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René Descartes
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Nascido em La Haie (França) a 31 de março de 1596, é considerado o inaugurador da época moderna da história da filosofia e primeiro representante da corrente racionalista, tendo colocado como núcleo da pesquisa filosófica o problema do conhecimento.

Opondo-se veementemente à tradição escolástica de influência aristotélica, Descartes, sob inspiração do rigor demonstrativo das deduções matemáticas, foi movido pela preocupação de encontrar um fundamento absoluto e irrefutável para as ciências, que pudesse simultaneamente servir-lhes de princípio unificador, na tentativa de criar um sistema universal do saber.
"René Descartes" óleo sobre painel de Frans Hals, c. 1649

Com esse objetivo, procede à articulação das regras a que deve obedecer o método «para bem encaminhar a razão e procurar a verdade nas ciências»:

-
regra da evidência: «recusar todos os preconceitos, não tomando como verdadeira nenhuma coisa sem que a conheça evidentemente como tal e se apresente ao meu espírito tão clara e distintamente que dela não possa duvidar
».

-
regra da análise: «dividir cada um dos problemas que se me apresente no maior número de parcelas possível
».

-
regra da síntese: «conduzir os raciocínios ordenadamente, partindo dos mais simples para os mais complexos
».

- regra da enumeração: «proceder a enumerações tão completas e revisões tão gerais que possa estar certo de nada haver omitido».

Procurando, no entanto, um suporte metafísico para o seu sistema, parte de uma posição de ceticismo em que põe em causa a fiabilidade dos sentidos e considera como ilusório o mundo sensível; chega mesmo a considerar a possibilidade da inexistência de Deus, substituindo-o por um «génio maligno» cuja astúcia o poderia induzir em erro até nas verdades mais seguras das ciências dedutivas (dúvida hiperbólica). No entanto, é este mesmo processo que o conduz à verificação de uma evidência que admite incontestável - até ao duvidar, a consciência tem de existir -, formulada na célebre asserção «Penso, logo existo».

O vigor com que tal constatação se apresenta na consciência serve-lhe como primeiro critério de verdade, levando-o a propor que, «regra geral, todas as coisas que sejam concebidas de forma tão clara e tão distinta serão igualmente verdadeiras
».
Encontrada na afirmação da substancialidade do eu pensante («res cogitans») uma base suficientemente firme para o seu sistema, falta a Descartes, no entanto, ultrapassar o puro solipsismo que dela advém. Para o realizar, apoia-se na análise dos conteúdos da consciência pensante e, em particular, na constatação da presença nesta da ideia de um ser perfeito. Admitindo que as ideias podem ter três origens - os sentidos, a própria consciência ou uma instância superior -, conclui que a ideia de um ser perfeito não pode surgir dos sentidos, pois estes não podem dar origem a nada com maior realidade objetiva (i. é, das representações acidentais dos sentidos não pode provir a ideia de uma substância).

Do mesmo modo, não pode ter origem na própria consciência, visto que a ideia de um ser perfeito não pode provir de uma substância imperfeita (o efeito não pode ser superior à causa). Portanto, a ideia de ser perfeito só pode estar presente na consciência enquanto ideia inata, por ação direta de Deus que, consequentemente, tem de existir e, devido à sua perfeição, não deverá ser fonte de qualquer malícia, pelo que se pode, finalmente, afastar a hipótese do «génio maligno» e pôr de parte o ceticismo inicial.

A prova da existência de Deus reveste-se, portanto, de uma dupla função: como garantia da realidade do mundo sensível e da validade objetiva do conhecimento.

Do encontro da substancialidade do eu pensante deriva o dualismo ontológico de Descartes, que separa radicalmente a «res cogitans» (substância espiritual e livre) da «res extensa» (substância material, mecanicamente determinada por Deus). Esta última, caracterizada pela extensão e pelo movimento, torna-se passível de conhecimento quantitativo, i. é, de uma abordagem matemática, relegando para o domínio da pura fantasia a física de tradição aristotélica, centrada em conceitos de ordem quantitativa e num esquema explicativo baseado na causalidade final.

Personagem de interesses diversos, Descartes notabilizou-se também nas ciências, tendo sido o criador da geometria analítica. Pretendendo colocar-se em rutura com todo o pensamento anterior, esconde importantes influências, em especial as de Santo Agostinho (que segue uma via próxima na afirmação da irredutibilidade do eu pensante) e Santo Anselmo (no qual inspirou a prova para a existência de Deus).

Tendo morrido em Estocolmo em 1650, ficou para a filosofia como o grande impulsionador da autonomização do sujeito-razão.

Obras de Descartes:

Compendium musicæ (1618); Studium bonæ mentis, perdido (1620-25); Regulæ ad directionem ingenii, incompleta e publicada postumamente (1627-28); De la divinité, perdido (1628-29); Monde, não publicado (1632-33); Discours de la Méthode pour bien conduire sa raison et chercher la vérité dans les sciences. Plus la Dioptrique, les Météores et la Géométrie, qui sont des essais de cette méthode, Explication des engins par l'aide desquels on peut avec une petite force lever un fardeau fort pesant, Essais (1637); Meditationes de prima philosophia, in qua Dei existentia et animæ humanæ a corpore distinctio demonstratur (1642); Principia philosophiæ (1644); Méditations métaphysiques, Principes de philosophie, traduzidos do latim (1647); Description du corps humain (1647-48); Notæ in programma quoddam, Manuscrit de Göttingen, esta última só descoberta em 1895 (1648); Les passions de l'âme (1649); La Recherche de la vérité par la lumière naturelle
(?).


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Como referenciar
Porto Editora – René Descartes na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-14 04:51:59]. Disponível em

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