africana. Em França iniciou o estudo sistematizado da música indiana.
Regressou a Portugal em 1974 e, dois anos mais tarde, gravou o álbum de estreia, intitulado Malpertius, que impôs Rão Kyao como um dos mais surpreendentes instrumentistas e compositores da música portuguesa. O disco de estreia contou com a colaboração do grupo de Jazz Araripa, constituído por João Heitor, José Eduardo e (ocasionalmente) António Pinho Vargas. Em 1976, participou no Festival Internacional de Jazz de Ljubljana (Jugoslávia). Em 1977 lançou Bambu, o seu segundo longa duração, considerado pela crítica o melhor disco de música portuguesa do ano.
O convite para participar em Bombaim (Índia), em 1978, como representante de Portugal, no Festival Internacional de Música Jazz Yatra, onde atuou com a big band de Clark Terry e com o seu próprio grupo, abriu-lhe perspetivas que motivaram a sua fixação nesta cidade indiana para aperfeiçoar o estudo da flauta de bambu e da música indiana, tarefa para a qual contou com o acompanhamento do flautista Ragunath Seth. Rão Kyao tomou assim consciência da enorme influência que a música indiana (a par da árabe) teve na formação da música tradicional portuguesa. No regresso a Portugal gravou Goa (1979), um reflexo dessa mesma consciência, e o disco que marca o progressivo afastamento do jazz.
Em 1980 editou Live at Cascais, gravado ao vivo com um trio de músicos ingleses e, dois anos mais tarde, surgiu Ritual, álbum em que utilizou uma secção rítmica composta por músicos indianos.
O registo Fado Bailado, de 1983, fez história por ser o primeiro disco da história da música portuguesa a conseguir a marca da Platina. Após este sucesso comercial, voltou ao Oriente, a Macau, onde foi convidado a gravar um álbum que ilustrasse, em termos musicais, a presença portuguesa no Oriente. Como resultado surgiu Macau, o Amanhecer, em 1984. Ainda no mesmo ano, gravou Estrada da Luz, eleito Álbum do Ano pela Federação dos Centros de Cultura e Desporto da Saúde e Segurança Social.
Seguiram-se Oásis (1986) e a coletânea Best of Rão Kyao (1987).
Em 1986, os álbuns Estrada da Luz e Oásis foram editados no Brasil, aonde se deslocou inúmeras vezes para concertos e ações promocionais. Depois do Brasil, em finais do mesmo ano, foi convidado a gravar em Bratislava (na então Checoslováquia), com uma orquestra sinfónica de 100 figuras, os temas de uma série televisiva que passou em vários países europeus.
Em Danças de Rua (1987), Rão atingiu a marca do Ouro e foi editado na Europa, Japão e Estados Unidos da América, seguindo-se uma digressão por países como Japão, Índia e China. Este trabalho mostrou a influência que a música nordestina brasileira exerceu na sua música. Até ao final da década, gravou Viagens na Minha Terra (1989), álbum que composto por temas inspirados no folclore português.
Em 1992, gravou Delírios Ibéricos, que contou com a participação do grupo espanhol de Flamenco, Ketama. Editado em Espanha, Japão, Alemanha e EUA, este trabalho apresentou uma fusão de música tradicional portuguesas com o Flamenco e a música indiana.
Na década de 90, seguiram-se Águas Livres (1994), Viva o Fado (1996), onde a flauta substitui a voz do fadista, e Navegantes (1998), álbum acústico de celebração dos descobrimentos portugueses, com influências da música indiana, jamaicana e árabe, e cuja principal inspiração veio de um dos mestres indianos da flauta, Hariprasad Chaurasia. Neste trabalho Rão Kyao inovou pela utilização de novos instrumentos, a ocarina e o saltério, e pela vocalização de alguns temas.
