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Revoluções de 1848
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Entre 1830 e 1850 o proletariado francês cresceu substancialmente.
Em Lyon esta classe protagonizou mesmo alguns levantamentos, que foram, todavia, duramente reprimidos pelas autoridades. Depois destes levantamentos populares surgiram um pouco por toda a França sociedades secretas constituídas por operários, ligadas ao movimento republicano e ao movimento do socialismo utópico.

No período que mediou os anos 1845 e 1847 a França foi assolada por dois anos de más colheitas agrícolas, provocadas sobretudo pela praga da batata, que teve uma maior incidência neste país e na Irlanda. Em 1847 a situação agravou-se com uma crise económica, traduzida na descida do valor dos salários e no encerramento de inúmeras unidades fabris. A instabilidade, no entanto, vinha de trás. Nos últimos anos do reinado de Luís XVIII (1814-24) e por todo o reinado de Carlos X (1824-1830), sucederam-se perturbações internas graves. Este monarca decidiu confiar a chefia do governo ao príncipe de Polignac. Longe de resolver os problemas o novo estadista preocupou-se com uma bem sucedida expedição à Argélia. A publicação das Ordenanças, suprimindo a liberdade de imprensa, estabelecendo um novo processo eleitoral e anulando as últimas eleições, deu origem ao levantamento de barricadas em Paris (1830) e à generalização da luta civil que conduziria à Monarquia de julho, cujo clima perpassa pelas páginas de Os Miseráveis, de Victor Hugo. Carlos X parte para o exílio. Sucede-lhe o primo Luís Filipe I. Apoiado por banqueiros como Casimire Pérere e contando com ministros como Thiers ou Guizot, a nova monarquia vem assim conseguir impor um clima de paz e prosperidade. As revoltas populares sucediam-se a tal ponto que a própria Guarda Nacional acabou por as apoiar, aderindo à sedição.

Napoleão III foi proclamado imperador depois da Revolta de 1848
Em 1848 preparava-se uma revolta popular que colhia alguma simpatia por parte da burguesia. A burguesia industrial nomeadamente conseguiu a reforma do direito de sufrágio e a redução do censo eleitoral. Os operários reclamavam a instauração de uma República e exigiam uma reforma.
Os revoltosos combinaram diversas reuniões, entre as quais se destacou a de 22 de fevereiro de 1848, que o governo tentou impedir que se realizasse. A burguesia afastou-se dos operários; contudo, estes, juntamente com artesãos e estudantes, concentraram-se no local combinado. O apelo à rebelião foi lançado por grupos socialistas e republicanos, que tinham conseguido escapar às autoridades.

O governo tentou controlar a rebelião que aumentava de proporções, mas a 24 os insurretos controlavam os arsenais. A Luís Filipe só restava abdicar. A Monarquia de julho tinha sido destronada e nascia a Segunda República (1848-1852).
No Governo Provisório, onde Lamartine ocupava as funções de Ministro dos Assuntos Internos e os socialistas eram somente admitidos como empregados, foram chamados a intervir Albert, um operário, e Louis Blanqui, jornalista e historiador, por imposição direta do povo.

A 25 de fevereiro foi implantada a Segunda República, em resultado de uma expressiva manifestação; todavia esta não veio corresponder às aspirações dos operários que reclamavam uma reforma social. O Governo concedeu o tão desejado direito ao trabalho, uma medida que seria posta em prática pela Comissão de Luxemburgo presidida por Louis Blanqui e por Albert, mas os prometidos direitos foram negados por uma direção política burguesa pouco sensível aos problemas do operariado.
A Assembleia Constituinte abriu as sessões em maio de 1848, e o Governo Provisório cessou as suas funções e deu lugar a uma comissão executiva de cinco membros, onde de novo figurava Lamartine.

