tapetes de Arraiolos
Tapetes de Arraiolos é a designação que se dá aos bordados a lã de diversas cores sobre tela de linho, estopa, grossaria ou canhamaço. O ponto cruzado oblíquo foi adotado pela decoração arraiolense - a sua execução obedece ao processo de fios contados atapetando inteiramente o fundo do campo e da barra. O ponto cruzado aparece na Península desde o século XII, sendo manifesta a utilização duma técnica com características muçulmanas (Espanha recorre à seda, Portugal à lã).
Embora sendo um ponto já praticado por povos eslavos, a sua divulgação em território ibérico deve-se aos Mouros. A laboração mourisca está documentada em Lisboa desde inícios do século XV e, embora se desconheça o género de tapetes bordados, tudo leva a crer que fossem alcatifas de felpa do tipo hispano-mourisco. Apesar da técnica do bordado de Arraiolos ser conhecida na Península desde o século XII, não podemos atribuir com segurança a sua origem aos tapetes portugueses dos século XV e XVI.
Arraiolos terá sido um dos locais onde se estabeleceram algumas das famílias mouriscas expulsas por D. Manuel I em 1496. Localizaram-se na região do Alentejo, onde deitara raízes a influência do Islão, e, sob a aparência da recente conversão, apoiaram-se nos mesteres que tradicionalmente exerciam. Iniciaram uma manufatura que usava uma técnica posteriormente denominada de ponto de Arraiolos, cuja referência mais antiga data de 1699. No decorrer da primeira metade do século XVIII, Arraiolos já fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro deste tipo de bordado. Os tapetes eram habitualmente utilizados no arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes, mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).
Para que tal prática se desenvolvesse, apoiada num sólido saber tintureiro, foram necessários anos de tradição, o que nos faz pensar que ainda antes da segunda metade do século XVII se encontrava bem desenvolvida a manufatura de Arraiolos. Na primeira metade de Seiscentos, os mercadores que transacionavam alcatifas espanholas e orientais recorreram à experiência alentejana, com a ideia de que seria possível fazer exemplares com decorações persas, muito apreciadas entre nós. Rapidamente a origem mourisca dos tapetes deu lugar à influência oriental, no que de mais original e sugestivo a caracterizava, criando um gosto que se espalha aos conventos e casas nobres. Imitaram-se sobretudo os modelos da Pérsia Oriental e das regiões do Noroeste, embora com a técnica simples do bordado a lã e da policromia limitada de algumas cores vegetais.
A influência que primeiro se fez sentir foi a da composição e organização do tapete - determinam-se as dimensões totais e traçam-se duas linhas perpendiculares que dividem a superfície em quatro partes iguais: o eixo longitudinal e o transversal, em torno dos quais se dispõem simetricamente os ornatos. O suporte é dividido em dois polos - campo e barra. É incluído um ornato central na interseção dos dois eixos, dividindo o tapete em três partes - centro, campo e barra. A decoração da barra faz-se sempre com motivos distintos dos do campo, e o centro afirma-se também como zona independente das restantes. O fundo cromático do campo e da barra é distinto, diferindo o do ornato central do escolhido para o campo.
O ornato central obedece a proporções exatas e, no campo, domina a preocupação da simetria. A barra emoldura a composição através de um motivo continuado e, por vezes, é acompanhada de uma ou mais bandas estreitas. A nível decorativo, a influência persa é patente na simbologia da cor (exemplares antigos) e do ornato (flores, folhas lanceoladas, palmetas, lótus, palmeira caucasiana, cipreste, arabescos, motivo Herati e motivo de nuvem). A influência turca na decoração, extremamente estilizada à semelhança da persa, elege motivos como os cravos, túlipas, jacintos e temas geométricos - círculo, estrela de oito pontas, octógono, cruz, triângulo e espinha de peixe.
A decoração vegetal e geométrica foi também combinada com motivos animalistas de inspiração oriental (tigre, veado, papagaio, pavão, gazela, serpente, etc.) e motivos populares (chave, bonecos, corações, galinhas, etc.), criando um tipo de padronagem singular, original e envolvente. A influência das colchas indo-portuguesas também se faz sentir, sobretudo na adoção do motivo da águia bicéfala e do tema dos Cinco Sentidos.
A nível cromático, os tapetes antigos utilizam muito o roxo e o vermelho, o rosa, a cor de carne, o amarelo torrado e a cor de pulga (castanho), obtidos a partir do pau-brasil. O azul vinhado anil foi, juntamente com o amarelo, um dos tons dominantes do século XVIII. O verde era obtido através da lã tingida com azul, mergulhando-a em amarelo.
Lentamente, a partir da primeira metade do século XVIII, a decoração oriental como um todo deixa de fazer parte das composições, embora subsistam motivos isolados a par com outros de origem nacional e europeia. No primeiro terço do século XIX, a influência persa deixou de existir a nível decorativo, mantendo-se no entanto a nível do esquema de composição do tapete.
Inicialmente, os tapetes foram classificados por épocas: segunda metade do século XVII - trabalho conventual com rica policromia e transposição de motivos persas; transição para a segunda época, com os primeiros trabalhos da indústria de Arraiolos; século XVIII (dois terços iniciais) - motivos orientais isolados a par com motivos populares; último terço do século XVIII e primeira metade do século XIX - a inspiração vegetalista e floral invade o campo e praticamente suprime a barra e o ornato central.
