Rússia: Revolução e Conflito (dos Czares aos Sovietes)
O período das revoluções europeias do século XX inicia-se com a revolução russa. As ações dos bolcheviques inspiraram revolucionários de todo o Mundo. Embora a Rússia tenha sido palco de acontecimentos importantes, nenhum outro teve tanto impacto como a Revolução de 1917. Foi graças a esta que o país pode transformar-se numa potência mundial industrial e militar. A eclosão e desenvolvimento da revolução, "os dez dias que abalaram o Mundo", deram-se de forma rápida mas os seus efeitos foram permanentes, como a seguir se descreve. A Rússia não foi capaz de fazer face aos problemas suscitados pela guerra e nos anos de 1915 e 1916 enfrentava uma verdadeira desarticulação económica e social, agravada pela inabilidade do czar Nicolau II. Eram notórios os desejos da Duma, que pretendia a todo o custo derrubar o czar e instalar um governo parlamentar. Os escalões mais altos da sociedade contribuíam para alimentar um clima de conspiração, no entanto, nunca conseguiram concretizar este propósito pois foram ultrapassados pela crescente revolução popular, fruto das enormes dificuldades económicas por que passavam. As derrotas militares, a miséria instalada e uma autocracia odiosa para com os menos favorecidos constituíram ingredientes mais que suficientes para que, num curto espaço de tempo, a revolução triunfasse.
As manifestações de descontentamento eclodiram em fevereiro, 1917 em Petrogrado e rapidamente tomaram dimensões políticas. Em março o czar abdicava e formou-se um governo provisório estabelecido pelas figuras mais destacadas da Duma, mas com os seus poderes limitados pela existência do Soviete dos Deputados Trabalhadores e Soldados de Petrogrado, que constituía, de facto, um governo alternativo. Assim, o governo provisório não conseguiu sobreviver muito tempo devido às dificuldades internas com reivindicações decorrentes da dupla oposição entre os comités das fábricas (apoiados pelos bolcheviques e anarquistas) e os elementos da burguesia industrial que não cediam a qualquer tentativa de reforma proposta pelo governo socialista e pelos sovietes. Os problemas externos residiam na sustentação da guerra imposta pelos compromissos internacionais. Ainda que no início da experiência governativa se tentassem compatibilizar as diversas opiniões, as crises sucederam-se e desenhava-se uma forte oposição entre as fações de direita e os bolcheviques. Os sintomas de mal-estar agudizaram-se em abril, quando Lenine regressou a Petrogrado. Recusando colaborar com o governo provisório, transferiu todo o poder para os sovietes e comités de operários e soldados. Foi o ponto de viragem essencial que possibilitou a eclosão da revolução. De certas áreas da vida russa surgiam cada vez mais apoiantes de Lenine: os desertores militares, os camponeses descontentes que começaram a apoderar-se das terras e os operários à espera de melhores condições de trabalho nas indústrias. Os bolcheviques ganhavam terreno: em setembro apoderaram-se dos Sovietes de Petrogrado e de Moscovo e em outubro ganharam a maioria no 2.º Congresso dos Sovietes. Sob orientação de Trotski, os bolcheviques tomaram o poder a 7 de novembro (25 de outubro segundo o velho calendário russo) e criaram o Conselho de Comissários do Povo, que tinha à frente Lenine. Procedeu-se à confiscação das grandes propriedades e criou-se o Exército Vermelho através da incorporação de voluntários. Em março de 1918 a Rússia assina a paz de Brest-Litovsk com os impérios centrais. O fantasma da revolução fora afastado da Europa ocidental e esmagado na Europa Central e o conflito remeteu-se ao seu centro – a Rússia. Os contrarrevolucionários auxiliados pelos aliados lançam ataques antibolcheviques no mar Negro, no Norte e em Murmansk. O governo bolchevique faz um esforço enorme para resistir e cria 16 exércitos. Para derrubar a contrarrevolução, o Partido Comunista passou a exercer um poder ditatorial que substituía o poder por Sovietes – todos os objetivos subordinavam-se ao interesse da Revolução. Após três anos de guerra civil, os bolcheviques alcançaram a vitória no Volga em 1919 e em 1920 os exércitos brancos são esmagados e expulsos. Assinaram-se tratados com os países vizinhos e reconheceu-se a independência das províncias bálticas, da Polónia (Tratado de Riga em 1921) e do protetorado da Finlândia. Apesar da vitória sobre os contrarrevolucionários, a economia da União Soviética encontrava-se muito debilitada, a fome era uma dura realidade e muitas pessoas perderam a vida. Ocorriam divisões e rivalidades na esfera política e sindical – os militantes são chamados a escolher entre a social-democracia e o comunismo (fiel à inspiração inicial do marxismo). O alcance revolucionário não se reduzia apenas a uma contestação ao regime político pondo em causa também a ordem social. Terminada a Primeira Grande Guerra o ideal revolucionário espalhou-se rapidamente pela Europa. Em março de 1919 Lenine criava a 3.