Em 1999, surgiu Junção (1999), álbum que gravou com a Orquestra Chinesa de Macau, e através do qual procurou ilustrar os cerca de 450 anos de presença portuguesa em Macau. Uma das faixas do disco, "Celebração da Paz", foi escolhida para assinalar a passagem da administração de Macau para a República Popular da China. Em 26, 27 e 29 de novembro do mesmo ano apresentou-se em palco com a Orquestra Chinesa de Macau no Coliseu do Porto, no teatro Gil Vicente, em Coimbra e na Aula Magna, em Lisboa, respetivamente.
Fado Virado a Nascente (2001) era, como o título deixava antever, uma nova abordagem do fado por parte de Rão Kyao, agora acompanhado pela fadista Deolinda Bernardo e pela cantora dos Madredeus, Teresa Salgueiro, no tema «Deus Também Gosta de Fado». A ligação à música árabe foi assumida de forma mais que explícita, socorrendo-se Rão Kyao de alguns músicos marroquinos, como o violinista Gazi e o percussionista Barmaki, que sublinham as raízes orientais da guitarra portuguesa (a cargo de Fernando Silva e Carlos Gonçalves) e os arranjos do teclista Renato Júnior e do viola Carlos Macieira.
Durante o ano de 2003, tiveram algum mediatismo os espetáculos conjuntos com o guitarrista António Chaínho, surgindo rumores não confirmados de uma eventual edição em disco.
No ano seguinte, o músico esteve empenhado na gravação de Porto Alto, álbum de originais que viria a ser apresentado em maio, por ocasião do certame Rock In Rio - Lisboa.
Aos 7 anos de idade integrou vários grupos corais. Começou a tocar saxofone tenor por volta de 1963. Passou a tocar em público a partir de 1965, principalmente em sessões de estudantes e no Hot Club de Portugal, onde pôde ser visto ao lado de grandes figuras internacionais como Don Byas, Dexter Gordon, Pony Poindexter, Ian Carr, entre outros. Em 1967 trabalhou com alguns grupos da Bossa Nova e tocou pela primeira vez no estrangeiro, nomeadamente em França e na Holanda. Em 1970, Espanha escutou-o ao vivo com frequência no Whisky Jazz Club de Madrid. No ano seguinte participou no Festival Internacional de Jazz de Cascais com os The Bridge e, em 1972, com os Status. Foi para França e durante dois anos tocou com nomes grandes do jazz e da música étnica indiana e africana. Em França iniciou o estudo sistematizado da música indiana.
Regressou a Portugal em 1974 e, dois anos mais tarde, gravou o álbum de estreia, intitulado Malpertius, que impôs Rão Kyao como um dos mais surpreendentes instrumentistas e compositores da música portuguesa. O disco de estreia contou com a colaboração do grupo de Jazz Araripa, constituído por João Heitor, José Eduardo e (ocasionalmente) António Pinho Vargas. Em 1976, participou no Festival Internacional de Jazz de Ljubljana (Jugoslávia). Em 1977 lançou Bambu, o seu segundo longa duração, considerado pela crítica o melhor disco de música portuguesa do ano.
O convite para participar em Bombaim (Índia), em 1978, como representante de Portugal, no Festival Internacional de Música Jazz Yatra, onde atuou com a big band de Clark Terry e com o seu próprio grupo, abriu-lhe perspetivas que motivaram a sua fixação nesta cidade indiana para aperfeiçoar o estudo da flauta de bambu e da música indiana, tarefa para a qual contou com o acompanhamento do flautista Ragunath Seth. Rão Kyao tomou assim consciência da enorme influência que a música indiana (a par da árabe) teve na formação da música tradicional portuguesa. No regresso a Portugal gravou Goa (1979), um reflexo dessa mesma consciência, e o disco que marca o progressivo afastamento do jazz.
Em 1980 editou Live at Cascais, gravado ao vivo com um trio de músicos ingleses e, dois anos mais tarde, surgiu Ritual, álbum em que utilizou uma secção rítmica composta por músicos indianos.
