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Sé Velha de Coimbra
A velha Catedral conimbricense, ponto fulcral para o desenvolvimento urbanístico da parte alta da cidade, é um espaço de confluência de várias ruas da velha Coimbra - na sua essência, um precioso documento da arte românica e renascentista em Portugal.
Foi edificada no século XII, durante o reinado de D. Afonso Henriques, e sofreu, ao longo dos tempos, várias e vultuosas intervenções. A mais importante ocorreu durante o bispado de D. Jorge de Almeida (1483-1543). Foi com o bispo D. Miguel Salomão, em 1162, que se iniciaram as obras da Sé, a cargo do mestre-arquiteto francês Roberto. Como este se encontrava em Lisboa, foi o mestre Bernardo que, no local, orientou as obras, sendo substituído após a sua morte, ocorrida em 1172, por mestre Soeiro.
Exteriormente, a Sé Velha revela um aspeto robusto, acentuado pelo coroamento em ameias, que lhe confere uma silhueta de fortaleza militar.
Na fachada principal rasga-se uma notável porta românica, composta por arquivoltas sustentadas em colunas, adornadas com motivos de inspiração árabe e por janelão superior, onde se repete o mesmo esquema arquitetónico.
Na fachada do lado norte, encontramos duas portas da autoria de João de Ruão. A conhecida Porta Especiosa, umas das suas principais obras, foi executada em 1530. Apesar do seu avançado estado de degradação, ainda é possível perceber a qualidade do traçado arquitetónico e a sua completa integração na Sé românica. O medalhão da Virgem com o Menino, visível na porta monumental, é testemunho da qualidade desta obra emblemática da Renascença coimbrã. Ao entrar no templo sente-se um ambiente quase irreal, carregado de silêncio que convida ao recolhimento e à meditação, proveniente da grande beleza das formas que o compõem. Ao fundo da nave central salienta-se o flamejante retábulo gótico da capela-mor, lembrando um trabalho de ourivesaria, encomendado pelo bispo D. Jorge de Almeida aos flamengos Olivier de Gand e Jean d'Ypres, que o executaram a partir de 1498. O grandioso retábulo em talha dourada tem como tema principal a Glorificação da Virgem em Assunção. Aparecem também retratados os santos Pedro, Paulo, Cosme e Damião, tendo a predela ainda a representação dos evangelistas. Na parte superior do retábulo mostra-se o Calvário Redentor e Cristo Ressuscitado. O brasão do encomendante aparece justaposto por três vezes. A Capela do Sacramento - colateral do lado norte - possui um excecional retábulo de João de Ruão, mandado construir pelo bispo D. João Soares, um dos participantes portugueses no Concílio de Trento. Concretizou-se este projeto à custa da demolição da parte posterior do absidíolo direito, da época românica do século XII, conservando-se o primeiro tramo de planta retangular, e constituindo-se um círculo perfeitamente definido pela cúpula que possui três séries de oito caixotões decorados com cartelas. Coroa o alto um elegante lanternim, fonte de iluminação deste espaço sagrado, onde se pode ler a data de 1566, ano em que foi terminado.
Revestindo as paredes interiores da Capela vê-se o retábulo, grande composição arquitetónica de dois andares com nichos. O inferior apresenta, a separá-los, pilastras decoradas com elementos maneiristas que incluem molhadas de frutos e mascarões e cartelas de Antuérpia. Tanto o pronunciado envasamento como os diversos entablamentos do retábulo encontram-se profusamente decorados de cartelas, querubins e outros motivos à nova maniera. O andar superior possui uma estrutura semelhante, mas com algumas variantes. A divisão dos nichos é realizada a partir de colunas da ordem coríntia, com exceção do nicho central, que apresenta colunas-balaústres e arco de volta perfeita, encimado por frontão triangular. Todo o retábulo possui um dinâmico jogo rítmico.
Magnífica também é a parte escultórica, onde se nota a evocação da gravitas romana, figuras alongadas e austeras.
O andar superior apresenta, no centro do Sagrado Concílio, a figura de Cristo, sereno e majestoso, abençoando a assembleia ali reunida, tendo a outra mão ocupada com o globo do Universo. Convergem para Cristo os olhares inquiridores e expectantes dos dez Apóstolos. Cada um possui o seu atributo individualizado, mas todos transportam o Novo Testamento. A parte inferior é centralizada pelo Sacrário da Capela, ladeado por anjos músicos em movimento. Em redor estão dispostas diversas figuras: à esquerda encontra-se provavelmente S. Tiago Menor, assim como Nossa Senhora com o Menino; no lado direito, os quatro Evangelistas.