ª Internacional, a Internacional Comunista - o Komintern – com o objetivo de dirigir a revolução mundial. Em 1920 tem lugar o 2.º Congresso do Komintern. Constituiu-se uma internacional sindical revolucionária. As esperançadas massas operárias de toda a Europa tinham os olhos postos no que se passava na Rússia. No entanto, depois de perdida a guerra com os bolcheviques, os aliados convenceram-se que não tinham capacidade para esmagar a revolução no seu fulcro. A estratégia seguida foi a de isolar a União Soviética e não deixar que os efeitos perniciosos da revolução contaminassem a Europa. Por outro lado, os soviéticos também abandonaram a ideia de querer implementar o espírito revolucionário imediato e total através da força, confinando-se à experiência de "construção do socialismo num só país", tese seguida por Estaline. Em fevereiro de 1921 ocorrem novas manifestações operárias em Petrogrado e os marinheiros revoltam-se, mas ambas as sublevações são reprimidas. Decide-se então imprimir um rumo diferente à economia e em março de 1921 Lenine criava no Congresso do Partido Bolchevique a Nova Política Económica (NPE), que incentivava a economia de mercado e tolerava a propriedade privada: as empresas deixaram de ser controladas pelo Estado, os camponeses podiam vender livremente os excedentes e o comércio voltou a ser controlado por particulares. Em 1925 a produção industrial tinha voltado a atingir bons níveis de produção. Durante este mesmo ano a Rússia firma um acordo comercial com a Grã-Bretanha, dando seguimento a um relançamento de relações comerciais internacionais com alguns países. Apesar da aparente estabilidade económica nos anos que se seguiram à Revolução, a Rússia encontrava-se isolada, as relações com as outras potências não eram as mais cordiais e os ideais de melhoria de condições de vida das classes oprimidas nem sempre foram postos em prática, pondo em causa a eficácia da instituição socialista. A morte de Lenine em 1924 deixaria incompleto o trabalho iniciado e que iria prosseguir com Estaline, mas segundo novos pontos de vista.
As manifestações de descontentamento eclodiram em fevereiro, 1917 em Petrogrado e rapidamente tomaram dimensões políticas. Em março o czar abdicava e formou-se um governo provisório estabelecido pelas figuras mais destacadas da Duma, mas com os seus poderes limitados pela existência do Soviete dos Deputados Trabalhadores e Soldados de Petrogrado, que constituía, de facto, um governo alternativo. Assim, o governo provisório não conseguiu sobreviver muito tempo devido às dificuldades internas com reivindicações decorrentes da dupla oposição entre os comités das fábricas (apoiados pelos bolcheviques e anarquistas) e os elementos da burguesia industrial que não cediam a qualquer tentativa de reforma proposta pelo governo socialista e pelos sovietes. Os problemas externos residiam na sustentação da guerra imposta pelos compromissos internacionais. Ainda que no início da experiência governativa se tentassem compatibilizar as diversas opiniões, as crises sucederam-se e desenhava-se uma forte oposição entre as fações de direita e os bolcheviques. Os sintomas de mal-estar agudizaram-se em abril, quando Lenine regressou a Petrogrado. Recusando colaborar com o governo provisório, transferiu todo o poder para os sovietes e comités de operários e soldados. Foi o ponto de viragem essencial que possibilitou a eclosão da revolução. De certas áreas da vida russa surgiam cada vez mais apoiantes de Lenine: os desertores militares, os camponeses descontentes que começaram a apoderar-se das terras e os operários à espera de melhores condições de trabalho nas indústrias. Os bolcheviques ganhavam terreno: em setembro apoderaram-se dos Sovietes de Petrogrado e de Moscovo e em outubro ganharam a maioria no 2.