Posteriormente recorre-se à classificação por padrões: padrão geométrico, de influência hispano-mourisca; padrão floral, com ornatos vegetalistas mais ou menos estilizados; padrão de rosetas, com cor opulenta, grandes rosetas e personagens historiadas; padrão oriental, de bichos combinados com elementos florais; finalmente, padrão de ramagens, com o campo inteiramente preenchido por motivo floral.
Esta última classificação é, apesar de tudo, insuficiente, pois existem tapetes com grande número de sincretismos decorativos. Atualmente optou-se por valorizar individualmente cada exemplar, observando a sua decoração na globalidade, identificando o material, a técnica, a policromia e a densidade do bordado, de modo a tentar fazer uma correta avaliação do exemplar.
Embora sendo um ponto já praticado por povos eslavos, a sua divulgação em território ibérico deve-se aos Mouros. A laboração mourisca está documentada em Lisboa desde inícios do século XV e, embora se desconheça o género de tapetes bordados, tudo leva a crer que fossem alcatifas de felpa do tipo hispano-mourisco. Apesar da técnica do bordado de Arraiolos ser conhecida na Península desde o século XII, não podemos atribuir com segurança a sua origem aos tapetes portugueses dos século XV e XVI.
Arraiolos terá sido um dos locais onde se estabeleceram algumas das famílias mouriscas expulsas por D. Manuel I em 1496. Localizaram-se na região do Alentejo, onde deitara raízes a influência do Islão, e, sob a aparência da recente conversão, apoiaram-se nos mesteres que tradicionalmente exerciam. Iniciaram uma manufatura que usava uma técnica posteriormente denominada de ponto de Arraiolos, cuja referência mais antiga data de 1699. No decorrer da primeira metade do século XVIII, Arraiolos já fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro deste tipo de bordado. Os tapetes eram habitualmente utilizados no arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes, mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).
A influência que primeiro se fez sentir foi a da composição e organização do tapete - determinam-se as dimensões totais e traçam-se duas linhas perpendiculares que dividem a superfície em quatro partes iguais: o eixo longitudinal e o transversal, em torno dos quais se dispõem simetricamente os ornatos. O suporte é dividido em dois polos - campo e barra. É incluído um ornato central na interseção dos dois eixos, dividindo o tapete em três partes - centro, campo e barra. A decoração da barra faz-se sempre com motivos distintos dos do campo, e o centro afirma-se também como zona independente das restantes. O fundo cromático do campo e da barra é distinto, diferindo o do ornato central do escolhido para o campo.
O ornato central obedece a proporções exatas e, no campo, domina a preocupação da simetria. A barra emoldura a composição através de um motivo continuado e, por vezes, é acompanhada de uma ou mais bandas estreitas. A nível decorativo, a influência persa é patente na simbologia da cor (exemplares antigos) e do ornato (flores, folhas lanceoladas, palmetas, lótus, palmeira caucasiana, cipreste, arabescos, motivo Herati e motivo de nuvem). A influência turca na decoração, extremamente estilizada à semelhança da persa, elege motivos como os cravos, túlipas, jacintos e temas geométricos - círculo, estrela de oito pontas, octógono, cruz, triângulo e espinha de peixe.
A decoração vegetal e geométrica foi também combinada com motivos animalistas de inspiração oriental (tigre, veado, papagaio, pavão, gazela, serpente, etc.) e motivos populares (chave, bonecos, corações, galinhas, etc.), criando um tipo de padronagem singular, original e envolvente. A influência das colchas indo-portuguesas também se faz sentir, sobretudo na adoção do motivo da águia bicéfala e do tema dos Cinco Sentidos.
A nível cromático, os tapetes antigos utilizam muito o roxo e o vermelho, o rosa, a cor de carne, o amarelo torrado e a cor de pulga (castanho), obtidos a partir do pau-brasil. O azul vinhado anil foi, juntamente com o amarelo, um dos tons dominantes do século XVIII. O verde era obtido através da lã tingida com azul, mergulhando-a em amarelo.
Lentamente, a partir da primeira metade do século XVIII, a decoração oriental como um todo deixa de fazer parte das composições, embora subsistam motivos isolados a par com outros de origem nacional e europeia. No primeiro terço do século XIX, a influência persa deixou de existir a nível decorativo, mantendo-se no entanto a nível do esquema de composição do tapete.
Inicialmente, os tapetes foram classificados por épocas: segunda metade do século XVII - trabalho conventual com rica policromia e transposição de motivos persas; transição para a segunda época, com os primeiros trabalhos da indústria de Arraiolos; século XVIII (dois terços iniciais) - motivos orientais isolados a par com motivos populares; último terço do século XVIII e primeira metade do século XIX - a inspiração vegetalista e floral invade o campo e praticamente suprime a barra e o ornato central.
Posteriormente recorre-se à classificação por padrões: padrão geométrico, de influência hispano-mourisca; padrão floral, com ornatos vegetalistas mais ou menos estilizados; padrão de rosetas, com cor opulenta, grandes rosetas e personagens historiadas; padrão oriental, de bichos combinados com elementos florais; finalmente, padrão de ramagens, com o campo inteiramente preenchido por motivo floral.
Esta última classificação é, apesar de tudo, insuficiente, pois existem tapetes com grande número de sincretismos decorativos. Atualmente optou-se por valorizar individualmente cada exemplar, observando a sua decoração na globalidade, identificando o material, a técnica, a policromia e a densidade do bordado, de modo a tentar fazer uma correta avaliação do exemplar.
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Porto Editora – tapetes de Arraiolos na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-07 21:27:50]. Disponível em
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