O retábulo da Capela do lado norte é dedicado a S. Pedro, tendo como tema central a Cena do Quo Vadis, obra atribuída a Nicolau Chanterene. No chão jaz, em campa rasa, o mecenas D. Jorge de Almeida. Ainda merecedores de atenção no interior da Sé Velha é a excelente pia batismal, vinda da Igreja de S. João de Almedina, os túmulos medievais de alguns bispos e de D. Vataça, princesa bizantina e aia da Rainha Santa, bem assim como as pinturas proto-barrocas das naves laterais.
As obras do Claustro foram principiadas em 1218 sob o patrocínio de D. Afonso II. É composto por cinco arcos de ogiva em cada lanço, que incorporam dois outros arcos de volta perfeita, encerrando nos tímpanos simples e variadas rosáceas. Também as várias capelas possuem outros motivos de interesse.
A Sé Velha foi catedral da diocese de Coimbra até 21 de outubro de 1772, dia em que a função foi transferida para a igreja do extinto Colégio da Companhia de Jesus, a denominada Sé Nova.
Foi edificada no século XII, durante o reinado de D. Afonso Henriques, e sofreu, ao longo dos tempos, várias e vultuosas intervenções. A mais importante ocorreu durante o bispado de D. Jorge de Almeida (1483-1543). Foi com o bispo D. Miguel Salomão, em 1162, que se iniciaram as obras da Sé, a cargo do mestre-arquiteto francês Roberto. Como este se encontrava em Lisboa, foi o mestre Bernardo que, no local, orientou as obras, sendo substituído após a sua morte, ocorrida em 1172, por mestre Soeiro.
Exteriormente, a Sé Velha revela um aspeto robusto, acentuado pelo coroamento em ameias, que lhe confere uma silhueta de fortaleza militar.
Na fachada principal rasga-se uma notável porta românica, composta por arquivoltas sustentadas em colunas, adornadas com motivos de inspiração árabe e por janelão superior, onde se repete o mesmo esquema arquitetónico.
Revestindo as paredes interiores da Capela vê-se o retábulo, grande composição arquitetónica de dois andares com nichos. O inferior apresenta, a separá-los, pilastras decoradas com elementos maneiristas que incluem molhadas de frutos e mascarões e cartelas de Antuérpia. Tanto o pronunciado envasamento como os diversos entablamentos do retábulo encontram-se profusamente decorados de cartelas, querubins e outros motivos à nova maniera. O andar superior possui uma estrutura semelhante, mas com algumas variantes. A divisão dos nichos é realizada a partir de colunas da ordem coríntia, com exceção do nicho central, que apresenta colunas-balaústres e arco de volta perfeita, encimado por frontão triangular. Todo o retábulo possui um dinâmico jogo rítmico.
Magnífica também é a parte escultórica, onde se nota a evocação da gravitas romana, figuras alongadas e austeras.
O andar superior apresenta, no centro do Sagrado Concílio, a figura de Cristo, sereno e majestoso, abençoando a assembleia ali reunida, tendo a outra mão ocupada com o globo do Universo. Convergem para Cristo os olhares inquiridores e expectantes dos dez Apóstolos. Cada um possui o seu atributo individualizado, mas todos transportam o Novo Testamento. A parte inferior é centralizada pelo Sacrário da Capela, ladeado por anjos músicos em movimento. Em redor estão dispostas diversas figuras: à esquerda encontra-se provavelmente S. Tiago Menor, assim como Nossa Senhora com o Menino; no lado direito, os quatro Evangelistas.
O retábulo da Capela do lado norte é dedicado a S. Pedro, tendo como tema central a Cena do Quo Vadis, obra atribuída a Nicolau Chanterene. No chão jaz, em campa rasa, o mecenas D. Jorge de Almeida. Ainda merecedores de atenção no interior da Sé Velha é a excelente pia batismal, vinda da Igreja de S. João de Almedina, os túmulos medievais de alguns bispos e de D. Vataça, princesa bizantina e aia da Rainha Santa, bem assim como as pinturas proto-barrocas das naves laterais.
As obras do Claustro foram principiadas em 1218 sob o patrocínio de D. Afonso II. É composto por cinco arcos de ogiva em cada lanço, que incorporam dois outros arcos de volta perfeita, encerrando nos tímpanos simples e variadas rosáceas. Também as várias capelas possuem outros motivos de interesse.
A Sé Velha foi catedral da diocese de Coimbra até 21 de outubro de 1772, dia em que a função foi transferida para a igreja do extinto Colégio da Companhia de Jesus, a denominada Sé Nova.
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Como referenciar
Porto Editora – Sé Velha de Coimbra na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-17 10:37:10]. Disponível em
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