º Congresso dos Sovietes. Sob orientação de Trotski, os bolcheviques tomaram o poder a 7 de novembro (25 de outubro segundo o velho calendário russo) e criaram o Conselho de Comissários do Povo, que tinha à frente Lenine. Procedeu-se à confiscação das grandes propriedades e criou-se o Exército Vermelho através da incorporação de voluntários. Em março de 1918 a Rússia assina a paz de Brest-Litovsk com os impérios centrais. O fantasma da revolução fora afastado da Europa ocidental e esmagado na Europa Central e o conflito remeteu-se ao seu centro – a Rússia. Os contrarrevolucionários auxiliados pelos aliados lançam ataques antibolcheviques no mar Negro, no Norte e em Murmansk. O governo bolchevique faz um esforço enorme para resistir e cria 16 exércitos. Para derrubar a contrarrevolução, o Partido Comunista passou a exercer um poder ditatorial que substituía o poder por Sovietes – todos os objetivos subordinavam-se ao interesse da Revolução. Após três anos de guerra civil, os bolcheviques alcançaram a vitória no Volga em 1919 e em 1920 os exércitos brancos são esmagados e expulsos. Assinaram-se tratados com os países vizinhos e reconheceu-se a independência das províncias bálticas, da Polónia (Tratado de Riga em 1921) e do protetorado da Finlândia. Apesar da vitória sobre os contrarrevolucionários, a economia da União Soviética encontrava-se muito debilitada, a fome era uma dura realidade e muitas pessoas perderam a vida. Ocorriam divisões e rivalidades na esfera política e sindical – os militantes são chamados a escolher entre a social-democracia e o comunismo (fiel à inspiração inicial do marxismo). O alcance revolucionário não se reduzia apenas a uma contestação ao regime político pondo em causa também a ordem social. Terminada a Primeira Grande Guerra o ideal revolucionário espalhou-se rapidamente pela Europa. Em março de 1919 Lenine criava a 3.ª Internacional, a Internacional Comunista - o Komintern – com o objetivo de dirigir a revolução mundial. Em 1920 tem lugar o 2.º Congresso do Komintern. Constituiu-se uma internacional sindical revolucionária. As esperançadas massas operárias de toda a Europa tinham os olhos postos no que se passava na Rússia. No entanto, depois de perdida a guerra com os bolcheviques, os aliados convenceram-se que não tinham capacidade para esmagar a revolução no seu fulcro. A estratégia seguida foi a de isolar a União Soviética e não deixar que os efeitos perniciosos da revolução contaminassem a Europa. Por outro lado, os soviéticos também abandonaram a ideia de querer implementar o espírito revolucionário imediato e total através da força, confinando-se à experiência de "construção do socialismo num só país", tese seguida por Estaline. Em fevereiro de 1921 ocorrem novas manifestações operárias em Petrogrado e os marinheiros revoltam-se, mas ambas as sublevações são reprimidas. Decide-se então imprimir um rumo diferente à economia e em março de 1921 Lenine criava no Congresso do Partido Bolchevique a Nova Política Económica (NPE), que incentivava a economia de mercado e tolerava a propriedade privada: as empresas deixaram de ser controladas pelo Estado, os camponeses podiam vender livremente os excedentes e o comércio voltou a ser controlado por particulares. Em 1925 a produção industrial tinha voltado a atingir bons níveis de produção. Durante este mesmo ano a Rússia firma um acordo comercial com a Grã-Bretanha, dando seguimento a um relançamento de relações comerciais internacionais com alguns países. Apesar da aparente estabilidade económica nos anos que se seguiram à Revolução, a Rússia encontrava-se isolada, as relações com as outras potências não eram as mais cordiais e os ideais de melhoria de condições de vida das classes oprimidas nem sempre foram postos em prática, pondo em causa a eficácia da instituição socialista. A morte de Lenine em 1924 deixaria incompleto o trabalho iniciado e que iria prosseguir com Estaline, mas segundo novos pontos de vista.
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Como referenciar
Rússia: Revolução e Conflito (dos Czares aos Sovietes) na Infopédia [em linha]. Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/artigos/$russia-revolucao-e-conflito-(dos-czares-aos [visualizado em 2025-06-23 09:50:11].
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