O registo Fado Bailado, de 1983, fez história por ser o primeiro disco da história da música portuguesa a conseguir a marca da Platina. Após este sucesso comercial, voltou ao Oriente, a Macau, onde foi convidado a gravar um álbum que ilustrasse, em termos musicais, a presença portuguesa no Oriente. Como resultado surgiu Macau, o Amanhecer, em 1984. Ainda no mesmo ano, gravou Estrada da Luz, eleito Álbum do Ano pela Federação dos Centros de Cultura e Desporto da Saúde e Segurança Social.
Seguiram-se Oásis (1986) e a coletânea Best of Rão Kyao (1987).
Em 1986, os álbuns Estrada da Luz e Oásis foram editados no Brasil, aonde se deslocou inúmeras vezes para concertos e ações promocionais. Depois do Brasil, em finais do mesmo ano, foi convidado a gravar em Bratislava (na então Checoslováquia), com uma orquestra sinfónica de 100 figuras, os temas de uma série televisiva que passou em vários países europeus.
Em Danças de Rua (1987), Rão atingiu a marca do Ouro e foi editado na Europa, Japão e Estados Unidos da América, seguindo-se uma digressão por países como Japão, Índia e China. Este trabalho mostrou a influência que a música nordestina brasileira exerceu na sua música. Até ao final da década, gravou Viagens na Minha Terra (1989), álbum que composto por temas inspirados no folclore português.
Em 1992, gravou Delírios Ibéricos, que contou com a participação do grupo espanhol de Flamenco, Ketama. Editado em Espanha, Japão, Alemanha e EUA, este trabalho apresentou uma fusão de música tradicional portuguesas com o Flamenco e a música indiana.
Na década de 90, seguiram-se Águas Livres (1994), Viva o Fado (1996), onde a flauta substitui a voz do fadista, e Navegantes (1998), álbum acústico de celebração dos descobrimentos portugueses, com influências da música indiana, jamaicana e árabe, e cuja principal inspiração veio de um dos mestres indianos da flauta, Hariprasad Chaurasia. Neste trabalho Rão Kyao inovou pela utilização de novos instrumentos, a ocarina e o saltério, e pela vocalização de alguns temas.
Em 1999, surgiu Junção (1999), álbum que gravou com a Orquestra Chinesa de Macau, e através do qual procurou ilustrar os cerca de 450 anos de presença portuguesa em Macau. Uma das faixas do disco, "Celebração da Paz", foi escolhida para assinalar a passagem da administração de Macau para a República Popular da China. Em 26, 27 e 29 de novembro do mesmo ano apresentou-se em palco com a Orquestra Chinesa de Macau no Coliseu do Porto, no teatro Gil Vicente, em Coimbra e na Aula Magna, em Lisboa, respetivamente.
Fado Virado a Nascente (2001) era, como o título deixava antever, uma nova abordagem do fado por parte de Rão Kyao, agora acompanhado pela fadista Deolinda Bernardo e pela cantora dos Madredeus, Teresa Salgueiro, no tema «Deus Também Gosta de Fado». A ligação à música árabe foi assumida de forma mais que explícita, socorrendo-se Rão Kyao de alguns músicos marroquinos, como o violinista Gazi e o percussionista Barmaki, que sublinham as raízes orientais da guitarra portuguesa (a cargo de Fernando Silva e Carlos Gonçalves) e os arranjos do teclista Renato Júnior e do viola Carlos Macieira.
Durante o ano de 2003, tiveram algum mediatismo os espetáculos conjuntos com o guitarrista António Chaínho, surgindo rumores não confirmados de uma eventual edição em disco.
No ano seguinte, o músico esteve empenhado na gravação de Porto Alto, álbum de originais que viria a ser apresentado em maio, por ocasião do certame Rock In Rio - Lisboa.
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Como referenciar
Porto Editora – Rão Kyao na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-23 07:49:02]. Disponível em
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