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soneto
Afirma-se que os primeiros sonetos de língua portuguesa foram escritos pelo condestável D. Pedro. No entanto, foi, sem dúvida, Sá de Miranda (1481/85-1558/59) quem, regressado de Itália, divulgou e cultivou o género em Portugal. Apesar de género cultivado e em início de expansão em Portugal, será apenas com Camões (1525?-1580) que este género literário alcançará verdadeiro triunfo: a sua irresistível vocação lírica, o refinado gosto demonstrado pela análise dos casos amorosos e seus requintes, a sua paixão vigorosa demonstrada em texto, em verso, unidos a uma incontornável facilidade e qualidade inata para a construção de poemas sob a forma de soneto e à musicalidade espontânea empregue no tom, o soneto camoniano constitui hoje a parte mais conhecida da sua lírica, figurando entre os melhores de toda a literatura em língua portuguesa.
Formalmente, o soneto português quinhentista segue as regras do modelo italiano de duas quadras e dois tercetos: consta de 14 decassílabos ordenados em quatro estâncias, sendo elas duas quadras, trabalhadas no esquema rítmico ABBA-ABBA, precedendo dois tercetos que, na sua forma mais perfeita, também estão sujeitos ao esquema rítmico CDC-DCD, embora sejam igualmente muito comuns os tercetos com as três rimas que seguem o esquema CDE-CDE.
O desenvolvimento da ideia (do tema) está sempre subordinado à obrigatoriedade da rima das estrofes e termina numa nítida pausa final de cada estância. Por norma, toda a composição do soneto termina em beleza por um verso que encerra um pensamento elevado numa cadência.
A teoria da composição do soneto foi-se tornando mais difícil até aos chamados dissidentes da Arcádia Lusitana - fundada por Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), Manuel Esteves Negrão e Teotónio Gomes de Carvalho, em 1757 - culminando com a enunciação da famosa regra que manda o soneto abrir com chave de prata e fechar com chave de ouro.
Teoricamente, o assunto do soneto havia de propor-se na primeira quadra, ou, quando os poetas fossem mais hábeis, nos dois primeiros versos, sendo que, o ideal, a perfeição a alcançar seria que toda a preposição pudesse estar contida na primeira palavra do poema; todo o resto, nas quadras, devia ser para desenvolver essa preposição. O pensamento contido no fecho seria, então, "nobre e natural", rematando gloriosamente o pensamento.
Assegura-se, ao longo da história da literatura, que o soneto é o melhor género de poesia vulgar que reflete pensamentos de forma eficaz, exatamente porque a primeira quadra corresponde à premissa maior, a segunda à premissa menor, enquanto nos tercetos se deverá, então, encontrar a conclusão.
Ao longo da história foram vários os cultores do soneto, bem como vários foram os "tipos" de soneto cultivados. Assim, na época da Arcádia Lusitana (1757) era cultivado o soneto chamado, exatamente, arcádico, correto quanto à estrutura, mas frio no conteúdo e poeticamente pobre; no século XVIII são típicos os sonetos filosóficos ou libertinos, cultivados ainda pelo árcades (membros da Arcádia), pelos dissidentes dessa mesma Arcádia e, sobretudo, por Bocage (1765-1805) - com quem, dizia Almeida Garrett (1799-1854), o soneto nasceu e morreu. Bocage cultivou inúmeros destes poemas, sendo de ressaltar os seus poemas amorosos - de forte sensualidade e de assaz libertinagem -, os poemas satíricos - que levam ao riso pelo atrevimento demonstrado - e os poemas filosóficos - com rasgos políticos, apelando à liberdade contra o despotismo.
O estilo de Bocage dominou o soneto até ao triunfo do Romantismo, contribuindo, entre muitas outras coisas, para tornar o género mais fácil e deleitar o ouvido dos leitores.
Desde o Renascimento até à afirmação do Romantismo, o soneto dobra-se, em Portugal, a todas as estéticas, moldando-se a temas, tons e linhas de pensamento.
O gosto romântico, que dava especial preferência a estilos e formas de escrever mais cómodas - como a novela e o romance - provoca, por assim dizer, um sério eclipse do prestígio dado ao soneto.
Foram, então, os Parnasianos - cultores do Parnasianismo, nascido na década de 1870 - amantes da beleza clássica, que conseguiram reabilitar e modernizar o soneto: mantêm-se os 14 versos, alterando-se-lhes a disposição das estrofes, embora, no final, apareça, igualmente, com a forma de duas quadras e dois tercetos.