A 22 de junho de 1848 o governo tomou severas medidas para controlar e reprimir os operários, depois dos levantamentos comunistas de 15 de maio. Foi decretado o fim das Oficinas Nacionais, arrastando milhares de operários para o desemprego. Esta política drástica provocou uma forte contestação por parte dos operários fabris. Para tentar suprir o desacato ao poder a Assembleia entregou o poder a um ditador, o General Cavaignac, para que este travasse a revolta popular. A insurreição parecia bem encaminhada até ser esmagada pela ação implacável de Cavaignac.
Depois desta derrota do proletariado urbano, na Alemanha e na Itália, e noutros pontos da Europa, a oposição burguesa e os grandes latifundiários lutaram contra as massas populares.
Posteriormente, em 1852, a burguesia francesa proclamou o império chefiado por Napoleão III, que investiu no desenvolvimento do comércio e da indústria, e deu continuidade a uma guerra de conquistas, entre 1854 e 1856. Primeiro atacou a Rússia e de seguida a África e a Indochina, mantendo sempre o poder da burguesia triunfante.

Esta revolução teve significativas repercussões no resto da Europa. Na Alemanha, a burguesia tentou tomar partido da revolução de março de 1848 para unificar os estados alemães.
Ao mesmo tempo que o Parlamento se ocupava de infindáveis debates, os poderosos latifundiários e os príncipes debatiam-se com a contrarrevolução. Em novembro de 1848 a Prússia dissolveu, sem oposição, a Assembleia Nacional. Entretanto, no mês de abril desse ano Marx e Engels tinham chegado à Alemanha onde se foram fixar na zona da Renânia.
Em junho saía nesse local a "Gazeta Renana", um periódico dirigido pelo ideólogo socialista Karl Marx. Este jornal publicava textos da autoria de partidários de uma República Democrática Socialista, procurando captar adeptos entre a classe operária.

Em 1849 foi redigida uma Constituição para a Alemanha. A burguesia alemã tinha proposto que o rei da Prússia se tornasse o chefe do Império Alemão; no entanto Frederico Guilherme IV recusou o cargo, e não aceitou a Constituição de Frankfurt. Esta atitude foi repetida pelo governo da Áustria e dos outros Estados alemães.
Entretanto o povo e os revolucionários queriam ver aprovada esta Constituição, acreditando que ela poderia trazer algum progresso em termos de liberdades civis.
Em Dresden rebentou um movimentou popular, reprimido pelas tropas governamentais. Engels deixou Colónia a 10 de maio de 1849 por Elberfeld, no Reno, cidade onde se ocupara da direção das barricadas.

Esta rebelião alemã não triunfou porque o proletariado era muito débil e carecia de uma direção bem estruturada para fazer frente aos grandes senhores, e por não contar com o precioso apoio da burguesia.

De 1848 a 1849 tanto as revoluções burguesas como os movimentos populares tiveram um substancial impacte na Europa, mas um pouco por todos os cantos do Velho Continente estas insurreições não tiveram o sucesso ansiado, em grande medida porque a burguesia não se posicionou do lado dos operários e dos camponeses. Eis a sequência dos levantamentos mais importantes na Europa em 1848: 12 de janeiro, na Sicília; 21 a 24 de fevereiro, em Paris; 12 e 22 de fevereiro, em Milão e no dia seguinte na Sardenha; a 23 de março, em Varsóvia; em abril, na Inglaterra; a 15 de maio em Paris; e a 17 de junho, em Praga.

Em França, como se via, foi proclamada uma República em 1848, e os operários exigiram a mudança do rumo da política laboral; todavia as suas reivindicações foram reprimidas pela burguesia conservadora, adversa a uma profunda reforma social e laboral.
Depois de sufocada a Revolução, a França entrou num novo ciclo, com a subida ao poder do imperador Napoleão III.
Apesar destes movimentos populares terem fracassado em 1848 e 1849, estas experiências foram bastante frutíferas nas posteriores lutas populares das classes mais desfavorecidas e, pela primeira vez, deram a primazia da condução das revoltas e rebeliões ao povo, com especial destaque para os trabalhadores agrícolas e os operários urbanos. Por outro lado, consolidaram pela via revolucionária os ideais marxistas e socialistas, bem como os partidos que neles se influenciavam.

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Como referenciar
Porto Editora – Revoluções de 1848 na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-26 04:09:20]. Disponível em
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