O cultivo do soneto, depois da reabilitação feita pelo Parnasianismo, manteve-se como género de eleição para muitos autores, e ultrapassou as fronteiras, indo encontrar adeptos no Brasil - como Vinicius de Moraes e Ledo Ivo - que revalorizam o Soneto, fazendo dele um caso único de sobrevivência dum molde literário à evolução e às revoluções do gosto.
Formalmente, o soneto português quinhentista segue as regras do modelo italiano de duas quadras e dois tercetos: consta de 14 decassílabos ordenados em quatro estâncias, sendo elas duas quadras, trabalhadas no esquema rítmico ABBA-ABBA, precedendo dois tercetos que, na sua forma mais perfeita, também estão sujeitos ao esquema rítmico CDC-DCD, embora sejam igualmente muito comuns os tercetos com as três rimas que seguem o esquema CDE-CDE.
O desenvolvimento da ideia (do tema) está sempre subordinado à obrigatoriedade da rima das estrofes e termina numa nítida pausa final de cada estância. Por norma, toda a composição do soneto termina em beleza por um verso que encerra um pensamento elevado numa cadência.
A teoria da composição do soneto foi-se tornando mais difícil até aos chamados dissidentes da Arcádia Lusitana - fundada por Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), Manuel Esteves Negrão e Teotónio Gomes de Carvalho, em 1757 - culminando com a enunciação da famosa regra que manda o soneto abrir com chave de prata e fechar com chave de ouro.
Teoricamente, o assunto do soneto havia de propor-se na primeira quadra, ou, quando os poetas fossem mais hábeis, nos dois primeiros versos, sendo que, o ideal, a perfeição a alcançar seria que toda a preposição pudesse estar contida na primeira palavra do poema; todo o resto, nas quadras, devia ser para desenvolver essa preposição. O pensamento contido no fecho seria, então, "nobre e natural", rematando gloriosamente o pensamento.
Assegura-se, ao longo da história da literatura, que o soneto é o melhor género de poesia vulgar que reflete pensamentos de forma eficaz, exatamente porque a primeira quadra corresponde à premissa maior, a segunda à premissa menor, enquanto nos tercetos se deverá, então, encontrar a conclusão.
Ao longo da história foram vários os cultores do soneto, bem como vários foram os "tipos" de soneto cultivados. Assim, na época da Arcádia Lusitana (1757) era cultivado o soneto chamado, exatamente, arcádico, correto quanto à estrutura, mas frio no conteúdo e poeticamente pobre; no século XVIII são típicos os sonetos filosóficos ou libertinos, cultivados ainda pelo árcades (membros da Arcádia), pelos dissidentes dessa mesma Arcádia e, sobretudo, por Bocage (1765-1805) - com quem, dizia Almeida Garrett (1799-1854), o soneto nasceu e morreu. Bocage cultivou inúmeros destes poemas, sendo de ressaltar os seus poemas amorosos - de forte sensualidade e de assaz libertinagem -, os poemas satíricos - que levam ao riso pelo atrevimento demonstrado - e os poemas filosóficos - com rasgos políticos, apelando à liberdade contra o despotismo.
O estilo de Bocage dominou o soneto até ao triunfo do Romantismo, contribuindo, entre muitas outras coisas, para tornar o género mais fácil e deleitar o ouvido dos leitores.
Desde o Renascimento até à afirmação do Romantismo, o soneto dobra-se, em Portugal, a todas as estéticas, moldando-se a temas, tons e linhas de pensamento.
O gosto romântico, que dava especial preferência a estilos e formas de escrever mais cómodas - como a novela e o romance - provoca, por assim dizer, um sério eclipse do prestígio dado ao soneto.
Foram, então, os Parnasianos - cultores do Parnasianismo, nascido na década de 1870 - amantes da beleza clássica, que conseguiram reabilitar e modernizar o soneto: mantêm-se os 14 versos, alterando-se-lhes a disposição das estrofes, embora, no final, apareça, igualmente, com a forma de duas quadras e dois tercetos.
O cultivo do soneto, depois da reabilitação feita pelo Parnasianismo, manteve-se como género de eleição para muitos autores, e ultrapassou as fronteiras, indo encontrar adeptos no Brasil - como Vinicius de Moraes e Ledo Ivo - que revalorizam o Soneto, fazendo dele um caso único de sobrevivência dum molde literário à evolução e às revoluções do gosto.
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Como referenciar
Porto Editora – soneto na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-14 05:34:30]. Disponível em
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